26. Mentiras

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Uma semana se passou.

 Foram longos sete dias que pareceram um só para Jinyoung; parecera uma só noite. Uma só noite que ele viveu hora após hora, e sentiu – afinal, um corte na nuca não se cura num piscar de olhos. O que mais doía em seu coração fora as frases que ouvira, fora as coisas que o tailandês dissera e que o deixou com peso no coração.

 Jaebeom devia estar melhor sem ele.... Por que ainda insistir? Por que insistir na dor para si e para o outro?

 “O amor dói” uma vez ele ouvira alguma trainee dizer e outra, prontamente, respondeu “O amor não deve doer.... O amor deve ser belo e puro, como um sentimento que te preenche com alegria, não angústia; se dói, você tem amado errado”.

- Eu sei no que está pensando. – Goeun apareceu no peitoril da janela onde Park fotografava. A mesma tinha um suporte de cimento por onde uma peperômia melancia escorria pelo substrato e caia como cascatas de água para fora do vaso. As folhas verdinhas com tonalidades amareladas atraiam os olhos de Park, que deslizava seus dedos pelos pecíolos que marcavam “veias” na planta. – Eu sinto muito...

- Pelo quê? Você estava certa, Eun-ah.... Eu deveria denunciar aquele filho da puta. – Sorriu e então desconectou a folha da planta, sentindo uma gota de orvalho que antes a molhava umedecer a ponta de sua pele. Olhou de soslaio para o fotografo e notou que o mesmo configurava algumas coisas na câmera, o que lhe dava tempo para um descanso. – Mas.... Mas eu não vou. Eu não vou porque sou melhor que isso... seria ridículo tentar entrar numa briguinha com os irmãos de Jaebeom, quando no fundo quero a reconciliação.

 - Mas Jinyoung....

 - Sempre acreditei que a mentira tivesse pernas curtas. – Sorriu e então afundou parte da folha à terra, sabendo que poderia formar uma nova planta. – E mesmo que eu tenha acreditado por seis anos em uma, acho que ela vai ser revelada.... E, caso realmente seja, não quero que Jaebeom saiba pela minha boca.

- Uau.... Park Jinyoung pode ser perverso as vezes. – Goeun soltou uma risadinha e escutou resmungos do fotografo. – Jinyoung; apenas foque nas fotos agora. As coisas darão certo.... Você e Jaebeom terão tempo o suficiente para colocar as cartas na mesa, esclarecer tudo e apenas confirmar que as coisas na qual ouviram.... Foram mentiras combinadas para lhes afastar.

 Até poderia ser.... Mas, por quê? Tudo baseado no preconceito de senhor Im? Tudo baseado num desejo de separar o filho de um amigo por pura homofobia?

 Não.... Não podia ser;

 Jinyoung era um rapaz inteligente, muito. Entretanto, uma ingenuidade dominava seu coração quando certos assuntos era o tópico principal. Uma alma pura pode não reconhecer toda a maldade, mesmo que seja vítima da mesma. Seu coração palpitava de modo limpo, e isso tirava de sua cabeça a possibilidade do ódio por apenas amar alguém.

 - Goeun....

 - Jinyoung, eu sei que já passamos dias demais aqui e que parece tão... tão estranho você e Jaebeom não terem tido uma conversa decente que fosse. Entretanto...

- Goeun... eu acho que cada um acredita no que quer; entente? – Questionou e viu o fotografo sugar o refrigerante que o assistente lhe trouxera. As mãos com dedos gordinhos batiam com certa violência contra as teclas macias do notebook e emitia sons abafados, em uma digitação deliciosamente silenciosa. – É como uma religião.... Bem, só um exemplo....

- Diga. – Ela cruzou os braços à frente do peito e debruçou-se pela janela; era uma bela casa no bosque que eles alugaram para as fotos. A vista que o lugar dava para a natureza viva e colorida, era deliciosa; a sensação de vivacidade e das borboletas pintadas nos mais variados tons que sobrevoavam junto a insetos por todo canto. Podia ser levemente irritante passar repelente de hora em hora, porém, o cheiro doce da terra úmida pela chuva que as árvores guardavam em suas folhas e as temperaturas amenas que as sombras forneciam eram de aquecer o coração... ótimo para Park, ela pensou.

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