Capítulo 11: A Sala de Treino

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Amberly

Apesar de eu já ter passado mal assim antes, nunca vou me acostumar com enjoo matinal independente do tempo. Acordava todo santo dia com vontade de morrer e colocando tudo pra fora, até que não reste mais merda nenhuma pra colocar pra fora. Sete meses pra todos descobrirem ainda. Não acho que meu pai faria algo quando descobrisse. Se ele me expulsasse, pelo menos não seria mais inverno, a pior época do ano.

Andrew, aquele preguiçoso, vai dormir as duas da manhã pra acordar às onze, quase meio dia enquanto eu acordo cedo. Hoje eu teria que ir ao treino de Janet, só espero que consiga ficar pelo menos de pé até lá. Sentei de costas para a parede do banheiro do quarto. Ainda me sentia enjoada, mas sem vontade de vomitar. Quando cheguei aqui, pensei que conseguiria dormir em paz, mas pelo que me parece não vou conseguir regular meu sono por enquanto.

Passei das cinco da manhã até às oito assim até que Andrew acordasse, mas cedo do que ele normalmente acorda. Ele ficou parado e encostado na batente da porta, aquela moldura que que faz a porta se encaixar na parede, de braços cruzados me olhando. Olhava para um ponto fixo na parede, me perguntando como eu havia chegado a esse ponto da minha vida.

─ Como você tá? ─ ele perguntou com a voz rouca e com o cabelo todo bagunçado.

─ Bem, é. Bem na merda, isso sim. ─ soltei uma risada nasal.

─ Posso pelo menos escovar os meus dentes? ─ brincou enquanto ria baixinho.

Fiquei só mais um tempo sentada enquanto Andrew se arrumava. Ele tinha a minha idade, com certeza muito mais alto que eu e mil vezes menos acabado. Sentia constante insegurança com meu corpo por causa das cicatrizes em minha barriga, ou as manchas pretas atrás do pescoço, mas o que mais me irritada eram minhas olheiras, que ficavam bem marcadas em volta do meu olho.

─ Posso dar a minha opinião? ─ Andrew perguntava enquanto fazia a barba. Deixei com que dissesse, além do mais não iria impedir ele de dizer de todo jeito. ─ Zayne é um otário ─ concluiu.

─ Você não conhece ele, então não pode formar uma opinião ─ me irritei e levantei depois de horas. Depois que ele conhecesse Zayne, aí iríamos poder discutir.

Deitar na cama, depois de três horas no banheiro sentada no chão duro, sentia como se minhas pernas estivessem pedindo por isso a muito tempo. Andrew se sentou na ponta da cama e começou a fazer carinho no meu pé. Tirei o pé de perto dele rápido por que, pode parecer infantil, mas eu tenho muitas cocegas no pé. Ele riu baixo e me deu um tapa fraco na coxa de repente.

─ Ta fazendo o que? ─ me levantei, ainda com as pernas deitadas, e olhei para ele.

─ Sei lá, força do hábito ─ soltou um riso fraco.

─ Dar tapas fracos nas coxas das pessoas? ─ perguntei com um leve tom de indignação e me deixei novamente.

─ Na verdade, são tapas fortes que eu dou, mas eu dou um desconto pra você ─ ele riu e olhou para mim. ─ E você não tem coxa direito, assim não tem graça.

─ Ah, cala a boca ─ bati nele com o travesseiro e ambos rimos.

Andrew levantou e pegou uma roupa aleatória pra mim que achou no guarda-roupas do quarto, alguém havia pegado qualquer coisa e nos dado outro dia. Ele me trouxe uma calça preta e uma regata branca. Franzi a testa, me perguntando se ele sabia que eu não queria usar aquele tipo de roupa aqui. A última coisa que eu quero aqui é usar uma roupa que me aperte.

─ Não tem alguma coisa mais larga aí? ─ perguntei. ─ Tipo um moletom ou algo assim.

─ Não ─ ele lamentou. ─ As únicas que tem aqui são o que trouxeram pra mim.

─ A gente troca ─ brinquei, mas com uma pontada de verdade.

─ Esse mico você não me faz passar ─ abriu um sorriso e se trocou, eu me virei pra dar um pouco de privacidade.

─ Eu não vou sair com essa roupinha de adolescente ─ impliquei.

─ Você se veste que nem uma adolescente, só que com moletom.

Ele saiu do quarto e foi bonzinho em pegar outra roupa pra mim em algum quarto lá. Pelo que entendi, Erik faz um portal pra roubar comida, roupas e várias coisas que eu não sei pra que servem. Eles tem uma sala onde guardam essas coisas, mas nem todos podem entrar. Andrew voltou um tempo depois com uma camiseta de manga, comprida do meu tamanho, e uma calça.

─ Tive que inventar que estava pegando roupa pra mim quando entrei lá. ─ Ele sentou do meu lado e contou sua 'extraordinária' ida ao comodo. Pretendi que estava prestando atenção para ele poder ter o que falar.

─ Obrigada. ─ Agradeci, peguei as roupas e fui para o banheiro do quarto.

Enquanto trocava de roupa, lembrei que fazia um bom tempo que não tomava banho. Muitas vezes, na correria, apenas entro de baixo do chuveiro para dar uma refrescada, devem fazer uns seis meses que só fazia isso. Neste momento não tenho tempo, mas quando voltar do treino de Janet eu vou tomar um bom banho. Tinha dias que nem eu mesma aguentava meu próprio odor.

Me olhei no espelho e consegui analisar todas as minhas inseguranças de novo. Sinto que preciso me dedicar um pouco pra mim, tenha certeza que vou fazer isso durante os próximos 7 meses. Saí do banheiro e vi que Janet nos esperava para o treino, conversando com Andrew na porta.

─ Pronta? Eu podia ter saído daqui só com Andrew e você viria atrás ─ ela dizia mal humorada.

─ Primeiro que eu não faço ideia de onde caralhos vocês podem ir, segundo que você que chegou tarde, mulher. Eu já tava acordada faz muito tempo ─ abri um sorriso falso.

─ Próxima vez eu te chamo de madrugada ─ ela se virou e fomos para a tal sala de treino.

Cruzei os braços e dei uma boa analisada no lugar. Era um lugar subterrâneo com paredes que, apesar de mofadas, eram resistentes, o clima úmido fazia com que tivesse dificuldade para respirar lá dentro, não tinha janelas ou lugares em que pudesse escapar, não dava para ouvir nenhum tipo de som do lado de fora. Daria para facilmente prender alguém aqui em baixo, a porta era feita de aço e codificada com uma senha que não consegui memorizar. Se ela nos prendesse aqui, teria certeza que foi obra de nosso pai. Ou pode ser um teste, já que eu teria que me teleportar para sair dali e Andrew teria que criar adagas.

─ A porta é feita de adamantium, pra quem quiser saber ─ Janet olhou para mim como se estivesse me corrigindo. ─ Eu irei libertar suas mentes, assim poderão usar os poderes sem um gatilho no seu emocional ─ no mesmo segundo, ela deu um toque na minha nuca e outro na nuca de Andrew.

No inicio pareceu que nada havia acontecido, mas poucos segundos depois dela me libertar, sentia minha cabeça pulsar junto com várias vozes sussurrando no meu ouvido, causando um ruido insuportável. Olhava para Andrew, que parecia normal com tudo isso. Caí agachada e logo Andrew veio me segurar.

─ O que ela tem? ─ questionou a Janet, que veio logo depois para me ajudar.

Meus olhos estavam fechados, então não sei o que aconteceu. As vozes foram sumindo aos poucos e logo senti minha mente muito mais leve.

I Think We're Alone Now - Temporada 1 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora