Amy acordou com o corpo dolorido, numa posição estranha. A cabeça também doía muito. Estava num quarto grande com um monte de coisas entulhadas. Parecia ter sido uma enfermaria, pois havia vários armários, macas, colchonetes e cadeiras quebradas.
Já devia início da noite, mas se do mesmo dia ou de outro, ela não sabia.
"Você chegou hoje, pela hora do almoço, mais ou menos." Uma voz rouca disse. Ela se virou rápido e sentiu a cabeça latejar.
Do outro lado do quarto, acorrentado pelos braços à parede estava um homem grande e musculoso. Ele estava vestindo apenas uma calça de moletom, e o tórax esculpido chamou a atenção de Amy.
"Quem é você?" Ele não parecia hostil. O comprimento das correntes era grande, ele poderia caminhar pelo quarto com elas, mas estranhamente não sentiu medo dele.
"Meu nome é Vengeance, sou amigo de Harley. Não se preocupe, fêmea, não vou te machucar."
"Eu fui sequestrada, mas não entendo bem o porquê. Eu apenas conversei com Harley a uns dias atrás. E esse cara, o ninfomaníaco, apareceu na porta do meu quarto, me apagou e me trouxe."
Ele confirmou com a cabeça. Não fez mais perguntas mas ficou olhando-a com um olhar estranho. Aliás, seus olhos por si só, já eram estranhos pra caramba. Eram um azul muito claro, pareciam um diamante azul. E as feições dele também eram bem marcadas. Meu Deus! Ele era um Nova Espécie! Amy vasculhou seu cérebro em busca de algo sobre ele nas inúmeras reportagens que ela leu ou assistiu sobre eles. Nada.
"Você apenas conversou com Harley, não compartilharam sexo?"
Credo! Que jeito de falar! E que pergunta indiscreta! Será que Harley também era um Nova Espécie? Ele era grande e forte, quase do tamanho desse tal de Vengeance.
"Não, claro que não. Eu só o conheci na lanchonete, só isso."
Ele balançou a cabeça de novo. Parecia entender tudo, diferente de Amy, que estava totalmente confusa. Um pensamento terrível veio a mente dela. Todo tipo de pessoas ruins perseguiam os Novas Espécies. Ela ouviu o ninfomaníaco dizer ao pai dele que a tinha seguido até aquele motel. Eles iriam usá-la para atrair Harley. Mas considerando que ele não voltou a lanchonete, talvez ela não tivesse utilidade para eles. Será que a matariam então? Ela não tinha visto a cara do ninfomaníaco. Ele foi muito rápido. Só lembrou dos olhos dele. Olhos frios, maldosos, cruéis
"Você mora por aqui?"
Dizer a verdade ou não? Amy achou melhor dizer a verdade. Entre ele e o doido por sexo, ele parecia mais interessado no bem estar dela.
"Não. Eu fugi," limpou a garganta."Eu resolvi sair pelo país, e infelizmente não avisei meu tio. Eu moro em Nova York."
"Seu nome é Amy Delacour?"
Como ele sabia o nome dela? Amy estava mais confusa ainda.
"Sim. Como você sabe?"
Ele se levantou, parecia cansado, uma fina camada de suor fazia a pele bronzeada dele brilhar.
"Há um banheiro ali, quer usá-lo?"
Sim, ela precisava e muito. Ela foi, usou o sanitário, e se lavou o melhor que pôde. Enrolou o cabelo num coque no alto da cabeça.
Quando saiu, ele a olhou de cima a baixo com um olhar admirado. Era estranho se sentir admirada, sem que o dinheiro da sua família estivesse envolvido.
"Harley me surpreendeu. Ele tem alguma coisa entre as orelhas afinal." Disse e sorriu. Amy sentiu as pernas bambearem. Ele era lindo! O cabelo tinha sido cortado bem rente a cabeça, mas isso o deixava ainda mais bonito.
Ele passou por ela, que deu espaço para ele entrar no pequeno banheiro e fechar a porta.
Harley. Todos falavam em Harley.
Primeiro o doido ninfomaníaco, agora esse supermodelo. Todos falavam como se Harley estivesse ligado a ela.
O doido, tinha até falado em usá-la para atrair Harley. Porque?
Ela ouviu o chuveiro e não pode deixar de pensar em tomar banho bem demorado de banheira. Assim que essa confusão se resolvesse, voltaria para casa e agradeceria a Deus pelas mordomias que tinha.
Ele saiu com o corpo molhado, mas com a calça seca. Ele balançou a cabeça, tentando fazer a água do cabelo escorrer, igual a um cachorro.
Amy sorriu com a ideia de que ele parecia canino.
"Você tem genes caninos?" Será que ele se ofenderia?
Ele sorriu. Ela segurou um suspiro.
"Sim, sou canino." Ele não falava muito. Mas não parecia se incomodar com as perguntas que ela fazia então aproveitou:
"Porque pareço estar aqui por causa de Harley? Eu já disse que eu só conversei com ele uma única vez."
Ele se sentou numa cadeira, a única inteira que ela viu. Amy se acomodou num colchonete no chão.
"Harley esteve me procurando pelas cidades do entorno de nossa Reserva. Ele tinha a intuição de que eu não estava longe. E agora você está aqui. O doutor que te trouxe, disse que Harley acertou alto, e que você é herdeira de uma marca de perfumes. Então eu presumi que te trouxeram para atraí-lo."
"Porque você está aqui?" Se entendesse por que ele estava preso ali, talvez entendesse que tipo de pessoa a tinha trazido até ali.
"Eu estou aqui para que o doutor Gabriel Marshall faça experiências. Ele está tentando a cura de várias doenças as aplicando em mim e colhendo meus anticorpos."
Ele falava como se o que estava sendo feito a ele, não fosse uma coisa horrível.
"Gabriel Marshall? Não o conheço. Eu só quero voltar para minha casa. Já cansei dessa bobeira de proclamar independência. Quando voltar, vou enfrentar meu tio e pronto."
Ela sentiu as lágrimas descerem pelo rosto. Tinha sido uma estúpida. Tinha vindo de longe para fazer uma coisa que tinha prometido a mãe, mas agora talvez não sobrevivesse, nem para contar suas mágoas ao tio.
Ele se aproximou e se agachou bem perto dela. Com uma mão, enxugou as lágrimas da bochecha dela e ergueu o rosto dela.
"Confie que as coisas vão se acertar, fêmea, apenas confie."
Era balela. Palavras clichês, mas o olhar dele lhe dizia que estava falando sério, e que sabia de algo que ela não sabia.
"Você tem alguma curiosidade?" Ele se sentou no colchonete também, mas sem tocá-la. Ela o olhou com uma pergunta nos olhos. " Sobre nós, Novas Espécies, todas as fêmeas parecem ter."
"Você está querendo me distrair." Ele deu de ombros." E se eu disser que sei tudo o que há para saber sobre vocês?"
Aí foi a vez de Vengeance ficar surpreso.
"Mesmo?"
E ela sentiu as lágrimas descendo de novo. E dessa vez não as tentou conter, já fazia muito tempo que não chorava assim.
Ele passou um braço pelo ombro dela e ela apoiou a bochecha no ombro dele e chorou. Ele foi passando os dedos pelos fios do cabelo dela, que tinha se soltado do coque. Ela chorou e depois a onda de alívio, de peito lavado da dor e da perda, ela ficou quieta.
"Eu sei que usaram genes de grandes caninos, felinos e primatas. Eu sei que vocês não se submeteram, não fizeram tudo o que eles mandaram. Sei que os registros foram destruídos, que ninguém sabe como fazer outros de vocês. Eu sei que Justice se ofereceu como líder e foi aceito pela sua oratória, pela sua força e inteligência. Sei que o primeiro casal misto foi formado por Ellie e Fury, e que Fury foi baleado entrando na frente dela, a protegendo. Sei que vocês tem um conselho formado de sobreviventes das instalações, um de cada lugar.
Sei que escolheram seus nomes e que antes eram chamados por números." Ela respirou fundo, ainda podia falar e falar sobre Novas Espécies toda a noite. Era um assunto em que Amy era versada. Por causa da mãe.
Ela o olhou.
"922." Ele disse e Amy se arrependeu por ter falado demais.
"Me desculpe, eu não quis trazer lembranças tristes." Ele balançou a cabeça dizendo não.
"Não é triste. Não mais. Eu sobrevivi. Muitos de nós não. Isso sim é triste."
Ela afastou a cabeça para sorrir para ele. "Minha mãe teve câncer. Fez vários tratamentos. E enquanto fazia esses tratamentos, nós duas fizemos um álbum de recortes. Tudo o que saiu nos jornais e revistas sobre vocês."
Ele se levantou e ficou em pé no meio do quarto.
Um homem loiro e bonito entrou e a olhou com simpatia. Será que seria liberta? Será que ele era da polícia?
"Olá, Amy, que bom que está consciente. Você está com fome?
Ele tinha uma voz de anjo, embora a voz dele, de alguma forma, lhe parecesse familiar. Na verdade, ele parecia um anjo. Ele estava com uma bandeja cheia com travessas de comida e ela salivou. Ele colocou a comida no chão e sorriu para ela. Ela sorriu de volta, e ele saiu. Talvez fosse alguém que estava ali também contra a vontade.
"Não se deixe enganar pela carinha de anjo dele. Ele é o responsável por estarmos aqui."
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Harley
FanfictionTudo o que Harley queria era continuar sua vida errante em paz, voando pelas estradas em sua moto. Mas bastou um par de tímidos olhos verdes para fazê-lo descobrir que mesmo enraizado num único lugar, ele poderia desbravar as estrelas. Quarta histór...