Mascarado - KakaIru

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Os cabelos castanhos estavam amarrados como sempre, os olhos da mesma cor já não tinham mais aquele brilho de empolgação pelo trabalho e sim apenas um cansaço excessivo de alguém que jogaria os livros e a mochila que estava em seus braços e ombros em qualquer canto de sua casa e iria direto para a cama dormir. Já não lembrava em nada aquele jovem recém formado de meses atrás empolgado com seu trabalho e vida. A cicatriz em seu nariz e bochecha trazia um contraste em sua pele bronzeada. Aquele detalhe em sua face o dava um ar de ser uma pessoa dura, porém essa primeira impressão ia por água abaixo nas conversas iniciais.

Era alguém bom de ser ter ao lado, apesar de sempre seguir as regras e não gostar quando pessoas em seu convívio faziam pouco caso à isso.

A caminhada até sua residência após deixar o colégio que lecionava poderia ser mais traduzida a um arrastar de pés, pois nem se dava ao esforço de levantá-los. Os braços doíam pelo peso que carregava, a cabeça latejava e sabia que sua dor psicológica era muito superior a física.

Estava tão perdido em seus pensamentos que nem notou que aquela noite que até então era silenciosa agora tinha um ruído bem próximo de si, conversas ou coisas parecidas, nada importante para que alguma atenção de sua parte fosse dada. Os sons ficaram cada vez mais próximos, isso foi o suficiente para esquecer qualquer dor e lembrar-se da região que morava, não poderia se dar o luxo de não ficar atento a qualquer perigo noturno.

Foi pego em completa surpresa quando sentiu dois braços fortes atrás de si prender seu corpo. Estava preso e tão rápido que deixou cair tudo que tinha em mãos no chão. Se repreendia milhares de vezes em sua cabeça por ser tão descuidado. Não conseguia ver o rosto do seu agressor, mas sabia que ele não estava sozinho, eles nunca estavam.

- Passa tudo. — Ouviu a voz masculina lhe dizer, um tanto abafada por uma possível máscara, então provavelmente nem poderia ver seu rosto ou sequer saber sua identidade.

Poderia rir e falar: "Oras, sou professor, sabes quanto é o salário de um? Se tenho vinte reais no bolso é muito", entretanto sabia que aquele não era o momento mais apropriado para libertar seu lado piadista.

Mais uma figura máscara apareceu em sua frente, mesmo com certa escuridão pode ver que eram quase da mesma altura e pela estrutura física não deveria ter mais do que quinze anos. Isso lhe trazia um gosto amargo na boca, pois se não tivesse corrido atrás de seus estudos após ter perdido seus pais em uma fatalidade, provavelmente poderia ser um daqueles rapazes.

Moveu a mão até o bolso da calça indo pegar seu único dinheiro e seu celular, mas o movimento repentino assustou o rapaz que estava o segurando por trás e em segundos sentiu algo afiado e gélido passar em seu abdômen. A camisa rasgou imediatamente, porém pouco se importava com o tecido e sim com o líquido quente que começou a sujá-la.

Tudo aquilo tinha acabado, sua vida que há poucos segundos reclamava, agora gostaria de ter aproveitado mais. Tarde demais para arrependimentos, deveria tentar sair daquela situação, mas seu cérebro não trabalhava ao seu favor.

Apertava seu ferimento com uma de suas mãos tentando controlar o sangramento, estava com as pupilas ainda mais dilatadas, imóvel e completamente sem ação para sair daquela situação. Os dois rapaz discutiam entre si e podia ouvir coisas como: "idiota, não era para atacá-lo!", entre outros barulhos que aos poucos eram apagados por um muito mais forte, o som de seu próprio coração acelerado. Fechou os olhos tentando se concentrar e encontrar uma saída para aquilo. O que veio em seguida nem conseguiu acompanhar e nem entender. No mesmo instante que sua visão ficou escura ouviu um som áspero e afiado cortando o ar, temeu outro golpe com aquela lâmina em sua barriga, mas o ataque não chegou. A única coisa que sentiu diferente em seu corpo foi o aperto dos braços do mais novo se soltarem e sentir-se novamente livre. Poderia correr dali agora, mas não era como se tivesse controle de suas pernas.