3.2

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Millie 

- Você não acha melhor irmos para a minha casa? - Finn pergunta, tirando meu foco, que até então estava na estrada.

- Como? - Eu tinha ouvido sua pergunta, mas não estava certa se tinha entendido de fato o que ele quis dizer.

- Desculpe, Mills, não quero forçar nada, juro.

- Oi? Não, Finnie, eu só não entendi bem o que você quis dizer.

- Ah, sim, é que, você está com a roupa que vai para a faculdade aí na bolsa, e como temos que tomar banho, pensei que seria mais prático se você fosse para a minha casa, então depois, iriamos direto para a aula, os dois, entende? Logo, eu não teria que te deixar na sua casa, ir para a minha, depois te buscar, e só então, irmos, porque poderíamos até nos atrasar.

Ah

- Uh, okay, sem problemas, gasolina tá cara, né? - Falei, soltando uma risadinha, um pouquinho nervosa.

Acho que Finn percebeu, pois deixou escapar uma gargalhada. — Mills, fica de boa, tá bom?

Assenti, ainda nervosa...vai que os pais dele estão em casa? Ainda é bem cedo, eles devem estar tomando o café da manhã. Não tenho certeza se quero encontrá-los.

Eu e Finn sequer somos alguma coisa. Quer dizer, óbvio que gosto dele, gosto muito dele, e sei que ele também gosta de mim, pelo menos é o que ele diz e demonstra. Mas, oficialmente, não somos nada além de amigos, então, conhecer os pais não estava realmente nos meus planos.

Claro que têm chances de eles nem estarem lá, mas como sou eu, já tenho que ir me preparando para o pior e mais constrangedor cenário.

- MILLS - Finn fala um pouco alto, me tirando dos meus pensamentos ansiosos.

- Oi, Finn. Desculpe.

Finn me olha, rápido, parece querer perguntar algo, mas não o faz. Dou de ombros, voltando a ficar calada.

Não penso mais sobre os pais dele, nem sobre o que nós dois somos (nesse caso, o que não somos), porque percebo que estou exausta.

Não me leve a mal, o fim de semana foi ótimo, não estou nem perto de estar reclamando. Mas me sinto cansada agora.

Fico cansada só de pensar que mais tarde, quando o dia acabar e eu tiver que voltar para a "minha casa", o mundo estará desabando sobre meus ombros, mais uma vez. As lembranças estarão comigo de novo, me lembrando que: por melhor que tenha sido meu dia, eu ainda sou uma garota sozinha, mesmo que rodeada de pessoas. Eu ainda sou a garotinha assustada que pisou em New York na esperança de que algo mudasse. Ainda sou a garota que o universo resolveu punir.

Eu tive progresso, sei disso. Quer dizer, já fiz coisas aqui que nem passavam pela minha cabeça, tenho coisas aqui que nem se passavam pela minha cabeça.

Jack está aqui. Eu fiz amigos aqui, amigos que eu já amo muito. Finn está aqui. Céus, eu fui até para a balada...

Mas não é o bastante. Eu estou disposta a melhorar mais e mais, porém não é tão fácil quanto parece. Não faço ideia do que falta para que eu pare de me sentir assim, não sei quando alguma coisa será suficiente, não sei se alguma coisa, algum dia, será suficiente.

Mas como sempre, eu me agarro com todas as forças à esperança de que sim. De que um dia, alguma coisa preencha esse enorme vazio que eu ainda sinto todas as vezes em que levanto ou que me deito na cama.

É muito contraditório que eu esteja esse caos emocional hoje, quando ontem eu estava tão bem.

Mas é sobre isso que a vida é, pelo menos a minha. Eu já vivo nessa montanha russa emocional há muitos anos, mas agora, ela pelo menos alcança o topo de vez em quando. Com bem mais frequência do que antes.

Stand Out - FillieOnde histórias criam vida. Descubra agora