CAPÍTULO 5

1.6K 233 5
                                    

Vengeance respirou fundo e o ar entrou em seus pulmões congestionados de forma dolorida.
Essa era a quinta doença que o doutor infligia nele. Uma das piores. A tosse o incomodava demais, e depois da tosse vinham os vômitos. A falta de apetite, a febre, a dor de cabeça, tudo isso era estranho a ele. Novas Espécies são imunes a muitas doenças. Vengeance sentia uma dor de cabeça ocasional, mas era raro. Comer algo que não fizesse bem, também era muito comum entre eles, Harley era o rei de comer porcarias, por exemplo. Mas esse conjunto de sintomas, ele nunca tinha passado, nem em Mercille.
O doutor era muito esperto. Mas sabia que não podia manter Vengeance ali por mais tempo. Os medicamentos para a gravidez de Halfpint foram entregues todos. A droga de aprimoramento dos sentidos, força e resistência para humanos também tinha sido concluída com sucesso. O doutor ficou muito contente com isso. Pena que Vengeance trapaceara. O teste final, uma luta entre Vengeance e um cara qualquer, pago para lutar pelo doutor, foi uma encenação. Vengeance sempre gostou de testar seus limites. A luta serviu para isso. O cara já era muito forte, com a droga ficou quase invencível. Quase. Vengeance o venceria se quisesse. Lutar não tem a ver tanto com força quanto tem de estratégia. Mas Vengeance foi nocauteado. Pelo menos foi o que deixou o doutor pensar. A droga dele o faria forte entre humanos, e deixaria um Nova Espécie mediano fora de combate.
Mas contra os violentos como Valiant, ou os frios como Jericho e Leo, ou ainda, os cruéis como James e Florest não faria qualquer dano. No caso de Valiant, quem o enfrentasse usando aquela porcaria só o deixaria mais puto. Seria algo ruim de se ver.
O carro do doutor e mais um, uma SUV provavelmente, entraram na garagem. Vengeance já sabia que outras pessoas moravam ali, inclusive uma mulher e um Nova Espécie macho. Eles estavam sempre usando o preparado do doutor que neutralizava o nariz dele, mas havia momentos em que captava o cheiro deles mesmo assim. Graças ao leãozinho. Ele tinha ensinado a Vengeance como sentir os cheiros mais difíceis de captar. Não era um super nariz o que ele tinha afinal. Era a percepção do cheiro, algo que Novas espécies faziam instintivamente. Simple apenas tinha essa percepção aumentada. Ele era capaz de separar e catalogar cada nuance diferente dentro da mistura que existia em cada odor. Ele era mais impressionante do que se pensava. Mas era segredo. Vengeance jurou por sua honra não contar.
Devia haver um lugar na garagem onde eles se preparavam para entrar na casa, já com roupas, sapatos e acessórios limpos e livres de qualquer cheiro para entrar. Idiotas. Poderiam se poupar o esforço. Vengeance os ouvia, sabia que o Nova Espécie estava a quase uma semana fora, e que a mulher estava de cama. Machucada pelo doutor, ela gemia a cada movimento na cama. Tudo apenas ouvindo.
"Pai, me deixe vê-lo. Eu quero lutar com ele. Eu não acredito que Tom conseguiria nocauteá-lo tão fácil. Me dê a droga, você deu para eles quando estava na Reserva, por que não pode me dar?"
"Cale-se! Ele pode te ouvir seu idiota!"
"Que ouça! Ouviu desgraçado? Quando eu te pegar serei a última coisa que seus olhos vão ver."
Vengeance sorriu. Descontrolado, mimado e idiota, uma criança grande.
Pelo menos Vengeance não teria remorsos em deixá-lo quando fugisse. Agora a mulher era outra história. Vengeance tinha certeza de que ela estava ali contra sua vontade. E por isso ainda não tinha ido. As doenças com que o doutor o infectou não eram incapacitantes ao ponto de impedí-lo de fugir. Mas precisava ver essa mulher. E por isso se deixava ficar.
A porta abriu e Gabriel entrou com uma mulher desacordada no ombro. O quarto onde Vengeance estava parecia uma enfermaria e tinha algumas macas num canto. Gabriel a soltou no chão como um saco de batatas e pegou um fino colchonete de uma das macas e jogou perto dela.
"Olá. Como está se sentindo hoje?"
"Como um pedaço de merda."
Ele parou de sorrir. Odiava o fracasso.
"Voltarei para exames. Enquanto isso quero que conheça Amy Delacour herdeira dos perfumes Delacour. Harley atirou alto dessa vez. Seja delicado com ela Vengeance."
Do jeito que ele a jogou, ela permaneceu. Devia estar muito dopada.
Se pudesse se aproximar, a acomodaria melhor, mas poderia passar para ela a doença.
Não demoraria muito a ir embora. Infelizmente dessa vez não mataria o doutor. Mas a hora dele chegaria.

HarleyOnde histórias criam vida. Descubra agora