35. Veja seu próprio reflexo.

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Oito anos atrás

O orfanato estava quieto; o único som que perambulava era o tintilar das louças que eram lavadas na cozinha. Senhora Ivyns escolhia sempre duas crianças para lhe ajudar com os afazeres domésticos após o fim de cada refeição e, daquela fez, Park Jinyoung e Im Jaebeom foram os escolhidos para a entediante – mas essencial – ação.

A senhora cantarolava enquanto torcia com seus finos braços o pano molhado, este que preparava para passar no chão. A pequena Chaeryoung derrubara muito molho de tomate e, agora, restava para a mulher limpar toda a bagunça.... Ela não reclamava, pelo contrário, amava usar o piso molhado como desculpa para que ninguém entrasse em seu templo.

- Terminem a louça e vão dormir, pestinhas. – Ivyns ordenou. – Seu avô me mandou ficar de olho em você, Jaebeom... se eu o ver movendo um pé para fora deste portão, desço o rodo nas suas costas...

- Pelo amor de Deus, mulher... – Jaebeom riu. – Até parece que não me conhece... cresci aqui, sou um anjinho. – Colocou o guardanapo no ombro, para desocupar as mãos, e fez um coração para a mesma. – Apenas confia; vim aqui para ficar com Jiny. Não irei a lugar algum...

Jinyoung sorriu tristonho. Ensaboou mais um prato e o colocou sobre o inox da pia, iniciando uma nova pilha das peças de porcelana. Eram tantas crianças e Park sentia que demoraria anos para lavar toda a louça que os mesmos geravam... seus dedinhos estavam focados na espuma e na esponja que limpava todo e qualquer resíduo de comida.

- Insolente... – Ivyns grasnou, erguendo o rodo do chão e ameaçando Im com o mesmo. – Me chamando de "mulher", quantos anos eu tenho para você?

- Para mim você ainda é uma adolescente, tia.... Sinceramente, você deveria aceitar o convite do meu avô para saírem e... não, não... – Ele ergueu as mãos em defesa, tentando proteger o rosto do chinelo que a senhora tirara dos pés para atingi-lo.

Não era verdadeiramente uma agressão ou uma briga. Ambos sentiam a angustia instaurada no coração de Park Jinyoung e apenas tentavam anima-lo através das cotidianas discussões que tinham por assuntos banais. Eles queriam apenas arrancar um sorrisinho do mais novo e o conseguiram quando o chinelo acertou as costelas de Jaebeom e o mesmo xingou, enfurecendo a cozinheira.

- Olha essa boca! Jinyoung, passe sabão nos lábios desse garoto! – Resmungou a mulher, se aproximando dos dois e tomando o posto de Park. – Aish... por isso nenhuma garota quer te beijar; seu hálito deve cheirar a merda por falar tantos palavrões... – Largou o rodo e pegou a esponja que o mais novo apertava por entre os dedos. – Subam para o quarto, meninos... o mal de Jinyoung é sono, coloque-o para dormir como fazia antigamente!

- Eu não tenho mais quatro anos, tia Ivyns. – Jinyoung mostrou-se indignado, cruzando os braços à frente do peito e sustentando um olhar de julgamento. – Eu não preciso que me coloquem para dormir...

- Eu não estou nem aí, Jinyoung... você vai ter 70 anos como senhora Ivyns e será sempre meu bebê... – Falou Im e logo correu da mulher, que lhe prometeu um pescotapa. – Vem, vamos para o quarto, uh? E no caminho você me conta porque está com carinha de bunda...

- Não estou com carinha de bunda, Im Jaebeom. – O mais novo foi até o amigo, aceitando um abraço que o mesmo oferecera enquanto mantinha os braços abertos. Im ajeitou-os em um abraço lateral, enquanto saiam da cozinha e caminhavam pelo corredor que os levaria até a sala de estar. – Eu só estou com sono, senhora Ivyns está certa...

- Ah, Jiny, nos conhecemos desde muito novos para sabermos diferenciar sono de tristeza, não acha? – Questionou Jaebeom. – Somos melhores amigos; qual o problema de me contar o que está acontecendo...

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