· Amberly narrando ·
Passei esse tempo em que Andrew esteve fora para mergulhar em meus pensamentos. As vezes imaginava apenas eu e Zayne com a nossa família, felizes passando a nossa vida como pais em uma casa na beira de um lago. Claro que nada que eu imagino vem a acontecer na realidade, é muito improvável, mas não custa sonhar, não é mesmo? Acho que meus dias de sossego acabaram no dia em que meus tios foram mortos, no dia do acidente. Faz muito tempo que eu consegui ficar de mente vazia apenas sentindo a brisa pelo corpo ou os raios de Sol no rosto. O que eu mais queria agora era conseguir dormir de mente vazia.
Passei um tempo observando o relógio. Contava os segundos até o próximo minuto e contava os minutos até a próxima hora. Eu sei que eu podia sim fazer algo de útil, como ajudar outros daqui ou procurar ordens, mas eu simplesmente não conseguia sair dali, não tinha coragem o suficiente pra sair do quarto. Eu queria conversar, conversar com qualquer um, Mei, Janet, Andrew, qualquer um. O silêncio ficava agonizante. Falando em Mei, será que disseram sobre o experimento pra ela? Ou sobre seus pais? Eu não sei, mas quanto maior o tempo que levarem pra contar pra ela melhor.
Comecei a ficar com fome, de novo, daqui a pouco eu vou acabar com todo o estoque de comida. Apesar da gravidez de trigêmeos, minha barriga não crescera muito. Tinha medo do futuro, com uma pontada de curiosidade, de quando eu não conseguisse mais esconder. Eu não teria força o suficiente para um parto normal, esse pensamento me assustava. Meu coração parecia se apertar quando ouvia a probabilidade de morte. Eu não sei. Não quero acabar como a minha mãe, morta, quero viver, ainda tenho muito tempo de vida, ainda não experimentei diferentes tipos de comidas, pratiquei esportes, estudei... Eu quero viver.
Passava tentando parecer invisível perto dos outros. Eu sempre fui invisível pela maior parte da vida, por que agora eu chamo atenção mesmo não querendo? Por ser filha do líder talvez. Queria ter nascido em outra família, pelo menos assim eu teria uma vida melhor.
Eu poderia ir treinar nesse tempo. Meus poderes... Eram por eles que eu estava aqui, não? Eu sempre senti que eu e Andrew temos uma ligação, até antes de conectarem nossas mentes, agora até ele sabe usar o meu poder e eu não. Ele também tem ido mais aos treinos do que eu, pode ser isso. Teleportar... não parecia tão ruim.
─ Olha por onde anda ─ esbarrei em Janet sem querer. Esqueci que caminhava até a dispensa procurando por comida. Me perdi nos meus pensamentos do momento em que Andrew saiu do quarto até Janet me trazer de volta ao mundo real. ─ Ah, é você. Precisa de ajuda em algo? ─ Paramos e nos entreolhamos.
Janet. Janet Diaz. Sinto que ela não tem muita prática em se aproximar de pessoas, porém quer muito se aproximar de mim. Vejo-a sempre cheia de tarefas, para ocupar a mente. Ela parece decidida de tudo, seu futuro, seu presente e passado. Sempre pensando em tudo, admiro isso. O jeito que andava, o modo que suas palavras saíam, soava como se quisesse parecer jeitosa.
─ Fui procurar algo pra comer, eu consigo chegar la sozinha. ─ Garanti e continuei andando.
─ A dispensa fica do outro lado. ─ Ela apontava pra direção.
Engoli seco. Eu realmente não prestava atenção no meu rumo.
─ Quem garante que não tenha um caminho por esse lado? ─ Continuei pelo caminho que deduzia ser o certo.
─ Estou aqui a muito mais tempo que você, eu sei quais são os atalhos e onde eles nos levam. Garanto que não tenha nenhum por aí. Posso te guiar ao caminho certo.
─ Você deve ter coisa mais importante pra fazer.
─ Na verdade não. ─ Ela se juntou a mim e caminhamos para o lado oposto.
Ela me guiava com uma expressão neutra na face. Nem brava e nem séria demais. Acho que nunca tinha visto Janet sorrir, não pelo menos perto de mim. Será que ela nasceu assim ou foi se tornando com o tempo? Sei la... não dava pra saber o que se passava na cabeça dela.
─ Uma das grandes vantagens dos meus poderes, é ler a mente das pessoas ─ ela olhava pra frente. Encarei surpresa. ─ Eu sorrio sim, só não preciso parecer uma retardada para todos toda hora.
─ Desculpa... me veio a dúvida. ─ Encarava o chão, envergonhada.
Andar ao o lado dela era até reconfortante, assim a atenção não vinha apenas para mim. Ela parecia quente, mas aparentava calma. Parecia que estava com o coração acelerado ou algo assim, ela sabe controlar perto dos outros. Seu cabelo era macio, tinha vontade de tocar, acariciar... Meu Deus, que merda eu estava pensando?
─ Come alguma coisa saudável, faz bem. Tem umas frutas naquele refrigerador ─ ela apontava. ─ Talvez depois dos seus anos comendo aquelas merdas baratas, pode começar a comer algo bom de verdade. ─ Ela ia me guiando pelo lugar, bem grande pra armazenar comida, um estoque.
─ Mas as merdas baratas eram boas e enchia a barriga. ─ eu contradizia.
─ Se continuar assim, vai morrer com 40 anos de AVC ─ ela ameaçava enquanto me dava uma maçã. ─ Come, já ta lavada.
─ E desde quando se importa? ─ Mordi a maçã.
─ Desde sempre, não nota? ─ ela perguntava. ─ Acha que eu sou tão fria assim?
─ Você não sorri, você não ri, você não se diverte, você só segue ordens dos outros. ─ Mordi a maçã que me deu.
─ Então é essa a visão que tem de mim? Legal, interessante ─ riu sarcástica. ─ Já fiz varias coisas por você, Amberly, mas seu ego é apenas grande demais pra notar. ─ Ela saiu uma pilha de nervos.
Eu não entendi o que eu tinha feito de errado, era tão fácil irrita-la assim? Se eu resolvesse as coisas desse jeito acho que muita coisa nem teria acontecido e eu não estaria aqui. A impressão calma que eu tinha dela acabou de ir embora. Queria conhece-la, julguei o livro pela capa rápido demais. Várias coisas por mim? Não me lembro de nada disso, ou talvez ela não quer que eu me lembre.
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I Think We're Alone Now - Temporada 1 (CONCLUÍDA)
ActionPRIMEIRA TEMPORADA DA SÉRIE I Think We're Alone Now PLÁGIO É CRIME! Inspiração: Manto e Adaga (2018) e The Gifted (2017) No ano de 2013, Amberly VanCite, uma garota que acaba de fazer 18 anos, se vê numa situação precária, dependendo do furto para s...