· Amberly narrando ·
─ Podem vir, é seguro lá fora. ─ Janet abria o galpão para o subsolo enquanto anunciava. Ela perdeu o ataque inteiro em sua ausência.
Levantei do colchão com Mei me puxando pela manga do moletom. Estava passando mal, com ânsia de vomito, mas levantei do mesmo jeito. Olheiras bem escuras rodeavam meus olhos, não conseguira dormir direito durante esses dias.
Andrew se aproximou e me ajudou a andar para cima, Mei estava ao nosso lado quieta. Quando conseguimos sair do subsolo, estava tudo destruído a nossa volta, eles haviam destruído tudo que a resistência havia conseguido. Passou nos jornais sobre o ataque a base se Manhattan, nossa base, causando rebuliço a quem apoia a causa mutante. Disseram que iriam fazer um protesto nas ruas apoiando e outro protesto contra.
Eu fui logo para o quarto, bagunçado do mesmo jeito que estava antes, e fui direto pro banheiro. Não sabia se ia vomitar mesmo ou não, mas acho melhor já ficar ali pra caso aconteça alguma coisa. Eu tinha vontade de deitar e dormir, mas estava muito ocupada me perguntando se eu realmente vomitaria ou se eu iria me jogar do terraço de tanta dor de cabeça causada pelo estresse de ontem.
Mei estava sentada em uma cadeira do lado da minha cama, mexendo as perninhas no ar, com seu ursinho de pelúcia nas mãos. Eu não sabia por que ela estava ali, ela poderia muito bem ter arrumado outra coisa pra fazer. Andrew trocava de camiseta no cantinho do quarto, sem ligar para a presença de Mei.
Passei alguns quarenta minutos até conseguir sair do banheiro e voltar para minha cama, que precisava ser arrumada com urgência. Mas para minha sorte, a pequena garotinha de nem um metro e meio de altura já havia feito isso para mim momentos antes. Parecia que lia a minha mente me dando um frio na espinha. Estou sem privacidade por um longo período de tempo. Janet havia batido na porta perguntando por mim minutos antes, mas foi Andrew quem atendeu. Ele falou para ela voltar mais tarde e que eu não me sentia bem. Logo depois saiu para pegar algo para comermos.
─ Por que as mulheres ficam grávidas e os homens não? ─ Mei perguntara. Que caralhos de pergunta foi essa? Faz quanto tempo que ela queria fazer essa pergunta?
─ Porque... porque... ─ tentava improvisar. ─ Porque se deixasse as crianças nas mãos de um homem, o mundo taria ferrado. ─ deitei na cama olhando para o teto.
─ E é mais seguro deixar com uma mulher? ─ Ela olhou pra mim.
─ Eu acho que Andrew seria uma bela babá. ─ ela soltou uma risada gostosa e aguda, quase nem dava para notar.
Era engraçadinho o jeito que se comportava, abraçada em seu ursinho de pelúcia. Mas ninguém respondeu minha pergunta de onde estariam os pais dela ou de onde ela vinha. Por que ela não me responde? Não havia explicação sobre seu ato ao me ajudar. Talvez ela seja apenas empática, empática até demais. Mas tudo isso devia ser muito confuso pra ela, ela é apenas uma criança, uma criança de bom coração. Se algum dia minha vida mudar, queria poder prometer a Mei uma vida melhor. Melhor do que uma base constantemente ameaçada. Um lugar em que pudesse se divertir.
Um tempo depois ela fechou a cara e sentia que as lágrimas viriam a qualquer momento. Ela guardava alguma coisa, alguma coisa que a fazia sentir um embrulho no estômago ou coração apertado. Ela precisava contar algo, mas não conseguia. Não quero pressiona-la, mas estou realmente curiosa. Ela fungou o nariz e disse:
─ Papai e mamãe não tiveram tempo ─ ela começou a chorar logo em seguida, apertando seu ursinho bem apertado. ─ Mama estava comigo quando o alarme soou. Papa tentou segurar a porta, mas ele não era muito forte. Eles gritaram para eu fugir, disseram que me encontrariam. ─ fechou os olhos e sentiu as lágrimas descerem. ─ Mas eu não vi mais eles. ─ terminou a frase revelando seu sotaque japonês, coisa que ainda não tinha visto.
─ Ei... Vai ficar tudo bem com eles, eu prometo. ─ segurei sua mão, um pouco menor que a minha. ─ Vamos encontrar seus pais e trazer eles de volta. ─ ela assentiu e tentava chorar o mais silencioso possível.
Perguntei se ela queria deitar do meu lado, de inicio ela recusou, mas depois foi subindo delicadamente em cima da cama. Fui um pouco pro lado pra ela poder deitar. Ela ficou sentada por um tempo, tímida, mas logo depois deitou e me abraçou, não muito forte, mas abraçou. Seu toque era leve como uma pena, ainda vamos pegar intimidade. Ela dormiu um tempo depois, parecia cansada, não deveria ter dormido desde o ataque, por isso estava distribuindo cobertores. Ela estava procurando o que fazer no meio da noite. Ela mexia a mão, perna e os dedos da mãos as vezes, bem rápido, deveria estar sonhando.
─ Eu trouxe umas frutas, fizeram um macarrão rápido la embaixo, peguei um pouco pra você e para a garotinha. ─ Andrew chegou falando.
─ Shhhh!! ─ Levantei o dedo pra fazer o sinal de silêncio. ─ Ela não dorme faz muito tempo. ─ Andrew andou até mim tentando não fazer nenhum barulho possível e me entregou a marmita. Chegava a ser engraçado o jeito que andava, na ponta dos dedos com os braços no ar. Deixei um pouco de lado, em cima da mesinha ao lado da cama, para comer com Mei quando ela acordar. Me perguntava se minha relação com meus filhos seria assim daqui uns anos, não sei, não da pra saber.
Hoje é dia 9 de Março, eu estava com três meses de gravidez. Minha barriga já tinha começado a crescer, mas eu usava roupas largas, ninguém conseguia ver. Agora que eu fui parar pra pensar que eu conheci Andrew um pouco depois do ano novo, já estamos em 2013. O tempo voa, faria 19 no final do ano. As vezes me pego pensando em como eu queria voltar no tempo, em um tempo onde eu não precisava me preocupar com tudo isso. Apesar de tudo que passou... me sinto a mesma pessoa.
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I Think We're Alone Now - Temporada 1 (CONCLUÍDA)
ActionPRIMEIRA TEMPORADA DA SÉRIE I Think We're Alone Now PLÁGIO É CRIME! Inspiração: Manto e Adaga (2018) e The Gifted (2017) No ano de 2013, Amberly VanCite, uma garota que acaba de fazer 18 anos, se vê numa situação precária, dependendo do furto para s...