30. A carta

94 18 29
                                    


Os olhos de Jinyoung sentiram a sombra que entrara na frente da luz solar que aquecia sua face, assim como também ouvira os passos das solas de sapatos contra o assoalho – da pensão – que foram recém encerrados. O cheiro da cera já não era mais tão forte como nos dias anteriores, porém, o material ainda parecia levemente grudento ao chão e gerava um som molhado a cada passo.

- Jinyoung...

Uma voz chamou e no desesperou Park abriu os olhos, sentando brutamente contra o colchão e pegando Ponyo para si, enquanto pressionava o corpo do animal em seu peito e tentava olhar para aquele que falava; os traumas causados em noites passadas, onde ele tinha plena certeza que alguém lhe observara dormir.

O coração acelerado, a serenidade do descanso agora acabara e suas veias bombeavam adrenalina por todas as partes, enquanto seu corpo tencionava e o pequeno ator buscava alguma pose onde conseguisse intimidar o inimigo; entretanto, o olhar desesperado e os lábios trêmulos que sequer abriam para dizer algo, apenas forçando a entrada de ar que parecia não conseguir chegar aos pulmões, causara ao outro, risos.

- Ei, sou eu... Christopher! – O rapaz disse e então sentou-se aos pés da cama. – Relaxa, sou apenas eu...

- Puta merda... custava bater antes?

- E quantas vezes eu bati, mas você simplesmente fez a egípcia e não me atendeu.

- Porque eu estava dormindo...?

Christopher arqueou uma sobrancelha e os ombros antes relaxados pareceram maior ao que o jovem arrumou a postura. Um novo brilho tomou o olhar e os lábios se pressionaram, formando uma fina linha tensa que substituía um sorriso que anteriormente era radiante.

- Quer que eu saia então? – Questionou, colocando-se de pé e arrumando o casaco no corpo, ajeitando as mãos dentro dos bolsos frontais de sua apertada calça de couro. – Se preferir eu saio e volto quando vossa majestade sentir-se disposta a me receber... – debochou, levemente irritado e magoado pelo modo que fora tratado.

O que ele esperava? A mente de Jinyoung ricocheteava que eu o recebesse com uma fanfarra, abraços e um café da manhã com as coisas preferidas dele, tocando uma música lenta no violão? É claro que não! Trabalhei o dia anterior todo, minhas costas estão doendo, nunca senti minhas coxas tão doloridas e eu ainda tenho que ajudar Jaebeom a terminar de pintar aquela parede... meu humor está péssimo e ele acha que eu o receberia como se ele fosse uma divindade a quem espero a anos?

Jaebeom...

Logo outra parte de sua cabeça mentalizou; pensando em como as coisas entre os dois haviam mudado desde aquele infeliz que tentara lhe raptar – infeliz esse que agora estava preso até segundas ordens. Jaebeom estava mais protetor e mais próximo, sem intrigas e abraços para cumprimentar; ficavam próximos sem sentir tanto "medo" um do outro.

Porém, ainda assim não era a relação que ele desejava.

Im estava próximo, mas ainda muito distante... muito distante se comparar com o que era antes.

Foram de melhores amigos à desconhecidos, depois para inimigos e agora voltaram a ser apenas conhecidos... conhecidos que se dão bem e apenas isso; embora ele ainda note o brilho de rancor que toma o olhar de Jaebeom na maior parte das vezes.

- Jinyoung?!

- O que há Christopher? Eu apenas estou cansado! – Suspirou e então soltou Ponyo, sentindo o animal contorcer-se em seu colo e tentar deixar mordidas em sua face; buscando informar que se encontrava incomodada. – Hm.... Desculpa. – Sorriu e pousou os pés sobre a madeira que agora se aquecia com o sol. – Não vai me dar nem um abraço? – Tentou soar mais simpático, indo até o amigo e ficando na ponta dos pés para ficar na mesma altura do mesmo.

AuraOnde histórias criam vida. Descubra agora