Eu sei que há um limite para tudo

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Provavelmente eu dormi em algum momento, mas a minha mente continuava borbulhando os possíveis motivos para Gulf ter me beijado. Não era difícil ler intenção nas ações das pessoas, e eu era mais velho que ele, o que me trazia mais peso sobre o que eu fazia. Sim, eu fiquei surpreso, mas após sentir seus lábios em meu pescoço, confesso que já imaginava o próximo passo e eu não quis me afastar. 

Eu tinha dois pensamentos fluentes: o primeiro, era encontrar os motivos de Gulf e o segundo era me questionar sobre a sensação dos lábios dele nos meus. Decido recorrer sobre o primeiro, pois, considerando a forma estranha que Gulf estava no dia anterior, sua tensão, as perguntas acerca de minha orientação sexual, casavam com a minha conclusão, essa que cheguei depois de sentir que o corpo dele relaxou, sendo embalado pelo sono. 

Enquanto tomava meu café olhando para nenhum lugar específico da pequena varanda de Gulf, me pergunto se passamos os limites enquanto amigos. Talvez sim. Mas não era sobre isso, certo? Gulf estava apaixonado, ou pelo menos tinha sentimentos para com outra pessoa, e possivelmente, pela sua reação na noite passada, ele estivesse em dúvidas de como prosseguir e lidar com esse sentimento. Não era fácil para todo mundo entender sua própria inclinação, foi para mim, mas eu era adolescente com pais muito mais preocupados com a roupa que vestiam do que com as minhas escolhas amorosas. 

Tirando pela personalidade do mais novo, com toda certeza, ser impulsivo era sua marca. Ele podia até tentar analisar antes de efetuar algo, entretanto seu modus operandi era fazer e pensar depois. 

Uma movimentação chama minha atenção e encaro-o, seu rosto inchado e sonolento. Gulf lança um sorriso suave, sem nenhum traço de vergonha. 

- Bom dia. - Murmura se sentando a minha frente. 

- Bom dia, fiz seu café. - Coloca a sua frente o prato que preparei minutos antes. Recebo um sorrisinho como agradecimento. O observo atentamente e ele, seguramente, fingi que não está ligando. Depositando minha xícara em cima da mesa, me aproximo, sentando no banco a seu lado. Seus olhos curiosos pousam0 em mim enquanto suas bochechas estavam cheias. Ele realmente parecia um gatinho as vezes de tão fofo. - Temos de conversar sobre ontem. 

A seriedade da minha voz encontra os seus olhos, que perdem qualquer elemento de suavização anterior. 

- Eu não sei o que está passando pela sua cabeça, mas eu não quero ser seu experimento pessoal. - Ele engole a seco mas se mantem quieto. - Não pode fazer isso comigo, eu quero e posso te ajudar, mas tudo tem um limite. Sua atração por outra pessoa não vai ser concretizada por meio de qualquer um.

Aguardo, pacientemente, até que ele decida se manifestar, mas tudo o que recebo foi seus olhos castanhos encantadores em mim. 

- Eu acho que talvez você esteja confuso e tudo bem estar assim, pessoas têm processos diferentes. Mas eu prefiro que você fale comigo, não que procure falsas sensações em mim.

- E se elas não forem falsas? - Quase perco sua fala pelo barulho repentino de meu celular, mas eu escutei cada palavra, e não perdi o fato dele ter desviado seus olhos dos meus. 

- O que você esta fazendo? Perdeu o despertador? Temos exatamente um mês para esse desfile, aquele insuportável do Levis quer mudar três das coletagens de última hora porque ele errou na coloração. Você acredita que ele errou? Além do mais eu não sou designer, você é, e precisar estar aqui para olhar isso. Chegaram mais de duas mil caixas Mew! Anda logo antes que eu enfie a garrafa de café na garganta desse... Eu já disse para você ordenar os pedidos, está parado ai porquê? Seja o que está fazendo, pare e venha!  - A voz irritadiça de de Liz me alerta mais do que o problema em si. 

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