Capítulo 3: Poderes

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Amberly

Nem sempre eu consigo o tanto de dinheiro que preciso, mas com uns quinze dólares conseguimos comprar dois lanches. Tem vezes que não conseguimos nada, onde ficamos quase o dia inteiro sem comer. Mas quando tem essas festas é o nosso dia de lucrar, eles bebem e esquecem da vida. Eu tinha uma identificação falsa, fiz ele com quinze anos falando que tinha dezoito, ou seja, eu tenho vinte e um anos para quem pensa que essa identificação é verdadeira. Isso me dava algumas vantagens, como beber, não que seja uma coisa boa, mas eu preciso entrar no personagem adulto as vezes.

Eu normalmente tento distrair as pessoas que pretendo furtar, é assim elas não percebem que eu estava tentando roubar alguma coisa. Zayne sempre fica me esperando do lado de fora quando precisamos fugir, quando percebem que eu levei algo, entro quase me matando de tão rápido no carro e fugimos, as vezes é emocionante.

As vezes eu aproveitava pra beber um pouco, pretender que sou um dos idiotas naquela festa, mas hoje não estava com vontade, talvez seja um sinal pra eu me concentrar mais no trabalho do que na bebida. Tive que pegar refrigerante mesmo, não estava no clima. Vou derrubar em alguém pra conseguir uma distração, assim roubo qualquer coisa que achar.

Havia um garoto, moreno e alto, em pé do lado de fora como se tivesse pensando em algo. Não estava bêbado, dava pra notar. Estava normal e calmo. Se eu tentasse distrair outra pessoa, provavelmente veriam por causa do tumulto, então teria que ser ele mesmo. Quando ia me aproximando, fazendo como se estivesse bêbada, um outro garoto se aproximou dele e começaram a conversar, justo quando meu plano já estava formado.

─ Se quiser ir embora, tranquilo ─ o garoto que chegara dizia pra ele.

─ Estou bem, assim já ta ótimo ─ ele dizia. ─ Vou ficar por uns trinta minutos mais e vou.

─ Ótimo, aproveita enquanto ainda dá, Andy ─ o garoto voltou pra festa de novo.

Vou pretender que não ouvi, já que sempre fiz isso. Durante o meu tempo nas ruas eu aprendi a ouvir e não questionar, como se eu não estivesse ali para não incomodar as pessoas. Tem um monte de conversas estranhas que já ouvi, tenho certeza, mas não lembro de quase nenhuma, é difícil lembrar quando não pode ouvir.

Me aproximei aos poucos do garoto, Andy pelo apelido, ele estranhou, mas ignorou. Fingi estar distraída ou perdida, só pra ter um jeito de chegar até ele sem que estranhasse. Ele parecia alguém com boa qualidade financeira, vestia um all star preto de cano alto, uma jaqueta preta, nova em folha, como eu tinha vontade de jogar terra nesse menino e sair correndo com a jaqueta, ele vestia uma calça da Adidas preta também e uma camiseta básica, branca. Fazia frio essa época do ano, a pior época, não tinha muito lugar pra ficar então eu e Zayne tentávamos nos aquecer sozinhos, só com o calor corporal.

─ Oi, poderia me dizer pra que lado é o metrô? ─ perguntei pro garoto parado de pé na maior cara de sonsa. Não vou derrubar nada nele hoje, esta frio e mesmo que eu queira que todo mundo se ferre, hoje não, não estou a fim também.

─ Bem... ─ ele tentava se localizar. ─ Vai à pé? É meio longe ─ só fala logo, caramba. Não quero ficar aqui fora nesse frio e muito menos falando com ele.

─ Meu namorado está no carro, ele vai me levar. Tenho que ir pro outro lado da cidade logo, senão perco minha entrevista de emprego ─ inventava uma mentira atrás da outra.

─ Entrevista de emprego às... ─ ele checava as horas no celular ─ nove e meia da noite?

─ Não tinha outro horário, sou sempre muito ocupada. Então, pode me dizer onde fica?

─ Bom, primeiro você pega essa rua e vira na... ─ fui para o lado dele, um pouco mais pra trás enquanto ele dizia onde ficava, tentava ver se ele tinha algo pra mim, uma carteira seria ótima. ─ E é assim que você chega, alguma pergunta? ─ Quando ele olhou pra trás eu já havia fugido, ainda fez questão de ir atrás de mim, e apesar de eu ter muito mais experiência, ele era rápido.

Andrew

Corri atrás da garota, eu sou idiota o bastante pra confiar em todo mundo, essa é a prova de que existe muita gente ruim no mundo. A garota sabia como me confundir, ia de um lado pro outro pelos becos, ela pode ser ligeira igual um rato, mas eu sei me orientar pelo lugar. Larguei a jaqueta no chão, que me atrapalhava na hora de correr, tinha custado caro, mas minha carteira vale muito mais do que o quanto ela custou.

A sensação era estranha de quando eu consegui me aproximar dela, como se eu conseguisse sentir seus sentimentos, seu desespero, uma alma perdida, sua fúria, seu cansaço, sentia como se conhecesse essa menina desde minha infância inteira. Quando nos tocamos, essa sensação veio a tona, tão forte que um impulso foi gerado, uma parte desse impulso era preta e outra era branca. Fomos jogados cada um para um lado, a menina bateu a cabeça na parede e desmaiou, eu apenas caí arrastado no chão.

Fui até ela e, primeiramente, peguei minha carteira. Havia sangue em sua testa, que descia até a sua nuca. Balancei-a um pouco pra ver se acordava, claramente não, definitivamente desmaiada como previ. Pensei em chamar uma ambulância, seria ruim da minha parte deixa-la sangrando no chão. Chamei a ambulância e esperei chegarem, apesar de demorar pra cacete.

Depois que chegaram fizeram umas perguntas pra mim, como "você conhece ela?" ou "a quanto tempo ela está aqui?". Só respondi que quando cheguei vi ela assim, mentira. Eu não precisava contar tudo, apenas o que realmente aconteceu. Me perguntaram se eu conhecia a família dela, respondi que não. Vou visitar ela amanhã pra ver se estava bem ou se precisava de ajuda, é o mínimo que posso fazer.

Fui direto pra casa depois disso, eu não iria ficar muito na festa mesmo. Quando cheguei eram dez e meia da noite mais ou menos, meus tios já estavam dormindo. Subi as escadas pensando em o que havia ocorrido, na velocidade que aquilo havia ocorrido, por que senti uma sensação estranha perto dela? Eu não sei, mas quero descobrir. Quando cheguei no meu quarto, me joguei na cama e peguei o celular. Havia algo de estranho... fiquei me admirando pela tela do celular, eu parecia diferente. Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Meu cabelo havia ficado branco... Quase soltei um grito alto de espanto, sorte que me controlei para não acordar a casa inteira, mas eu surtei como um retardado a noite inteira sem conseguir dormir um instante.

I Think We're Alone Now - Temporada 1 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora