· Amberly narrando ·
Isso não poderia estar acontecendo comigo.
Não tenho condições de ter nem um apartamento ou comida e nem sei me cuidar sozinha. Joguei o teste no lixo do banheiro da farmácia e saí andando com as mãos no bolso do moletom que estava usando, que era quase duas vezes maior que meu tamanho por ser do Zayne. Minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos enquanto seguia para onde meu namorado havia estacionado o carro, já não podíamos estacionar em uma vaga normal pelo carro ser roubado, então ia me guiando pelas ruas estreitas de Nova York. Nenhum de nós avia passado por uma situação assim, mas não é de se esperar que aconteceria uma hora ou outra.
É bem comum o assédio ou o estupro nas classes mais baixas, mas não imaginava que algo assim poderia acontecer comigo, não com Zayne ao meu lado, mas nem sei se ele está sabendo do ocorrido. Talvez ele não precisasse saber. Eu provavelmente estava nos primeiros meses, muita coisa poderia acontecer. Só me preocupava em como iria sustentar uma criança ou como iria pagar uma consulta com um médico. Não é justo pagar quase 2000 dólares em uma ambulância. Queria que o sistema de saúde fosse disponível para todos, mas não vai ser do nada que o governo vai mudar isso. São apenas 9 meses, o tempo passa voando, vamos pensar positivo.
Quando entrei no carro do Zayne não sentia a mesma coisa. Eu queria contar pra ele, realmente queria, mas não queria assusta-lo. Ele me perguntou se eu realmente tinha comprado remédio para dor de cabeça, que eu havia mentido só para ir na farmácia, e eu cheguei a dizer que era muito caro. Desculpa ruim, eu sei, mas foi a única desculpa que arranjei no desespero.
Outra lembrança...
Odiava lembrar daquilo, com certeza a pior experiência da minha vida. Eu havia sido estuprada por um dos amigos do Zayne depois de uma festa, nunca mais conversei com ele depois disso. Zayne nem soube, ele apenas estranhou meu comportamento. Eu continuei a ver esse amigo apesar de todo o trauma. Ninguém ficou sabendo do que tinha acontecido, ninguém sequer notou. Eu odiava ir a essas festas, eu sempre passava mal com o cheiro de álcool junto com qualquer droga que traficavam ali.
Sempre andávamos em conjunto com três garotos e uma garota, todo mundo nos conhecia. Havia o Malik, garoto baixinho, cabelo escuro, pele morena e olhos verdes. Havia o Clark, aquele tipo de garoto que assustava a todos, super hetero e sarado, mas com pequenos cachos de cabelo ruivos, normalmente ele estava sempre queimado de Sol, com uns olhos bem sem graças. Havia a Eleanor, a única que consegui me dar bem, porém namorava Clark, cabelos loiros com uma pele mais morena. Por último, Derek, um garoto bem inteligente e engraçado quando está sóbrio, tinha um cabelo descolorido por causa de uma aposta que fez com Clark e teve um cabelo estilo "tijelinha" até uns anos atrás.
A gente tinha conhecido o garoto que me estuprou uns dias antes com uns traficantes. Ele era um pouco mais alto que Zayne e incrivelmente bonito pra um traficante. Constantemente olhava pra mim, puxava assunto, não parecia que ia fazer alguma coisa assim. Foi eu baixar a guarda por 5 minutos e ele me trancou em uma sala escura.
Quando notei estava pensando deitada num colchão e quase bati o rosto na parede da minha frente. O tempo passa muito estranho aqui em baixo. Eu e Andrew tivemos que nos separar já que nos dividiram com base no gênero. Ordens do próprio líder. O colchão não era um dos melhores, mas já é melhor do que ficar deitada no chão sujo. Eu vivia me perguntando: o que diabos eu estava fazendo ali? Minha vida virou de cabeça pra baixo em uma noite.
De repente senti uma leve cutucada nas minhas costas. Um dedo pequeno, de criança, tocava meu ombro delicadamente, como se quisesse chamar minha atenção, mas sem me machucar. Quando me virei era Mei, a garota que tentava me levantar do chão no caos. Ela segurava uma pilha de cobertores nos braços e mostrava um apontado na minha direção, ela queria que eu pegasse.
─ Mei, não é? ─ Perguntei com uma voz rouca.
Ela só balançou a cabeça concordando e colocou o cobertor em minha frente. Me sentei e olhei para ela, parecia assustada, confusa e perdida. Ela ainda não chegou a me dizer o que aconteceu com seus pais ou por quê andava sozinha, estava começando a me preocupar.
─ O que você ta fazendo? ─ perguntei pegando o cobertor.
─ Estou distribuindo cobertores, essa época do ano sempre faz frio ─ ela era esperta. Ainda bem que se preocupava com os outros. ─ E como você é uma das que precisam de ajuda extra, eu estava dando um pra você, mas fiquei olhando você enquanto dormia um pouco.
─ Obrigada, Mei. Você dormiu?
─ Não, eu fiquei com frio e achei que mais gente poderia estar. ─ Ela cochichava baixinho com uma voz doce e fina enquanto distribuía mais cobertores pela sala.
Mei tinha um bom coração, parecia que íamos nos dar bem. Depois que ela distribuiu até acabar, voltou até mim e sentou na minha frente. Ficamos nos olhando por um tempo, lancei um sorriso sem graça, seus olhos puxados eram o que mais destacavam. Quando eu era menor, achava crianças, bebês, de olhos puxados a coisa mais fofa do mundo. Na escola até cheguei a ter uma quedinha num menino japonês da minha classe, Zayne costumava ficar com ciúmes.
─ Eu posso dormir com você? ─ Mei perguntara.
─ Claro, por que não? ─ deixei um espaço do colchão para Mei, que logo se ajeitou e deitou.
"Obrigada" foram suas últimas palavras antes de adormecer.
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I Think We're Alone Now - Temporada 1 (CONCLUÍDA)
ActionPRIMEIRA TEMPORADA DA SÉRIE I Think We're Alone Now PLÁGIO É CRIME! Inspiração: Manto e Adaga (2018) e The Gifted (2017) No ano de 2013, Amberly VanCite, uma garota que acaba de fazer 18 anos, se vê numa situação precária, dependendo do furto para s...