CAPÍTULO 25

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O tio estava no escritório de Slade, examinando os desenhos do avô de Elisabeth. Eram realmente impressionantes, e o olho para a arte do tio não os deixaria passar.
"Tio." Não havia muito a dizer. Pelo menos não com o coração desenfreado como o dela estava. Havia raiva, mas uma inesperada saudade também. E quando ele se virou para ela e sorriu com um nítido alivio, ela foi engolfada numa onda de culpa, tristeza e frustração, tão forte que as lágrimas foram caindo e ela se sentiu como a adolescente que ela foi quando seus pais morreram e só ele havia restado.
" Por favor, Amy, não chore. Sabe que odeio quando você faz isso" Ele disse com seu tom autoritário, lhe estendendo um lenço. O pior é que ela sentiu falta até disso. Enxugou o rosto e ergueu o queixo. Ela não tinha feito nada de errado. Na verdade, se alguém tinha que se explicar, era ele.
"Onde estão as suas malas?" Ele parecia tão seguro, como se ela fosse ir sem eles conversarem.
"Tio, o senhor me usou para dar o desfalque? Eu assinei todos aqueles papeis, sem ler, confiando em você. Por que, tio? Eu sempre te obedeci e respeitei. Lhe entreguei toda a empresa. Por que eu estou sendo acusada de uma coisa que eu não fiz?"
Ele estava impassível, como se ela lhe tivesse perguntado sobre o tempo.
"Eu sempre trabalhei como um condenado, por aquela empresa. Sacrifiquei toda a minha vida nela, Amy, e você vem me dizer que me entregou a empresa? Se estivesse a frente da empresa, já teria aberto falência a muito tempo." Era verdade. Se existia alguém que nasceu sem nenhum tino para negócios, esse alguém era Amy.
Ele sempre começava um assunto jogando o sacrifício que fez pela empresa na cara de Amy. A vontade de baixar a cabeça, como sempre fazia, era grande, mas Amy estava mudada. Não aceitaria mais isso.
"E se tornou um dos homens mais ricos do pais em troca. Se meu pai estivesse vivo, ele seria o presidente, sabe porquê? Por que meu avô viu que ele tinha muito mais potencial que o senhor. Meu pai pegou uma empresa em expansão, e a consolidou como uma referência dos cosméticos, você apenas tocou o barco daí para frente. E não se esqueça que a qualquer momento posso trocar o presidente, essa é uma prerrogativa da maioria das ações. Me diga, tio, quem tem a maioria das ações?"
Quando terminou, Amy parecia uma bóia de piscina com a válvula de ar aberta, com toda a raiva saindo lentamente.
"Você está mostrando as presas, querida? Tire-me da presidência então. Estará me fazendo um favor, estou velho e cansado."
E Amy teve que concordar com ele. Pela primeira vez, reparou no quanto seus cabelos estavam grisalhos, em como seu rosto estava enrugado e na postura dele, outrora imponente, agora encurvada.
"Eu lhe fiz uma pergunta, tio." Ela falou. Estava tentando não se esquecer da situação dela, do problema sério com a justiça, o qual ele poderia ser culpado. Precisava continuar com raiva dele.
"Eu não tive nada a ver com essa história, Amy. Todos aqueles papeis nada mais eram que notas fiscais, devolução de valores, contratos de compra e etc. Eu posso provar que você não está envolvida, querida, não se preocupe."
Ela suspirou de alivio. Então, ele iria ajudar. Ter sobre si uma suspeita dessas era horrível. Ela sorriu. Poderia enfim viver com Harley ali na Reserva. Ou até poderiam ir para a europa, para a conclusão dos estudos de Amy. As possibilidades eram muitas.
"Mas você tem de ir comigo. Agora." As palavras dele esfriaram o coração de Amy. Ela não entendia porque teria de ir. Para provar a inocência dela, e depois ela voltaria?
"Eu até posso ir agora, tio, mas tenho de voltar. Eu me casei ontem. Sou cidadã Nova Espécie agora. Meu caso irá para o conselho deles. Mas se eu puder resolver isso com a justiça humana..."
"Justiça humana? Que diabos, Amy. Você é ingênua demais. Isso não serve na legislação atual. Você está sendo acusada de um delito supostamente cometido antes de se tornar cidadã Nova Espécie. Ter se casado com um desses caras não resolve seu problema. Você deve anular essa tolice o quanto antes."
"Meu casamento não foi uma tolice, tio! Não diga isso nunca mais, ou eu esquecerei que o senhor é meu único parente vivo, e não nos veremos mais."
Ele endureceu as feições. Estava resolvido a tirá-la dali. Mas Amy não iria.
"Se não vier hoje, agora, irá enfrentar todo o processo criminal. Eu não a ajudarei em nada. Todas as provas e documentos só sairão do meu poder ante mandado judicial. E em poucos minutos, você sairá daqui algemada."
"O senhor faria isso comigo?" Amy não estava acreditando no que estava ouvindo. "Permitiria que eu fosse presa, mesmo sabendo da minha inocência?"
Ele sorriu tristemente.
"EU não farei nada, querida. VOCE fará. A escolha é sua. Ou vem comigo e eu limpo seu nome, ou fica e faz isso sozinha."
Ela ergueu o queixo, a decisão tomada. Ficaria, é claro. Não abandonaria Harley.
"Se levantou esse queixinho, esperando demonstrar a teimosia de seu pai, pense na polícia entrando com tudo aqui, e te retirando a força dos bracos desse seu " marido". Pense na munição pesada que trarão, nos inocentes que podem morrer, tudo pelo seu capricho. Ou venha comigo e deixe meus advogados resolverem essa confusão em que você se meteu. Mas não tenho muito tempo, nem paciência para suas lágrimas, Amy. Escolha agora!"
Nesse momento, Harley abriu a porta do escritório com tanta força que arrancou um pouco do reboco da parede oposta.
"Amy!" Ele estava suado, descabelado e com um olho roxo. Mas era a visão mais linda da vida dela.
"Fique, Amy, nós daremos um jeito. Não importa se tivermos que te defender aqui dentro. Ninguém vai te tirar daqui!"
Amy sentiu o coração cheio de amor por aquele homem incrível. Mas o que ele pedia estava além das forças dela. Ela não poderia conviver consigo mesma se alguém se machucasse por causa dela. Ela precisava resolver a questão do desfalque. Ela nunca poderia ser feliz com Harley com isso pairando sobre eles. Seu tio tinha os meios para isso. Mas ela teria que convencê-lo de que não voltaria para a Reserva, nem para Harley. Até seu acasalamento teria que ser anulado. Uma lágrima quis brotar no canto do olho, mas ela a empurrou de volta. Teria muito tempo para chorar quando estivesse em Nova York.
Ela respirou fundo e ia dizer que teria de ir, mas Harley tomou a boca dela num beijo escaldante, louco, apaixonado. E o coração de Amy se partiu no momento em que ela o empurrou e limpou a boca com as costas da mão.
"Meu tio acaba de me dizer que o nosso casamento não serve para me livrar da condenação. Então, eu sinto muito, Harley, mas tenho que ir com ele. Eu agradeço tudo o que você fez. Eu serei grata para sempre, Harley, mas tenho que ir com ele."
Ele abriu a boca, muito surpreso com as palavras dela. Deu um passo a frente, mas não a alcançou, pois três homens tão grandes como ele, se colocaram entre Amy  e Harley. Justice era um deles.
"Amy!" O tom suplicante dele partia o coração dela em milhões de pedacinhos.
"Ainda bem que chegou, senhor Justice. Eu e minha sobrinha estamos indo. Espero, pelo bem de todos, que saiamos ilesos daqui." Nisso, mais dois Novas Espécies chegaram. Eram Brass e Moon. Amy suspirou de alivio. Eles eram os amigos mais chegados de Harley, o consolariam, até que ela pudesse dizer seu plano a ele, sem que o tio soubesse.
"Harley, por favor, eu tenho que ir. Não complique as coisas ainda mais." uma lagrimas rolou, pois ela não conseguiu impedir ante a visão dele contido pelos seus amigos, enquanto dizia o nome dela.
"Amy!"

HarleyOnde histórias criam vida. Descubra agora