"Meu"

690 23 37
                                    


A rotina retornou ao "normal", se é que algum dia na vida de ambos aquilo de fato havia existido entre eles. Por exemplo, acordavam, Iruka ouvia reclamações e recebia ameaças de ser atingido pelo travesseiro se continuasse a acordar tão cedo, vez ou outra ganhava a ilustre companhia de alguém resmungando na mesa para tomar café, recebia um beijo de despedida e seguia para o Colégio; durante os dias mais folgados retornava para casa almoçar com Kakashi, visto que deveria ser solitário ficar sozinho, mesmo que Pakkun fosse eficiente em ser uma boa companhia e passar o tempo rapidamente.

A ideia de ter um cachorro nunca realmente foi ponderada por si mesmo. Gostava, mas não se aprofundava nisso a ponto de querer um para chamar de seu, no entanto, após a disputa entre eles ter diminuído um pouco e as diversas que Pakkun procurou-o para ficar deitado e dormir, admitiu que aquilo seria bom para todos. Kakashi estava visualmente mais feliz quando brincava com ele, saia para caminhar pequenas e longas distâncias, então estava sendo um bom companheiro no fim de tratamento. Além disso, a energia da casa se renovou com o novo integrante. Iruka não poderia reclamar disso.

O cachorro logo no segundo dia ganhou uma cama especial, alguns brinquedos que Kakashi fez questão de comprar e Iruka apenas se mantinha alheio a aquilo com os braços cruzados e o pensamento de que namorava uma criança.

Foi acordado pela manhã com alguma coisa passando sobre a calça do pijama, pensou que era Pakkun que de alguma maneira conseguiu subir na cama e estava os acordando, porém a forma como lhe tocava estava delicada e específica demais para ser o cachorro. Diante disso, abriu os olhos em choque e ergueu seu tronco ficando sentado encarando a mão de Kakashi repousando ali, ele deitado, braço dobrado embaixo da cabeça apoiando no travesseiro, sorriso travesso e um olhar de alguém que há minutos estava brincando na região até que o professor acordasse por si só.

- Que merda estás pensando fazendo isso em mim?

- Pensei que estava sendo claro no que eu quero. — Mordiscou o lábio inferior nada inclinado a retirar a mão, motivado demais para desistir e obstinado a continuar o seguimento do plano. — Preciso dizer-te com todas as palavras, Iruka? Acordei cedo hoje apenas para isso.

Iruka julgava impossível que um dia acordaria sem surpresas vindas do parceiro, coisas simples e que nenhum outro era capaz de o fazer, como por exemplo, o preguiçoso que se enrolava diversos minutos na cama resmungando e até o ameaçando com o travesseiro, fosse acordar cedo por um motivo daqueles.

Chegava a ser insensível de sua parte recusá-lo tanto, inclusive se considerava alguém inabalável após tantos dias recorrendo aos banhos sozinhos e com a mente focada em não se alongar nos beijos ou deixar que as mãozinhas perigosas do homem percorressem e explorassem demais seu corpo.

Sua vontade era simplesmente descartar as roupas junto com seu senso, depois pensar no estado de saúde dele, apenas focar em levá-lo ao êxtase e ficar quase desmaiado na cama pelo trabalho bem feito. Entretanto, ao mesmo tempo, continuava sendo consciente e possuía receio de qualquer coisa com ele.

Na realidade, desde o instante que retiraram os remédios e não retornou do coma, um genuíno medo e sentimento frio apertava seu peito apoderando de todo o corpo. Mesmo ao abrir os olhos e há dias estar em casa novamente, o receio de simplesmente acordar pela manhã e ele estar sem reação rondava-o. Kakashi sequer suspeitava disso e o moreno não queria lhe contar seus medos.

- Não, Kakashi. — Firmou a mão contra o pulso e o afastou repousando sobre a barriga dele. — Sinto que vou te machucar, e se você sentir dor eu sinto-me culpado, então não vamos fazer nada.

Aceitou mais uma vez, se manteve imóvel vendo Iruka se distanciar da cama, abrir uma porta do armário e pegar algo de dentro retornando até ele.

Mascarado - KakaIruOnde histórias criam vida. Descubra agora