Vengeance já estava sentado ali a umas duas horas, e seu estômago roncou. Ele nem se lembrava da última vez que comeu. Mas um filho era algo muito mais importante que comer ou dormir. Mesmo que esse filho o odiasse.
"Vá comer, os roncos do seu estômago estão me incomodando, V." Disse Brass. Ele estava fazendo companhia a Vengeance no quarto do hospital onde Hunter estava inconsciente. O filhote tinha se alterado tanto que nem os machos mais fortes conseguiram contê-lo, então, foi sedado. Vengeance já estava naquele quarto maldito a dois dias.
Vengeance tocou de leve na face de seu filhote. Era como se olhar num espelho e se ver mais jovem. O mesmo cabelo preto e ondulado, os olhos azuis claros, o formato da boca, o queixo forte. Esse calor de orgulho no peito era o que os seus amigos que eram pais deviam sentir. E ele também sentia. Seu filhote era extraordinário, sua força e resistência eram incríveis.
Mas ele estava quebrado. Sua alma não sabia como se portar ante sentimentos fortes. Então sua veia violenta assumia, e que todos saíssem do seu caminho. Hunter era um rolo compressor. Ele não se desviava, ele passava por cima.
"Vou buscar alguma coisa, e se não comer, vou fazer você engolir a força."
"Só nos seus sonhos, Brass. Volte para sua fêmea." Ele disse. Brass entendeu e saiu.
"Sei que você não está sedado, Hunter. Mas parabéns pelo esforço, conseguiu me enganar por mais de um dia. Mas pare com isso, mijar por essa sonda não deve ser confortável."
Ele abriu os olhos. Estavam meio acinzentados, como os olhos dela. Ele puxou a sonda do pênis por baixo do lençol e se sentou rencostando- se na cabeceira. Cruzou os braços numa postura defensiva.
"Porque você nunca a defendeu? Ela estava sempre gemendo de dor, mas você nada fazia."
Havia milhares de coisas para perguntar, mas isso era o que martelava em sua mente desde que a ouviu gemer de dor, no primeiro dia em que foi levado para aquela clínica desativada.
"Era parte do tratamento. A dor fazia parte. Mas meu pai estava tendo algum êxito. Ela estava empolgada."
Ouví-lo chamar Gabriel de pai, era uma marretada no peito. Ele sabia disso, e continuava. Devia odiar Vengeance demais.
"Que tratamento?" Ele não sentiu cheiro de medicação nela. Mas a valeriana confundia bem seu sentido de faro.
"Ela tem câncer, idiota. Já devia ter morrido a muito tempo, mas meu avô e depois meu pai a mantiveram com vida."
Vengeance sentiu a mente entrar em colapso. Em suas visões e sonhos, ele sempre a via linda e saudável. Ele esteve preso naquele lugar pra tirá-la de lá. Mas não podia colocar a vida de Amy em risco, então teve que tirá-la de lá, deixando a fêmea para trás. Mas se ela estava doente, estaria mas mãos do doutor. Droga!
Vengeance olhou bem no rosto de Hunter e sentiu o desprezo que ele sentia pela mãe. Ele estava realmente muito quebrado.
"Você não sente nada por ela?" Vengeance queria entender aquele filhote. Não acreditava que alguém saído dele pudesse ser tão desprovido de sentimentos pela própria mãe.
"Mas eu sinto. Eu sei que ela me odeia, e eu a odeio de volta. Simples assim." Ele deu de ombros.
Vengeance soube naquele momento que o filhote ainda tinha salvação. Ele pode sentir a dor por trás das palavras. Mas deixou o assunto da fêmea para depois. James poderia rastrear as internações dela, só precisava de seu nome.
"Eu te odeio também. Tanto que gostaria que você saísse daqui."
Ele era uma criança mimada. Talvez não tivesse a idade que Vengeance pensava que ele tinha. Talvez não tivesse sido gerado da maneira tradicional.
"Quantos anos você tem?" Todos os filhotes da segunda geração odiavam essa pergunta. Com Hunter não foi diferente.
"Dezoito. Mas posso chutar sua bunda sem esforço, velhote."
Dezoito anos. Batia com a data em que ele, Wrath e os outros foram transferidos para aquela outra instalação.
Vengeance se lembrou de 919. Ela não o amava, não como as fêmeas dos seus amigos os amavam. Eles tinham mais um acordo de convivência e proteção. Mas doeu muito quando ela morreu. O sentimento de impotência, ao vê-la definhar nos braços dele e não poder fazer nada.
Não deixaria outra fêmea morrer nas mãos de um humano sem coração.
"Você sabe o nome completo dela, da sua mãe? Não vou deixá-la nas mãos imundas daquele filho da puta."
Disse se levantando.
"Ela não é minha mãe, e tecnicamente vocês todos são filhos de putas. Ou você acha que as barrigas de aluguel que eles usaram eram virgens inocentes?" Ele disse enquanto ria cruelmente. Vengeance se lembrou dele rindo com sangue na boca, não foi algo bonito de se ver.
"Eu sei que ela é sua mãe. Vou achá-la e matar Gabriel."
Isso fez com que os monitores ligados a ele apitassem. Logo, Trisha estaria ali
"Ela é minha tia! Minha mãe morreu no meu parto! Eu matei minha mãe!"
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Harley
FanfictionTudo o que Harley queria era continuar sua vida errante em paz, voando pelas estradas em sua moto. Mas bastou um par de tímidos olhos verdes para fazê-lo descobrir que mesmo enraizado num único lugar, ele poderia desbravar as estrelas. Quarta histór...