Harley andava de um lado para outro no saguão do hospital. Se tinha sido só um tiro na perna, como tinha ouvido na reportagem, porque ela ainda continuava no hospital, um dia depois?
O tio dela, um homem alto e magro com cabelos grisalhos e olhar duro estava sentado de olho no celular. Charlotte, que não abriu a boca desde que entrou no helicóptero, estava olhando pela janela. Vengeance, como sempre, estava parado como uma estátua num canto.
Um médico apareceu no momento em que ele ia se dirigir a atendente mais uma vez.
"Francis Delacour." Ele falou baixo, mas no silêncio opressor, ele pareceu ter gritado.
"Sou eu." O tio de Amy se levantou bem devagar, e Harley notou o quanto ele estava debilitado.
"Eu sou o macho de Amy. Exijo saber como ela está!" O médico o olhou e Harley se lembrou que humanos falavam diferente, então tentou de novo:
"Amy se acasalou comigo. Então, ela..." Ele olhou para Vengeance.
"Doutor, Amy e Harley são casados, ele é marido dela, e está, como o senhor mesmo pode ver, muito nervoso e preocupado com o estado dela. Ele poderia vê-la?" O macho disse e sorriu. Os sorrisos de Vengeance eram raros e tinham um efeito sempre atordoante.
O médico sorriu de volta, piscou e recobrando sua postura fria e profissional, disse:
"Por aqui senhor Harley e senhor Delacour." E saiu andando, seguido por Harley e o tio de Amy. Charlotte se voltou da janela e disse:
"Harley, por favor, diga a ela que eu sinto muito!" Ela estava pálida e parecia fraca. Não devia ter comido em muito tempo.
"V., leve ela pra comer alguma coisa." O macho fez que sim com a cabeça. Harley ainda a ouviu dizer que não ia comer e mandar Vengeance pro inferno antes das portas do elevador se fecharem.
No terceiro andar, eles saíram, e antes de entrarem no quarto, o médico parou e disse:
"Não a cansem muito. Ela está bem, mas a perna está engessada, pois a bala trincou o osso. O maior dano foi mesmo o aborto. Eu sinto muito, senhor Harley."
Harley pôs as mãos sobre a cabeça e sentiu o ar sair do peito de uma vez só. Amy estava grávida! Grávida de um filhote seu! Um filhote que não existia mais, um filhote perdido porque ele não a protegeu. Ele, como um frouxo, ficou na Reserva bebendo, dormindo e se fazendo de idiota, enquanto Amy perdia seu filhote por levar um tiro de um filho da puta. Ele se sentou no chão, cravando suas presas na boca, segurando o uivo que queria sair.
"Calma, filho." O tio disse." Vocês são jovens, poderão ter outros bebês. Eu, inclusive, estou contando com isso, quero ver aquela minha casa cheia de meninos fortes como você, e de lindas menininhas ruivas como ela." Ele, com muita dificuldade de ajoelhou em frente a Harley.
"Ela precisa de você, filho. Levanta essa bunda daí e me ajuda, por que eu não consigo me levantar sozinho." Ele disse com um sorriso no rosto.
Harley se levantou e levantou o macho. Ele era alto, mas era leve, devia ser muito velho, Harley notou.
Eles entraram no quarto, e o coração de Harley doeu, vendo Amy tão pálida, com o rosto marcados por olheiras escuras e as maçãs do rosto, outrora marcadas e altas, agora encovadas. Até o cabelo vermelho parecia sem vida.
Ele se aproximou e a tocou no rosto. Ela abriu os olhos verdes e brilhantes, fazendo Harley dar graças a Deus. Tudo o que tinha acontecido não importava se eles ficassem juntos.
"Harley." Ela disse e uma lágrima escorreu pelo canto do olho dela.
"Amy! Graças a Deus! Eu não sei como eu viveria se algo pior tivesse te acontecido. Eu te amo tanto, princesa! Jure pra mim que você não vai mais sair das minhas vistas! Jure, Amy!"
Ele tinha falado um monte de bobeira, ele sabia, mas não conseguia pensar direito ainda. Vê-la tão frágil, naquela cama de hospital, mexia com ele. A vontade era tirá-la dali.
"Harley, eu sinto tanto pelo bebê! Eu estava desconfiada, mas eu achei que era muito cedo. Eu tinha que fazer o que o investigador pediu, eu tinha que ajudar a Charlie." Ela tentou se levantar, mas a perna imobilizada pelo gesso não permitiu.
"Calma, querida! Fique quietinha, Amy. Charlotte está bem, ela está no saguão." O tio dela tentou tranquilizá-la.
Amy procurou uma posição mais confortável e disse:
"David disse que tinha Charlie presa em algum lugar. Eu acreditei nele..." Ela estava ficando cansada.
"Shiii! Vamos ter muito tempo para conversar sobre tudo isso na Reserva. Você está bem, é tudo o que importa."
Ela fechou os olhos. Harley suspirou aliviado. Tudo tinha terminado. Agora, só precisava ter paciência.
Ele alcançou uma cadeira e se sentou segurando a mão de Amy. Apesar de ter dito que a amava, ela não disse que o amava também. Harley se sentia um pouco chateado com isso. Mas ele não podia fazer nada. Não podia perguntar se ela o amava, ainda mais ali no hospital.
Fechou os olhos, se recostando na cadeira. Ainda estava meio de ressaca. Ouviu o tio saindo. Ele não arredaria o pé dali. Amy apertou a mão dele.
"Harley, eu queria que você soubesse que eu saí da Reserva porque tinha muito medo de acontecer uma briga entre vocês e a polícia. E eu tinha que limpar o meu nome. Eu nunca pensei que podia perder o nosso bebê, eu não sabia que estava grávida quando vim pra cá." Ela parecia muito preocupada com isso.
"Amy, eu só quero que você fique boa. Eu lamento muito a perda do nosso filhotinho, mas podemos ter outros. Tudo o que me importa é que você melhore e possamos voltar para a Reserva. Você vai voltar comigo, Amy?" Ele perguntou com o coração batendo desenfreado, se ela se negasse a ir com ele, ele teria que ficar. Ou talvez, ela não quisesse mais que ficassem juntos.
"Você já me perdoou? Eu saí de lá virando as costas para a sua proteção, e olha no que deu. Eu perdi nosso bebê." E começou a chorar.
"Amy, por favor, não chore! Você é tudo o que importa pra mim. Eu sei que você está sofrendo, princesa, e eu também estou, mas não me deixe, eu não saberia viver sem você, Amy." Ele disse quase gritando. Estava desesperado. Vengeance apareceu no quarto.
"Harley, irmão, deixe-a descansar. O tio dela mandou me chamar para te convencer a deixá-la. Ela precisa ficar calma, e não dá pra ficar calma com você gritando."
Vengeance tinha razão. Harley se levantou, mas Amy tentou se erguer da cama, sem conseguir.
"Harley, por favor, fique! Fique comigo, quando eu ficar boa, nós voltaremos para a Reserva e eu nunca mais sairei das suas vistas." Ela ainda estava falando, quando uma enfermeira entrou e aplicou alguma coisa com uma seringa no acesso venoso de Amy. Ela fechou os olhos e apagou.
"Não é bom que ela se canse, senhor. Ela acabou de passar pela curetagem. Agora, ela dormirá toda a noite. O senhor pode voltar amanhã." Ela sorriu bondosamente para Harley, porém não tirava os olhos de Vengeance.
"Vamos, amigão! Amanhã, bem cedinho, voltamos." Vengeance segurou no braço dele, mas Harley negou com a cabeça. Não iria sair dali sem Amy.
"Vou ficar. Obrigado, irmão, mas você não sabe como me sinto. Só saio daqui com ela."
A enfermeira deixou escapar um suspiro e saiu do quarto. Vengeance foi logo atrás dela.
"O pior de tudo é que eu sei exatamente o que você está sentindo, irmão." Ele disse já fora do quarto.
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Harley
FanfictionTudo o que Harley queria era continuar sua vida errante em paz, voando pelas estradas em sua moto. Mas bastou um par de tímidos olhos verdes para fazê-lo descobrir que mesmo enraizado num único lugar, ele poderia desbravar as estrelas. Quarta histór...