Millie
Quando eu era pequena, minha mãe sempre me falava que um dia teríamos de tomar decisões em nossas vidas que mudariam todo o nosso caminho.
Eu não entendi de primeira, na verdade, custei muito a entender. Quer dizer, não tomamos decisões todos os dias?
Mas, agora que eu estou indo morar em New York com o meu primo, consigo entender totalmente essa frase.
Ela falava de outro tipo de decisões. Decisões com consequências piores ou melhores do que as consequências de decidir qual sapato calçar, ou qual roupa vestir.
Eu morava na Espanha desde que me entendo por gente, e agora a minha vida mudou completamente. E ao mesmo tempo que sinto um alívio imenso de ir embora do meu país natal, sinto um medo enorme. Nunca saí da minha zona de conforto e isso é assustador e excitante ao mesmo tempo.
Sinto um pequeno solavanco quando meu tio, David Harbour, estaciona o carro em frente a minha nova casa, ou melhor, novo apartamento. Eu vim para NYC para cursar direito. Consegui vaga em uma ótima faculdade e resolvi vim tentar a vida aqui. Irei dividir um apartamento com meu primo, Noah Harbour Schnapp, que aliás me odeia. Não sei exatamente como e nem porquê, mas sei que desde os meus nove anos ele me trata com grosseria e faz questão de demonstrar que não me quer por perto. É, dividir apartamento com ele não foi a melhor ideia do mundo. Mas é o que temos.
Desço do carro e ajudo meu tio com as minhas malas. Ele fecha o porta-malas e como se estivesse adivinhando o que eu estava pensando, me dá um abraço por cima dos meus ombros e tenta me acalmar.
- Calma, Millie. Não precisa ficar nervosa assim. Já passaram anos desde que você e Noah se encontraram. Tenho certeza que ele não te odeia, afinal de contas, vocês eram apenas crianças e tenho certeza que quaisquer conflitos que tenham acontecido, foram esquecidos. Fique calma, ok? - ele me puxou para um abraço e eu paralisei.
Não gosto de abraços. Não gosto de sentir mãos em mim. Sei que posso confiar em David mais do que tudo, mas, as coisas que eu já vivenciei ajudaram com que eu passasse a odiar qualquer tipo de contato físico com as pessoas ao meu redor.
Ele me solta do abraço e começa a caminhar para a portaria do prédio. Tio David fez questão de me trazer ao meu mais novo lar, mesmo eu dizendo que conseguia pegar um táxi e ir até o endereço que ele me passará. Sigo ele com algumas malas em mãos.
- Uau, isso aqui é gigante.
David da uma risada nasal.
- Noah é um pouco exagerado em relação a casas ou apartamentos. Sei que você iria preferir algo menor e discreto, vocês são pessoas completamente diferentes.
Eu que o diga.
Passamos pela portaria e tio David me apresentou para o porteiro e disse que eu era a mais nova morada dali. O Sr. Matthew era um velhinho com os cabelos grisalhos e a pele um pouco enrrugada. Ele me desejou as boas vindas e já pude perceber que irei fazer uma grande amizade com o porteiro. Talvez a única amizade que terei.
Entramos no elevador e subimos em direção ao décimo andar. Nosso apartamento era o de número 365.
- Noah, cheguei - Tio David coloca as chaves do carro em cima de um pequeno balcão que fica na cozinha e solta as minhas malas em cima do sofá - Venha dar as boas vindas para Millie!
Coloco as minha malas em cima do sofá e começo a estalar os meus dedos. Esse é um
hábito que eu tenho sempre que estou nervosa. Morder o lábio também é um deles.Noah sai de dentro de uma porta que fica de frente para outra. Ele está sem camisa e com uma calça de moletom. Sua cara não é das melhores do mundo. Logo atrás dele está tia Nona com um sorriso enorme.
- Millie, querida! - ela vem em minha direção e me dá um abraço apertado. Apesar do desconforto retribuo o abraço, por ela. - Quanto tempo minha flor, você está tão grande e tão linda.
Ela passa as mãos em meu rosto e faz um pequeno carinho em minha bochecha com o seu polegar. Com o mesmo jeito e o mesmo sorriso da minha mãe, tia Nona me dá um beijo na bochecha, e, depois de nove anos da morte de minha mãe, foi a primeira vez que eu me senti acolhida por uma pessoa que eu sei que me ama profundamente. E eu sinto como se fosse a minha mãe.
Não posso evitar que meus olhos se encham d'água. Já fazem nove anos, mas a lembrança de tudo sempre dói como se fosse a primeira vez, como se eu fosse a mesma garotinha frágil, que acabara de saber que teve um pedaço seu arrancado, bruscamente. E na verdade, no fundo, acho que ainda sou.
Respiro fundo e não deixo isso me abalar. Não posso mostrar a eles a garota fraca que tem aqui, agora, pelo menos uma vez na minha vida tenho que mostrar que eu também posso ser forte.
- A senhora também está linda tia - sorrio para ela - Parece que o tempo só te faz bem.
- Não fica falando essa coisas, Millie - Tio David olha para mim - Mais tarde ela fica de gabando.
Dou uma pequena risada.
- É bem a cara dela fazer isso - digo sorrindo.
- Ei, vocês dois, querem parar? - ela nos olha uma cara de indignada - Noah, venha aqui falar com Millie e dar um abraço em sua prima
Ele me lança um olhar de morte e entra para dentro do quarto. A porta bate com tanta força que consigo ver um quadro da parede tremendo.
- Noah Schnapp, volte aqui agora!
Tia Nona faz menção de ir para o quarto, atrás dele, mas seguro o seu braço.
- Tia - sorrio sem graça - Não precisa. Ele tem todo o direito de estar bravo, afinal estou chegando em seu apartamento e talvez seja difícil para ele aceitar.
Ela me lança um olhar de pena e assente. Ela deixa um beijo em minha cabeça e me abraça mais uma vez.
(...)
Já era a noite quando terminei de colocar todas as minha coisas em ordem. Não estava com fome, então peguei as minhas coisas e fui ao banheiro tomar banho. Estava muito cansada e só queria uma noite de sono.
Tia Nina e tio David tinham ido embora assim que viram que eu já estava confortável o suficiente com toda essa situação. Na verdade eu não estava, só era uma boa atriz mesmo. Eu não estava nem um pouco confortável de vir morar com meu primo.
Quando saí do banheiro, já vestida com o meu pijama de gatinhos, vi Noah parado em frente ao seu quarto, que era do lado do banheiro e de frente para o meu, me encarando profundamente e, sinceramente, se olhar matasse eu já estaria morta.
Ele caminhou até onde eu estava e parou bem na minha frente. Céus, esse garoto é gigante, ou talvez seja eu quem não tenha crescido.
- Você pode sair do meio? Preciso usar o banheiro e com você bem na entrada, não poderei liberar o xixi que está preso em minha bexiga.
Dei um passo para o lado um pouco assustada com a sua voz intimidadora.
Ele entrou no banheiro e bateu a porta com força. Soltei um longo suspiro e caminhei até o meu quarto. É, não vai ser nem um pouco fácil morar em New York.
Notas Finais;
Oii, eu espero que vocês gostem da estória, eu e a DudaWolfhard__011 estamos nos dedicando muito, e estamos realmente animadas e ansiosas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Stand Out - Fillie
RomanceCidade nova, pessoas novas, ambiente escolar novo. Isso para muitas pessoas pode parecer a pior coisa do mundo, mas para Millie não, bom, pelo menos não tanto. Após os piores acontecimentos de sua vida, tudo o que ela precisa é de um recomeço. Um re...