· Amberly narrando ·
Acordei num hospital
Eu não estava entendendo nada. Só lembrava do que tinha acontecido no dia anterior quando aquele garoto me jogou contra uma parede. Eu estava com uma faixa na cabeça e um negócio no pescoço que me impedia de mexe-la, além de um aparelho conectado na minha veia. Me sentia presa de novo, só que dessa vez o lugar era bem mais bonito. Acho que eu prefiro ficar aqui mesmo, o leito é melhor do que o assento do carro. Um pouco depois um homem velho, praticamente careca, entrou no cômodo que eu estava. Estranhei um pouco no inicio por causa de seu jaleco branco, mas com pouco tempo já fui deduzindo de que era o médico.
─ Levou uma pancada forte, o que fazia? ─ ele me perguntava enquanto olhava alguns papéis em sua prancheta, só espero que não seja uma lista muito grande.
─ Quem é você? ─ perguntei mesmo já sabendo sua profissão, mas não poderia ficar parada e não saber sequer um nome.
─ Meu nome é Lincoln. Lincoln Parker. Sou o médico que vai te atender ─ ele me respondia pacientemente, como se espera de um médico.
─ Faz quanto tempo que estou aqui? ─ tentava olhar para os lados, porém a faixa macia ao redor do meu pescoço me impedia.
─ Dormiu por umas dezessete horas seguidas. Faz quanto tempo que não dorme assim? ─ ele disse virando as folhas. Dezessete horas, eu não precisava dormir tudo isso e nem queria. Tinha levado uma pancada na cabeça, era impossível acordar cedo.
─ Puta merda ─ tentei levantar, mas lembrei dos aparelhos em mim e desisti. Não sei como pagar isso.
Lincoln chegou a me fazer várias perguntas. Qual era o meu nome; se eu tinha meus documentos; perguntou se eu tinha alguma família pra quem pudesse ligar, ninguém, e eu e Zayne não temos nenhum número de celular, o que dificultava na nossa comunicação. Cheguei a dizer meu nome verdadeiro mesmo, minha cabeça doía tanto que nem consegui pensar em criar um nome falso no momento, mesmo que seja fácil. Agora que passava pela minha cabeça... como eu tinha ido parar ali?
Depois que o médico saiu, vi pelo vidro da porta o garoto que eu tentei roubar ontem. Ele provavelmente já deve ter contatado a polícia pelo furto e realmente é o mais óbvio a fazer. Não tinha como pagar. Eu sei que roubar é crime, mas esse garoto não poderia ser piedoso com uma mera garota de rua? Sim, eu tenho um lugar medíocre para ficar, mas ter uma certa moradia não é um pedido para me mandar para a prisão. Pior do que a prisão apenas um hospital onde teria que pagar com que eu não tinha.
O tal do Andy da festa chegou a entrar com a permissão do médico. Seu cabelo havia mudado de cor, e que mudança de estilo rápida. O branco combinou muito mais com a roupa, mas havia ficado estranho de todo jeito. Achei meio invasão de privacidade deixarem um desconhecido entrar aqui sem a minha permissão, ele é o motivo de eu estar aqui.
─ Se for me prender, não me olha com essa cara de bunda ─ minha boca abriu uma linha fina enquanto olhava pra ele, eu não o devo nenhuma satisfação.
─ Calma, eu só vim conversar ─ ele afirmava, se eu não tivesse quase furtado sua carteira acho que eu teria mais moral para manda-lo embora. Deixei-o se acomodar para discutir qualquer que seja seu papo.
Se ele estava com dó de mim era só me entregar o dinheiro que ele tem na carteira e o cartão com o número. Acho engraçado que primeiro ele me machucou, me jogando contra a parede, e depois vem tentar fazer amizade. Seria legal da parte dele se me tirasse daqui e fingir que isso nunca aconteceu. Pensava em cruzar os braços, mas esquecia do tubo preso na minha veia. Tubo de merda. E ainda tinha essa merda de faixa no topo da cabeça e o troço no meu pescoço. Não tinha como sair correndo e fugir de todo jeito. Estava presa pela segunda vez na vida.
Ele pediu pra eu ficar calma e disse que pagaria o hospital, pelo menos ele serve para alguma coisa. Falou que pesquisou um pouco sobre o que tinha acontecido entre eu e ele. A única coisa que achou foram dois antigos mutantes que tinham se conhecido da mesma forma que eu e ele nos conhecemos, e ele ainda acha que não é coincidência. Talvez quase me explodir não seja coincidência.
─ Sossega, vai. Se pagar toda essa merda eu te perdoo de verdade ─ declarei esperando que ele concordasse.
─ Você tem onde ficar? ─ perguntou com certa preocupação sobre mim, ninguém nunca tinha feito uma cara assim.
─ Tenho, mas você não deve gostar ─ ele sabe que não tenho uma casa como a dele e condições como as dele. Ele sabe que não vai gostar.
Ficamos nessa conversa chata até ele concordar que iríamos esquecer aquilo. Não parecia estar satisfeito com o resultado, mas acabou aceitando de todo jeito. Perguntou se podia me ajudar de algum jeito, perguntei se ele podia me dar a carteira de novo, mas obviamente recusou.
─ Qual é seu nome? ─ perguntei na cara dura senão nunca ficaria sabendo.
─ Andrew ─ ele respondeu inocentemente. ─ Você é Amberly, certo?
Andrew era inocente demais pro meu gosto. As vezes as pessoas tendem a ser burras e acabam fazendo coisas idiotas, tipo terminar nessa situação e pagando o hospital de uma desconhecida. Queria sair logo dali pra finalmente poder voltar a minha vida de lixo melhor do que presa a um hospital. Me perguntava se Zayne estava preocupado comigo com esse tempo fora, espero que sim.
Lincoln entrou no quarto novamente junto com sua prancheta e suas folhas de papel. Ele usava um óculos engraçado, a armação era redonda e preta. Tinha a expressão séria e preocupada, nada esperado de um médico. Se minha vida já não estivesse tão ferrada eu acho que me preocuparia.
─ Tenho algo muito sério a te falar ─ ele disse se virando a mim. ─ Você pode deixar ele ficar ou pode deixa-lo esperando la fora ─ ele tinha me dado duas opções, acho que não teria problema em deixar Andrew ficar. Não tem como ficar pior.
─ Ele pode ficar ─ afirmei.
Lincoln primeiro pegou a prancheta e se virou pra mim. De inicio fiquei com um certo medo do que seria, não me vinha nada na cabeça sobre o que poderia ser ou se era grave. Pode ser algo bem simples também... Não, ninguém apareceria dizendo "tenho algo muito sério a te falar" sem estar sério. Pode ser muitas coisas, coisas piores.
─ Primeiro de tudo ─ ele olhou pra mim ─, qual seu sobrenome?
─ VanCite pelo que sei, nomezinho esquisito ─ desprezava.
Andrew me olhava e depois olhava para o celular, depois de volta pra mim e depois para um ponto no meio do nada com uma cara de que tinha acabado de resolver uma charada. Comecei a estranhar, ele era louco?
─ Temos o mesmo sobrenome... ─ ele me encarava.
─ E? ─ virei o rosto.
─ Amberly ─ me virei para Lincoln. ─ Você está grávida ─ ele me mostrou a prancheta, que peguei na hora. Não podia ser, por que agora?
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I Think We're Alone Now - Temporada 1 (CONCLUÍDA)
ActionPRIMEIRA TEMPORADA DA SÉRIE I Think We're Alone Now PLÁGIO É CRIME! Inspiração: Manto e Adaga (2018) e The Gifted (2017) No ano de 2013, Amberly VanCite, uma garota que acaba de fazer 18 anos, se vê numa situação precária, dependendo do furto para s...