Amy entrou no quarto do pequeno motel onde já estava a uma semana se sentindo desanimada. Ela tinha passado os últimos quatro dias tomando o café horrível daquela lanchonete e nada de Harley.
Ela já devia imaginar que ele não apareceria. Talvez aquele dia, o dia em que se conheceram, foi o primeiro e único dia que ele tencionava passar naquele lugar.
Mas porque ele conversara com ela? Que droga! Por que homens eram tão indignos de confiança? Tudo bem que ela não dissera que voltaria ali. Ela poderia ter pedido o número do celular dele. Agora estava naquele motel horrível e sem vontade de ir embora. Ela já devia ter ido. Voltar para Nova York, para a galeria, para o tio. Mas todo dia, quando ficava até a hora do almoço na lanchonete, sempre pensava que podia ficar um dia mais.
Um barulho forte foi ouvido do quarto ao lado. Era a cama batendo contra a parede com força. Senhor! Até na hora do almoço? O cara era uma máquina de sexo!
Amy já tinha até se acostumado com o barulho ritmado da cabeceira da cama batendo contra a parede. Ela não queria ficar ouvindo, mas o cara não se importava se todo o motel o ouvisse. Num primeiro momento, ficou enojada, depois admirada, agora, já estava indiferente.
Mas aquele lugar era perto da lanchonete. Então foi ficando. O cara do lado, pelo menos era silencioso quando não estava transando. Ela até mesmo se assustava quando, depois de horas de silêncio, do nada começavam as pancadas e os gemidos das prostitutas. Eram prostitutas, Amy poderia jurar. Nenhuma mulher, mesmo a mais casual, aceitaria ser mandada embora depois do sexo como ele fazia.
E ele fazia uns ruídos estranhos também. Parecendo rosnados. Ela reclamou com o dono do motel por causa dos barulhos. Mas o cara simplesmente deu de ombros e sugeriu que ela poderia ir embora se não estivesse gostando do lugar.
E ela tinha pagado a mais! Não quis mostrar seu documento ou preencher uma ficha, então ele cobrou uma fortuna. Agora a mandava ir. Droga!
Mas ficaria mais um dia. Só mais um dia!
Os barulhos cessaram e ela esperou pelo som da voz rouca dele. Era uma voz muito grave e muito rouca. Voz que despertava um certo medo nela.
"Saia!" Era isso, ele gozava, e expulsava a prostituta.
"Mas você não quer que..."
"Pegue seu dinheiro e saia. Se demorar um segundo a mais, será seu último programa."
Amy se sentou na cama. As pernas não a obedeciam de tanto medo que sentiu. Meu Deus! E se ele soubesse que ela estava ali ouvindo?
Ela não duvidava de que ele estivesse falando sério.
Ela engatinhou na cama até que encostou as costas na cabeceira e abraçou os joelhos. Ficaria bem quietinha ali, até que ele saísse. Então pegaria suas coisas e voltaria para Nova York. Não ficaria ali, podendo ser degolada por um estranho o qual ela só conhecia a voz.
Ela pensou em Harley. Ele parecera querer vê-la de novo, mas sumira.
Era sempre assim, pensou. Quando encontrava algo de que gostava, esse algo era tirado dela. Fora assim com o pai, depois a mãe,e o pior de todos, David. Sua vida era um desfile de perdas. Pelo menos os pais se foram da vida dela contra a vontade, pois morreram. Mas David! Nunca imaginou que o tal golpe do baú existisse, mas quase fora vítima de um. O tio a salvou. Desmascarou David, o expondo quando a estava traindo. Depois disso, toda a fortuna dos pais, deixada para ela, ficou sob o controle do tio. Ela ainda era muito rica, mas todos os seus gastos tinham que passar pelo tio. Ela não se importava, era muito trabalhoso dirigir tudo aquilo mesmo.
Ela esticou as pernas. O quarto ao lado estava muito silencioso. Ele era assim. Só fazia algum tipo de ruído quando estava transando. Mas depois o quarto dele ficava em silêncio total. Ela ouvia o chuveiro, é claro, mas era só. O estranho era que de alguma forma, que ela não sabia qual, ela sentia que ele estava lá. Ela o sentia, havia uma conexão estranha entre eles. Às vezes Amy pensava que ele queria chamar a atenção dela com todo aquele barulho.
Amy precisava voltar para casa. Estava ficando louca. Pouco depois ouviu a porta se abrindo, alguém entrar, e os barulhos recomeçaram.

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Harley
FanfictionTudo o que Harley queria era continuar sua vida errante em paz, voando pelas estradas em sua moto. Mas bastou um par de tímidos olhos verdes para fazê-lo descobrir que mesmo enraizado num único lugar, ele poderia desbravar as estrelas. Quarta histór...