Capítulo 1: A Irmã

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Já se faziam 4 anos de que minha vida virara de cabeça pra baixo. É difícil pensar no passado quando se tem tanta coisa na cabeça, como sobreviver. Minha meta de vida seria uma vida normal, de novo. Havia sido presa recentemente, justo quando completei 18 anos, mas a fiança não era tão cara e Zayne, meu namorado, conseguiu me tirar de lá, e agora estamos devendo pra um monte de gente. Zayne também ajuda fazendo sua parte. Ele vende as coisas que roubamos para um comprador por um preço que da pra pelo menos comprar algo pra comer.

Eu ia bastante a bares ou festas, onde eu poderia facilmente furtar alguma coisa. Na verdade eu nunca gostei muito disso, queria ter alguma chance de trabalhar como qualquer coisa. É difícil, nem terminei a escola, imagina uma faculdade ou um emprego. Aos dez anos, meus tios morreram num acidente de carro, eu estava junto no dia, sai procurando ajuda com um braço quebrado e sangue espalhado pelo meu rosto, e foi assim que encontrei Zayne. A família dele me acolheu e tecnicamente me adotou, eu e ele fugimos um tempo depois, não era um lar muito confortante. Zayne tinha quinze, eu quatorze.

Eu me pergunto todos os dias do por quê fugimos, não era muito bom, mas pelo menos tinha comida ou um teto. Deve ter sido um surto de dois adolescentes inicialmente apaixonados. O pai de Zayne não era aquele pai bom igual ao meu tio, foi difícil me adaptar no começo, sua mãe me protegeu durante o tempo la, pra que eu não fosse tratada que nem Zayne ou coisa pior. Ele é tecnicamente meu "irmão", era meio nojento pensar assim, mas sempre nos gostamos, acho, mas eu não aguentava mais ver ele apanhando do pai. Nós dois decidimos fugir, com apenas duas mochilas com comida, água, achando que aquele tantinho de comida iria durar pra sempre.

Acho que todo mundo já ouviu falar dos Vingadores, Capitão America, Thor, Viúva Negra e por aí vai. Após o ataque alienígena em Nova York, a convivência em Manhattan tinha ficado um pouco mais tensa. Humanos se virando contra mutantes, incêndios na tentativa de matarem uns aos outros, crimes, mortes, eu só queria que os tais "heróis" da Terra viessem pra cá nos salvar desse terror. Não que eu estivesse preocupada com muitas pessoas, eu me preocupo em como eu fico nisso. Não tenho comida a dias, apenas umas porcarias que achamos, eu ficava muito enjoada quando tínhamos que procurar no meio das ruas. Sorte que nasci com um charme natural, fica muito mais fácil encontrar um rico pra roubar.

Eu e Zayne temos a habilidade de roubar carros, não esses automáticos de hoje em dia, uns carros bem baratos. Aprendemos com o tempo a ligar o carro com aqueles fios que tem em baixo. Droga, não sei explicar direito. O bom é que conseguimos roubar carros e isso já é grande coisa. Acho que tudo isso me ensinou uma grande lição, de como roubar carros quando preciso, e é até bem útil se for parar pra pensar. Também consigo ser ágil e invisível, também é bem útil.

Desde que fui presa, não parecia que Zayne e eu estávamos tão perto mais, eu parecia um fantasma pra ele. Não dei bola de inicio, deveria ser apenas por um tempo, mas não foi. Por um tempo nosso relacionamento foi aberto, então quando eu quis acabar com isso ele simplesmente me ignorou, aposto meus vinte dólares que ele já estava com outra pessoa. Tive que pretender que não ligo, como eu sempre fiz.

─ Queria conversar com você ─ tentei iniciar uma conversa enquanto ele estava olhando pela janela, distraído.

─ Sobre? ─ ele perguntou ainda distraído.

─ Vai ter uma festa, de uns estudantes, do outro lado da cidade, pode me levar la? ─ Era complicado de dizer como eu conseguia informações. Digamos que temos um "espião" que trabalha do lado de uma escola, um amigo nosso, ele sempre ouve as conversas dos alunos. Na verdade não era isso que eu queria falar com ele, mas não tive coragem de contar o que eu realmente queria. Me sinto estranha faz uns dias, pode também ser coisa da minha cabeça. Quatro anos na rua e eu nunca peguei nada, nenhuma doença, nenhuma dor, nada, dor apenas quando apanho, policiais, as vezes do próprio Zayne, mas nada demais, eu acho.

─ Onde fica? ─ ele questionou ligando o carro. Lhe disse o endereço, que estava anotado em um caderno, e fomos.

Até uns cinco meses atrás nós vivíamos como adolescentes normais, Zayne ja tinha dezoito, mas enfim, não tão normais já que não temos uma moradia fixa, mas vivemos bem. Eu nunca fui de comer muito, acho que isso ajudou bastante a aguentar os períodos de fome. Sei que tem pessoas que não aguentam ficar sem comer, Zayne era uma delas.

Fiquei olhando pela janela até chegarmos. Já havíamos cruzado a cidade muitas vezes, conhecia quase todas as ruas, conhecia todas as maneiras de fugir, conhecia qualquer brecha da cidade. Íamos sempre pelo caminho que tinha menos policiais, nem que isso demore mais, era muito mais seguro. Zayne não tinha carteira de motorista e o carro era roubado, qualquer vacilo era prisão. Acredite, ser preso é horrível e você nunca sabe quando vai levar uma surra dos outros.

─ Presta atenção em carros de policiais, estão atrás da gente ─ afirmei.

─ Tá, tá. Tudo sob controle. ─ ele garantiu. Dei um beijo na bochecha dele, peguei uma bolsa e saí do carro.

I Think We're Alone Now - Temporada 1 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora