Capítulo 6: Resistência Mutante

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Andrew

─ Mas que merda ─ apenas conseguia ouvir Amberly coçando os olhos enquanto acordava dentro do meu carro. ─ Agora fui sequestrada ─ bufava e olhava em volta enquanto levantava devagar com dor no lugar da pancada. Não precisava de muito para saber que não havia sequestrado-a, as portas não estavam trancadas

─ Se acalma, garota, você só levou um tiro de tranquilizante ─ tentei tranquiliza-la, mas algo parecia a incomodar e não era a dor.

─ Tenho que sair daqui. Se estão atrás de mim já sabem a placa do carro ─ ela disse tirando a faixa da cabeça e saindo do carro, não iria atrás dela ainda.

─ Vai simplesmente fugir? ─ Perguntei enquanto abria a janela do carro.

─ Vou e você não vai me impedir ─ me encarava pela janela. Eu não preciso ir atrás dela, mas algo me diz que preciso ajuda-la tanto por ter meu sobrenome. ─ Está com o celular? Preciso ligar para uma pessoa ─ ela aproximou da janela.

─ Felizmente não o carrego por aí, então não tem como nos rastrearem ─ coloquei a cabeça pra fora da janela do carro.

Ela bufou e entrou no carro de novo, dessa vez no banco da frente ao meu lado. Pelo menos deixa de lado a birra.

─ Eu sei roubar carros, só preciso que você vigie para que ninguém nos veja ─ ela ofereceu mesmo que não seja o melhor a se fazer. Já vi essas coisas em filmes, talvez ela tenha aprendido a fazer o mesmo.

─ Não precisamos roubar um carro ─ argumentei.

─ Me escuta. Precisamos, vão vir atras de nós. Não são estúpidos a esse ponto.

─ Eu preciso do carro pra chegar em um abrigo.

─ Legal, eu roubo outro. Pelo menos vai ser mil vezes mais seguro ─ ela saiu do carro de novo.

Respirei fundo tentando arrumar paciência e saí também. Joguei as chaves do carro no bueiro e segui Amberly, que já tinha um plano em mente. Ela me dissera que carros mais baratos eram mais fáceis de roubar. Já os mais atuais, como o meu, eram mais difíceis por causa da nova tecnologia. 

Amberly usava roupas escuras, uma camisa preta por baixo de um moletom cinza que parecia duas vezes maior que ela, uma calça preta também e um gorro da mesma cor sobre a cabeça. Ela não devia ter muitas opções de roupas, e provavelmente não as lava com frequência. Na noite que nos conhecemos ela usava uma maquiagem preta sobre o olho, mas acho que tiraram quando ela chegou no hospital.

─ Então você sofreu um acidente anos atrás? ─ perguntei enquanto nós dois andávamos sem rumo atrás de um carro. Sua demora para me responder já me dizia muita coisa.

Ela parou de andar, eu estava logo atrás dela e parei assim como ela. Continuava esperando sua resposta. Ela fechou o punho e me deu um soco no nariz. Desequilibrei, desacreditado e dei uns passos pra trás por causa do impacto. Não parecia, mas ela socava bem. Um pouco depois percebi meu nariz começar a sangrar, pingando sangue na calçada.

─ Por que fez isso? ─ perguntei indignado com a cabeça virada para cima, evitando o sangramento. ─ Eu só fiz uma pergunta, merda ─ resmungava de dor, sangue era o que não faltava no momento.

─ Não é muito educado perguntar como uma pessoa quase morreu ─ ela cerrou o punho de novo enquanto me segurava pela gola da camiseta. ─ Por que ta me ajudando?

─ Minha irmã desapareceu depois de um acidente de carro. Todos da família se juntaram pra discutir o caso dela menina. Nós dois tínhamos dez anos na época. Estranhei, era muito raro da minha família se reunir ─ ela relaxou a mão e voltou a andar. Olhava pra baixo, se não a conhecesse diria que se arrependeu de ter me batido ─ Vamos para um abrigo e aproveitamos e conversamos com meu pai ─ não era muito da cara dele, mas meu pai realmente tinha um abrigo, só que diferente.

─ Mesmo sobrenome, mesmo caso ─ repetia para si mesma. Talvez fosse difícil demais para engolir depois de tanto tempo. ─ Não acho que precisa de um teste de DNA para saber.

Nem eu e nem ela falou algo mais sobre isso e continuamos andando. Também não acho que seria seguro continuar andando como se fosse uma pessoa normal. Mas nós não tínhamos escolha, ou era isso ou íamos a pé, que seria muito mais difícil de chegar.

─ Vê se ninguém vai estar por perto, vou pegar esse ─ ela apontou para o carro.

─ Precisa de ajuda? ─ perguntei.

─ Fique atento se eu precisar de você.

Fiquei observando ela arrombar o vidro e depois abrir a porta do carro por dentro. Olhei em volta pra ver se tinha alguém se aproximando, não tinha ninguém. Continuei observando ela entrar deitada no banco da frente pra mexer nos fios. Parece que ela já é profissional nisso.

─ Ei, vocês dois! ─ um cara barbudo segurando uma garrafa de cerveja na mão gritou de uns cem metros de nós.

─ Amberly, acho melhor você se apressar ─ alertei.

─ Não me apresse, senão dá errado.

O cara começou a andar meio desengonçado até nós, ainda tínhamos um tempinho até ele chegar. Amberly parou de mexer nos fios do nada, comecei a me perguntar se era proposital ou não seu descanso.

─ Eu não consigo, você precisa fazer ─ ela disse sentando no banco.

─ Por que? ─ perguntei, eu não sabia fazer isso.

─ Minha cabeça dói, não consigo fazer nada ─ esquecera completamente disso. Se ela continuasse no hospital daria para ela se recuperar bem.

─ Então me fala o que eu tenho que fazer ─ deitei no banco do mesmo jeito que ela fez.

─ Só tem que conectar aquele fio com aquele ─ ela apontou mas tinham vários fios, não consegui identificar qual.

O homem continuava vindo.

─ Eu não sei qual ─ comecei a mexer em alguns fios.

─ O fio amarelo, idiota! ─ diria que ela é mal agradecida, mas consideraria isso como cansaço.

Conectei os fios e o carro ligou. Coloquei Amberly no banco de trás rápido e sentei de novo no banco da frente. Fechei a porta e acelerei. O cara estava muito perto, ele tentou correr atrás da gente mas ele era muito lento. Amberly deitou e tentou dormir, mas antes me perguntou se eu sabia onde era o abrigo. Eu sabia um pouco, até uns 3 anos atrás eu cheguei a descobrir onde era sozinho.

Amberly tirou um cochilo no caminho. Por que viriam atrás dela? Uma garota que tem uma vida igual a de todos que roubam por sobrevivência. Tenho medo de ela não estar segura onde for que ela esteja, talvez seja isso a partir de agora. Ela não era uma psicopata, não era uma assassina procurada pelo governo. Ou ela é e eu não saiba.

Estacionei o carro um pouco afastado do abrigo, para não levantar suspeitas. Acordei Amberly, que quase caiu quando encostou no chão. Segurei ela e passei o braço dela pelo meu pescoço. Estava de noite e estava mais difícil de nos acharem. Andei na velocidade que Amberly andava, não podia forçar, tínhamos o tempo que precisávamos.

Quando chegamos na entrada, bati na porta. Tinha uma câmera na entrada, então alguém já devia saber que estávamos ali.

─ Nós não aceitamos esse tipo de gente ─ uma voz disse surgiu se referindo a nós. Apertei o botão pra falar.

─ Eu sou Andrew VanCite, sou filho do Trent. Estou com problemas e o único lugar seguro pode ser aqui ─ eu disse e a porta logo se abriu, parecia de uma fortaleza. Entrei com Amberly.

Ligaram as luzes e um cara logo apareceu. Não era o meu pai, isso eu tinha certeza.

─ Sou Erik Michima. Bem-vindos a resistência mutante ─ ele estendeu a mão para nos cumprimentar.

I Think We're Alone Now - Temporada 1 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora