O sol estava alto no céu, devia já ter passado do meio dia. Amy estava cansada, faminta e suada. O cabelo estava enrolado num coque acima da cabeça e a parte de trás de sua blusa estava colada nas costas. Harley, por outro lado, estava ainda mais lindo com o coque estiloso que ele fez nos cabelos.
"Ainda falta muito?" Ela tinha feito a mesma pergunta a uma hora atrás, e a resposta foi que faltava pouco. Esperava estarem já chegando então.
"Vem cá. " Ele disse e se virou se oferecendo para carregá-la nas costas.
Amy hesitou, mas a dor nos pés naquelas sapatilhas desconfortáveis falou mais alto e ela montou nas costas dele, envolvendo-o com os braços e pernas. Ele continuou, agora num ritmo mais rápido. Ela sempre se admirava da força dele.
Depois de algum tempo, eles se viram em frente a um muro de pelo menos uns seis metros de altura.
"Como vamos escalar isso? Eu nunca subi em nada mais alto que a escada da galeria da minha família, e ela só tem seis degraus."
E ela ainda tinha medo de altura.
"Existe uma entrada escondida. Eu nunca passei por ela, mas Leo me mostrou onde fica." Ele disse sem descê-la de suas costas.
Ele andou ainda uma meia hora ladeando o muro, até que parou e a desceu das costas.
"Veja." Ele disse apontando para uma folhagem de cor um pouco mais escura que as outras que brotavam do muro. Ela tocou numa folha e notou que era uma folha articial. Harley afastou a folhagem e havia uma porta, sem maçaneta, perceptível apenas se olhada bem de perto. A cor e a textura eram as mesmas da parede do muro.
Harley enfiou os dedos pela fresta da porta e empurrou fazendo força.
"Deve ter anos, desde que esta porta foi usada." Disse empurrando com esforço e depois de um minuto, a porta começou a deslizar, revelando uma abertura. Ele não abriu até o fim. Devia estar emperrada, mas deu para passarem.
Do outro lado, Harley deu- lhe a mão, e recomeçaram a caminhada.
"Como sabe para onde ir?" Ela só via árvores e mais árvores. Até o céu estava encoberto pela copa delas.
"Na verdade eu não sei. Só estou nos guiando para longe do muro em linha reta, e farejando os cheiros ao redor. Há muitos animais aqui. Temos de ter cuidado."
"Quem é Dusky?" Ele tinha dito que ele esperava que Dusky os ouvisse.
"Dusky é como um ancião entre nós. Ele foi um dos primeiros que foram criados. Ele é primata, mas não é alto e forte como os outros. Ele tem traços humanos e é cego. Ele tem a melhor audição entre os primatas,melhor até que a de Jericho."
"Jericho? Como a cidade bíblica?" A cada particularidade que Amy aprendia sobre eles seu coração doía um pouquinho ao pensar na curiosidade de sua falecida mãe.
"Nunca soube muito sobre as histórias bíblicas, mas deve ser, nunca perguntei a ele." Ele disse dando de ombros.
"Jericho era o nome de uma cidade que acreditava que suas muralhas eram intransponíveis. Mas o povo de Deus rodeou a cidade por sete vezes tocando seus instrumentos e as muralhas caíram e os hebreus tomaram a cidade."
"Cairam como?" Ele parou. Seus olhos curiosos estavam dourados e Amy conteve um suspiro, ele era muito bonito.
"Com o poder de Deus." Amy disse com um sorriso.
"Você acredita nisso? Muitos que dizem acreditar em Deus, afirmam que somos criação do homem, por isso, não somos dignos da graça de Deus."
"É muito simples, Harley. O mistério da vida, continua um mistério. Os cientistas podem replicar, moldar a vontade deles, como aconteceu com vocês. Mas não são eles que fornecem o fôlego da vida. É Deus. Você tem universo inteiro dentro da sua alma, e ela não foi fabricada num laboratório, ela vem de Deus."
Ele a beijou de forma doce, aquecendo o coração dela, e quando soltou seus lábios, ficou olhando para ela com paixão nos olhos. Os olhos dele eram algo que Amy não cansava de admirar. Ia do dourado até o mais quente tom de café.
" Bom, vamos continuar, não vou mais montar em você no mato."
Ele estava sério, mas ela riu.
Andaram durante um tempo até que Harley parou farejando, e girando o corpo procurando alguma coisa no ar.
"Silent! Silent, calma amigão, só estamos de passagem."
Ele falava num tom preocupado. E abraçou Amy pela cintura.
"Se eu disser corra, corra com tudo, princesa. O mais longe que puder, naquela direção." Disse baixinho no ouvido dela e apontando para o sul. No mesmo instante uma sombra escura voou sobre eles, e Harley empurrou Amy longe dele. Ela caiu de bunda no chão e ficou estática olhando o enorme homem peludo dar um soco no rosto de Harley, o lançando alguns metros atrás. Harley pareceu ter desmaiado, pois continuou onde estava, imóvel.
Amy estava paralisada. Sabia que tinha que correr, mas não conseguia sair do lugar, aterrorizada.
O homem foi dando passos em sua direção, e Amy não pode deixar de reparar no tamanho dele. Muito grande, devia passar dos dois metros, e forte, muito musculoso. Ele era bem peludo. Seu peito desnudo, coberto de pêlos era amplo e seus braços pareciam duas toras. Seu rosto estava meio barbeado, com uma bochecha mais barbada que a outra.
Ele inspirou o ar e fez uma careta. Ele seria bonito sem aqueles chumaços de pêlos no rosto. O cabelo dele ia até o quadril, e parecia ter sido penteado.
"Harley, não! Minha!" Ele disse, parando a um passo de onde ela estava caída.
Ela arrastou a bunda para trás tentando fugir do gigante, queria gritar por socorro, mas a voz não saía.
"Silent! Não!"
Uma menina loira apareceu na frente de Amy e ergueu os braços.
O enorme Nova Espécie parou e olhou para a menina contrariado.
"Silent, que vergonha! Ela pertence ao tio Harley!"
Amy tomou o maior susto de sua vida, quando três meninos ruivos idênticos, ficaram também a sua frente. Eles nitidamente eram Nova Espécie. Meu Deus! Eles eram filhos de Novas Espécies!
"Silent!" Um menino de três anos também apareceu e juntou ao grupo.
Amy se levantou e abriu a boca para dizer alguma coisa quando ouviu Harley gritar:
"Que porra vocês estão fazendo aqui?"
O grito assustou o Nova Espécie gigante e esse se lançou em Harley caindo em cima dele.
" Silent!" Todos as crianças gritaram ao mesmo tempo e o Nova Espécie saiu de cima de Harley.
Nesse momento um choro forte de bebê se ouviu em algum lugar, e o tal Silent saiu em disparada em meio as árvores.
As crianças saíram correndo, mas Harley pegou o menor pelo braço. Ele tinha lindos cabelos negros e lisos compridos até os ombros. Os olhos dele eram castanhos claros como os de Harley. Ele era bem parecido com Harley também, Amy constatou sentindo um frio na barriga.
"Diz pra mim que esse choro não é de Brave." Harley estava possesso. O menino porém não se assustou o mínimo e disse sem parecer se importar com a força que Harley o segurava.
"Não é o Brave!" Harley o soltou e ele olhou para Amy. Ele era mesmo parecido com Harley.
Harley respirou aliviado e começaram a ir na direção que os outros foram.
"E não é Gift também?"
O menino saiu correndo.
" Droga! John, volte aqui!"
Harley ia correr atrás dele, mas parece se lembrar de Amy e suspirou.
"Amy, por favor, não fique zangada comigo, nós não temos permissão de falar sobre os filhotes."
"Ele é seu filho?" Isso era a única coisa que ela queria saber, afinal, ela entendia a importância de uma informação dessas.
"Não, claro que não. Ele é filho de Brass e Sophia. Se não reparou, eu e Brass somos parecidos."
Sim, é claro. Eles tinham a mesma cor de cabelo e olhos.
Harley parou frente a um arbusto muito espesso, afastou alguns galhos e uma porta apareceu do nada. Era uma cabana totalmente coberta de folhagens.
A porta estava aberta, e eles entraram. Dentro não havia muita coisa. O chão estava coberto por peles. E um colchão estava num canto. Nesse colchão, a garota loira estava sentada alisando os cabelos de um garotinho que estava deitado com a cabeça no colo dela. Ela estava cantando baixinho e o bebê parecia adormecido.
O gigante, Silent, estava com outro garotinho no colo, esse tinha pele escura, com lindos cachinhos negros.
Harley fez sinal para ela ficar calada.
"Sarah, sua irmã sabe que vocês trouxeram os filhotes aqui?"
A menina baixou os olhos.
"Silent queria muito conhecê-los, então eu disse que os levaria na casa de Simple."
"E nós dissemos pra minha mãe que iríamos para a casa de Sarah." Um dos meninos ruivos falou, parecendo achar o estratagema deles muito esperto
"Cale a boca, Honest!" O outro falou. Esse tinha o ar de ser o líder. Olhando-o melhor, Amy viu que ele era muito parecido com James. A mente de Amy estava em parafuso. James não podia ser pai daqueles trigêmeos, ou podia?
"Existe algum adulto que sabe sobre essa loucura que vocês fizeram?" O menino balançou a cabeça dizendo que sim.
"Dusky." O que tinha falado primeiro, Honest, disse.
"Honest!" O outro disse. O homem peludo rosnou com o tom deles. Um dos bebês adormecidos resmungou.
"E pelo que me consta Silent tem esse nome por ser mudo. Mas tenho certeza que o ouvi dizer que minha mulher é dele."
Ele estava furioso, mas ainda assim o coração dela perdeu uma batida.
"Harley fraco, Silent forte, fêmea." Silent falou olhando nos olhos de Amy. Ele tinha olhos bicolores, um azul e outro castanho.
As crianças riram.
"Estamos ensinando ele algumas frases. Ele é muito inteligente, tio. Ele não falava porque nunca o trataram com paciência e carinho." A menina falou.
Amy a achou muito bonita, seus olhos eram de um azul muito intenso, e os cabelos loiros eram sedosos e brilhantes. Os trigêmeos eram idênticos e deviam ter uns sete anos, com cabelos cacheados de um vermelho intenso, e olhos dourados.
"Eles se parecem muito com James. São irmãos dele?"
"Sim. Valiant tem dez filhos. Simple, vamos sair daqui, e eu já adianto que vou contar aos pais de vocês. Vão ficar de castigo pelo resto da vida."
O menino menor começou a chorar.
"Por favor, tio. Eu gosto muito de Silent. Não conte, por favor!"
O gigante se levantou com cuidado para não acordar o bebê e olhou ameaçadoramente para Harley.
"Harley conta, Harley morre."
Harley esticou o corpo em toda a sua altura e cerrou o punho.
"Estão felizes? Vamos embora daqui. Vocês se colocaram em risco, porra!"
"Tio, você não vai contar nada. Vamos John, não chore, ele não vai dizer nada." O líder, Simple, disse com um olhar idêntico ao de James, frio e cruel, uma coisa muito estranha num garotinho de sete anos.
Harley sem tirar os olhos de Silent, colocou as mãos na cintura.
"Você está me ameaçando, Simple?"
"Se ela foi a causa da brincadeira do champanhe, sim, tio, estou."
Harley mudou sua expressão na hora. Parecia estar fazendo considerações com a mente. Ele suspirou e disse:
"Vamos embora. Sarah, me dê Gift. Candid, pegue Brave."
O um dos trigêmeos, que tinha ficado calado todo o tempo, pegou o bebê do colchão. Era um bebê enorme, de mais de um ano, mas ele o pegou como se não fosse pesado.
"Vamos pelo túnel, tio." Disse o menino moreno, John.
"Que túnel?" Harley perguntou.
"Um túnel encurta bastante o caminho, tio. Vamos por aqui." O que carregava o bebê disse e saiu andando na frente. Todos foram andando e Silent parou na porta.
"Filhotes voltam?" Ele disse olhando fixo para Harley.
Amy ficou com pena do grandão.
"Sim, mas vamos conversar."
O gigante sorriu e Amy viu que debaixo daquela barba mal aparada havia um homem bem bonito.

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Harley
FanficTudo o que Harley queria era continuar sua vida errante em paz, voando pelas estradas em sua moto. Mas bastou um par de tímidos olhos verdes para fazê-lo descobrir que mesmo enraizado num único lugar, ele poderia desbravar as estrelas. Quarta histór...