Então eu poderia pegar o caminho de volta

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A boca de Mew perturbava a minha de maneiras deliciosas. Seu corpo sobre o meu, me pressionando contra o sofá, era uma sensação que eu realmente gostava. Sentir sua pele enquanto as minhas mãos adentravam em sua camisa.  Após ele dizer sim, eu não me importei mais com nada. Minha cabeça reverteu toda a minha raiva e ranço da situação em que estava no momento em que Vou ser seu saíram de sua boca. 

A cabeça de Mew descansava sobre meu peito, com meus braços ao seu redor. Podia sentir sua mão acariciando a minha pele por baixo de minha blusa. Terminamos assim logo depois de um longo amasso. Ainda podia sentir o que seus lábios fizeram em meu pescoço. Mas tudo foi interrompido quando ele me perguntou se por acaso eu tinha lubrificante. Meu rosto esquentou com a pergunta porque eu devaneei de vergonha, ele me conhecia bem o suficiente para entender. Então, decidiu que era melhor ficarmos tranquilos. 

E talvez fosse melhor assim, porque eu ainda tinha muito em minha mente para questioná-lo. 

- Como funciona a relação aberta ? - Na verdade, eu não fiquei surpreso quando ele me contou. Mew tinha essa essência de quem não queria estar contido numa caixa normativa. Eu sempre soube disso. Mas nunca me passou que ele era adepto a relações abertas. E por mais que me incomode, o que ele disse era verdade. Eu não sou aberto o suficiente para tal coisa. E irritou cada parte de mim pensar que ele poderia se deitar com qualquer um. Ainda me incomoda, mas prefiro manter para mim mesmo. 

- Sabe, as pessoas tem uma visão muito retorcida do que é estar em uma relação aberta.  A monogamia é uma construção, todos nós crescemos numa sociedade culturalmente monogâmica e isso é reforçado pelo mundo do entretenimento, pelas artes. É ensinado que termos ciúmes é natural. Se eu te amo, eu apenas posso amar você. E eu tenho de ter esse pensamento de posse sobre a pessoa que amo. - Mew solta uma risada seca sem perder o ritmo dos traços invisíveis que seus dedos criavam em minha pele. Estar tão próximo dele, de uma maneira diferente das outras vezes, em que nosso toques eram mais reservados, quase me distraiu do que ele falava.  - Há essa ideia de que se eu amar alguém e sentir atração por outra pessoa, provavelmente eu não a ame tanto assim. Mas será mesmo que não podemos sentir amor por mais de uma pessoa ou não nos apegarmos aos ciúmes ?

- Nos é ensinado que o amor é egoísta Gulf. Que temos que fazer sacrifícios altos demais para amar. Isso é o chamado amor romântico. Amor é apego, ego faz parte dessa palavra, e pense comigo: o amor diz que sejamos felizes mas o ego diz , quero que me faça feliz. Você compreende ? 

Murmuro em resposta porque minha cabeça estava rodando com essa analise. Eu nunca parei para refletir sobre sentimentos amorosos. Isso não é uma pauta recorrente em minha vida, afinal, eu literalmente tive 3 pessoas, sendo apenas uma delas a longo prazo e não era necessário pensar sobre isso. Eu faço parte da norma. 

- Estar em uma relação não é sobre a nomenclatura e sim sobre pessoas. Só para você saber, relações não monogâmicas não necessariamente quer dizer relação aberta. Eu prefiro o modelo relação aberta, mas isso não signifique que não possa ser arranjado de outra forma. 

Mew levanta sua cabeça, seus olhos me analisando. 

- Tá me acompanhando ou estou soando como louco? - Seus grandes olhos estavam divertidos para mim, sorrio enquanto acaricio seus fios do cabelo. 

- Você está fazendo tanto sentindo que eu estou preocupado comigo. - Mew me devolve o sorriso antes de voltar a descansar sua cabeça em meu peito. - Então, você acredita que podemos amar sem se apegar ? 

- Quase. Quer dizer, existe amares, e sim, eu creio que posso amar uma pessoa ao passo que me atraio por outra. Numa relação monogâmica, o fato de sentir atração por outro fora da relação já me causaria uma culpa mental, fora da monogamia, eu entendo que meus sentimentos estão intactos, mas atração independe. E isso é natural. 

Havia um leve desconforto com esse pensamento, porém, não me deixo levar por ele. 

- Então, para você, transar com outras pessoas, está ok ? - Sua risada ressoa em meu peito. Mew aperta o meu quadril me trazendo mais contra seu corpo. Seus olhos levantam até  encontrar os meus, seus lábios esticados pelo sorriso.

- Sim. Mas não é como se eu fosse transar com pessoas diferentes todos os dias da semana. Não é assim que funciona G, pelo menos não para mim. 

Era errado eu estar na contra mão de seu pensamento? Quer dizer, eu estava entendendo, mas não cabia em mim essa forma de agir. A mera ideia de dividi-lo era irritante. 

- Você teve outra relação aberta depois de Hanna ? - Ele acena, sua mão sobe e ele começa a passar seu dedo indicador em meu queixo. 

- Sim, com o Nicki, faz um tempinho, mas eu gostava dele. Não estava apaixonado, mas achei que poderia vir a ser algo. Ele trabalhou comigo por um tempo, nossa relação era bem simples. Talvez o fator de não ter muitos sentimentos envolvidos tornou as coisas mais leves. 

- Como era ? Me explica! - Ok, eu queria saber cada parte das outras relações para poder entende-lo. E Mew parecia achar graça na minha cara porque não parava de rir.  - O que ? 

- Você fica fofo confuso. - Sussurra voltando a por seu peso em cima de mim. Enfiando sua cabeça em meu pescoço, sinto seus lábios brincando com a minha pele. 

- Mew é sério, eu quero saber. 

- Agíamos como um casal, éramos um casal. As vezes eu fodia outras pessoas, ele também. Teve a vez em que fodemos a mesma pessoa, isso foi engraçado. - Sua risada tornava sua fala tão leve que se não fosse o assunto em si que eu estava tentando saber, me deixaria levar. 

- Tipo, um ménage? - A surpresa exaltou de meu tom sem que eu percebesse. 

- Sim. Quer tentar ? - A disposição com a qual ele levantou sua cabeça para me olhar me deixou abismado. 

O encaro perplexo com sua proposta. Como um arranjo desses iria funcionar? Certamente teria que ter uma mulher entre nós, porque não me vejo atraído por outros homens. Mas também não quero transar com uma mulher, e com certeza, não quero vê-lo fodendo uma. 

- Eu estou brincando G. Pare de pensar como isso sairia. - Suspiro em alívio. Dou um tapa na testa de Mew pelo susto. - Você gostaria? De um ménage comigo? 

Não era preciso ele falar, seus olhos delataram seus pensamentos. E, ao mesmo tempo que fiquei decepcionado, também fiquei excitado. Que porra!

- Não. - Sua fala me frustra tão rápido, que sinto que em menos de dez minutos de conversa já passei por uma montanha russa de sentimentos mistos. 

Não sei como estava minha expressão, mas Mew se inclinou e me deu um selinho. 

- A questão G é que eu não quero dividir você na cama sendo que eu ainda nem o tive. - Não vou negar que sua fala preencheu meu peito de um sentimento que eu tenho vergonha de dizer em voz alta, mas seria categorizado como satisfação. 

- Então você está sendo possessivo? Isso é um contra discurso? - O provoco,  puxando-o para outro beijo. 

- Eu posso ser contraditório, sabia? - Rio entre seus selinhos repetitivos. 

- Pode? - Seguro seu rosto, o impedindo de me beijar. - Por que? 

- Porque eu sou humano, e pera aí, não era você quem me queria todo para si ? Isso é um contra discurso? - Antes de poder responde-lo sua boca cala a minha e eu não me esforço em impedi-lo. 

Eu não sei onde isso vai terminar, eu entendo a forma como ele pensa, mas não posso fingir que concordo completamente. Não dá para se desligar automaticamente de algo que é construído para que eu pense dessa forma. E eu tinha de admitir que não queria ceder. Sim, Mew chamaria meus pensamentos de possessivos, mas eu não quero ele com ninguém. E enquanto ele estiver de boas comigo, apenas comigo, eu vou aproveitar essas sensações novas que ele me causa. No entanto, não poderia esquecer a pequena e irritante voz na parte de trás de minha cabeça, alertando que, mesmo que por hora tudo pareça bom, uma hora ou outra, iria desmoronar. E havia grandes riscos de eu ser o machucado. 


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