CAPITULO 8

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Harley desceu da moto numa rua deserta, exatamente a meia-noite. Testou o comunicador no ouvido:
"Felinos são egoístas, dramáticos e idiotas, Caninos são bons de cama. Testando."
James:
"Meu pai tem dez filhotes pra provar que você está errado. E ainda te desmaiou com um soco só. Testando."
Darkness:
"Tem uma gostosa do FBI esquentando minha cama, quem vai te esquentar quando voltar? Testando.
Joe:
"Vocês são três idiotas. Ouvindo alto e claro."
A cidade era até grande para os padrões das cidades ao redor, ficava umas duas horas da Reserva e era bem mais populosa que as outras. Gabriel era inteligente, se escondeu perto, mas não tão perto que pudesse ser rastreado.
A clínica abandonada ficava na parte sul da cidade, afastada do centro, mas com fácil acesso ao mesmo. Era um prédio de dois andares, mas o segundo andar, com certeza estava desativado.
A garagem devia ser de fachada, pois o cheiro dos carros vinha do lado oposto, onde havia um portão grande que nos tempos de atividade seria para carga e descarga.
Darkness saltou o muro com facilidade. Ele entraria e iria direto no doutor. James ficaria a cargo do Nova Espécie traidor, e Harley iria libertar Vengeance. Parecia um bom plano.
Harley se concentrou nos cheiros. Ele acharia Vengeance e o tiraria de lá.
Estranhamente, o cheiro que sentiu não foi dele, mas um cheiro que não deveria estar ali. Lírios, o cheiro estava fraco, misturado ao suor do corpo e com uma pitada de medo.
"Esperem! Não sinto o cheiro de Vengeance, mas de uma fêmea que eu conheci a uns dias atrás."
"Armadilha, então. Ela está aí para te atrair. Concentre-se em libertar Vengeance."
"Não sinto o cheiro dele."
"Pode ser a valeriana, tio. Se o doutor estiver aspergindo nas paredes e muro, você não vai sentir nada." Disse Joe.
"Também não consigo sentir o cheiro do doutor ou de qualquer outra pessoa." Disse Darkness.
"Eu sinto o cheiro de Amy, mas não vem do prédio. Acho que vem de onde estão os carros."
"Ela deve ter vindo no carro de um deles." Disse James." Vá até os carros e confirme."
Harley deu um salto considerável, mas não alcançou o muro como Darkness. Mesmo assim conseguiu segurar na borda, e com outro impulso, caiu do outro lado sem fazer barulho.
Foi em direção aos carros, e antes mesmo de se aproximar deles o cheiro de Amy o abateu. Estava fraco, mas ele podia sentir. O que ela estaria fazendo ali?
Foi seguindo o fraco cheiro até que chegou numa porta na lateral do prédio. Estava trancada, e ele não queria fazer barulho.
"James tem uma porta reforçada aqui, se eu a quebrar fará muito barulho e não sei onde vou estar quando entrar."
"Tio, onde você está tem uma porta menor, de vidro, à sua esquerda. Se atirar nela com um silenciador, o barulho será mínimo."
"Mas o Nova Espécie vai ouvir e vir atrás de mim, preciso saber onde Vengeance está."
"Não há como saber onde ele está sem o faro, tio. Tenho as plantas e acesso às câmeras. Mas não sei onde ele está."
"Ok, Joe. Vamos por partes. Vou entrar."
A porta era de vidro grosso, mas a fechadura era até bem simples. Harley tirou a pistola que James tinha lhe dado, já com um silenciador acoplado e encostou-a no trinco. O barulho realmente foi baixo, mas com certeza o Nova Espécie ouviu.
"Estou dentro." Harley estava em um depósito pequeno, cheio de móveis quebrados. A porta do outro lado estava fechada, mas era de madeira fina. Harley forçou e a abriu sem esforço. Saiu num corredor e curiosamente seus instintos lhe gritaram para ir a direita.
" Estou dentro." Disse James.
"Eu também. Estou numa cozinha, e sinto o cheiro fraco do doutor, vou pegá-lo."
Seguindo a direita, Harley se viu num corredor cheio de quartos. Continuou até que a ouviu. Estava sussurrando com alguém. Mas só ouvia a voz dela.
Harley sorriu. Quem ficava em silêncio absoluto quando alguém falava? Só conhecia um macho assim.
"Eu queria tanto tomar um banho de banheira! Você gosta de banho de banheira? Vocês tem banheiras na Reserva? Você tem uma cabana só pra você? Existe algum rio por lá? Felinos gostam de banho?
Esta pergunta o fez rir. Mas ele acabou imaginando-a nua numa banheira cheia de espuma, e seu pau começou a dar sinal de vida. Não era hora para isso.
Ela continuou sussurrando essas perguntas, mas Vengeance devia estar respondendo com a cabeça, pois não ouvia a voz dele. E não sentia cheiro de nada.
Chegou perto da porta e testou a maçaneta, estava trancada. Darkness era bom em abrir essas fechaduras, mas ele não podia chamá-lo, ele estava na cola do doutor. Colou o cano com o silenciador da arma na fechadura, mas quando ia dar o tiro alguém o garroteou por trás e Harley só teve tempo de agarrar o braço musculoso antes que este torcesse seu pescoço. E ficaram assim, o macho forçando o aperto e Harley segurando o braço, tentando impedir que ele o sufocasse.
"Veio resgatar a fêmea, Harley? Tarde demais, já fiz tudo o que queria com ela. Provavelmente não vai querer um idiota como você."
Quem era esse cara? Ele tinha visto muitos filmes, pelo jeito. Falar quando devia lutar? Que idiota!
"Você deve estar se perguntando quem eu sou. Pois saiba que eu sou aquele que vai..."
O idiota ainda estava falando, quando Harley conseguiu um mínimo de espaço no forte aperto dele e deu-lhe uma cabeçada com toda a força.
Isso diminuiu o aperto no pescoço de Harley, possibilitando que ele se virasse por baixo do braço do traidor e num ato rápido, Harley emendou um cruzado no queixo, já meio trincado da cabeçada.  O macho caiu como um saco de batatas, e Harley ainda deu um chute poderoso na cabeça dele. Isso podia até ser considerado lutar sujo, por bater nele no chão, mas era vida ou morte.
Harley atirou na porta,como pretendia fazer, e a abriu.
Dentro havia uma grande pilha de macas, colchonetes, armários e cadeiras quebradas. Num canto viu um colchonete no chão e nele Amy estava sentada abracando os joelhos com as costas apoiadas em Vengeance, que a rodeava com os braços. Havia correntes prendendo os pulsos dele.
Quando eles o viram, ela soltou os joelhos e Vengeance abriu os braços. Ela se levantou devagar, devia estar naquela posição a algum tempo.
"Oi." Ela disse. Estava séria.
Harley se aproximou e tocou o rosto dela. Estava frio, ela ergueu os olhos, pois era bem baixinha.
Alívio puro encheu o peito de Harley. Alívio que ele nunca sentiu, na verdade. Ele já esteve em várias missões na força tarefa, mas desde que sentiu o cheiro dela, as coisas ficaram diferentes. Era como se a vida dele dependesse de tirá-la daquele lugar.
"Você está machucada?" Não sabia o que dizer. Tocou o rosto e foi descendo pela lateral da garganta dela, passando pelos ombros e os braços e, chegando às mãos dela, entrelaçou os dedos. Os olhos nunca saindo dos globos verdes dela. Respirando fundo encostou a testa na dela, e ficou. O coração estava batendo desenfreado. Era uma sensação totalmente nova, tanto que ele não saberia explicar o que era, se lhe fosse pedido. Só sabia que não queria soltar as mãos dela. Talvez nunca mais.
"Harley!" O aviso de Vengeance veio na hora certa e Harley conseguiu apenas com o instinto se desviar da perna de cadeira que o tal Nova Espécie lançou. Ele se abaixou usando o corpo para protegê-la. Ela virou uma bola debaixo dele. Um deslocamento de ar e o barulho das correntes indicaram que Vengeance pulou acima deles já encaixando um poderoso soco mandando o outro macho longe.
Ele caiu bem no meio de todas as coisas quebradas, mas não ficou lá, mal caiu já se levantou.
Harley teve curiosidade de ver a cara do safado traidor, e quando virou a cabeça na direção do macho, levou um susto daqueles.
Vengeance também arfou. O macho lhes deu sorriso frio e cruel, com sangue saindo da boca e manchando a camisa. Um olho dele estava fechado, o soco de Vengeance deve ter acertado em cheio.
A mandíbula também parecia torta, da cabeçada de Harley. Mas ele estava de pé, como se dois machos fortes não tivessem lhe golpeado com toda a força. Ele riu. Estava louco. Mas quando ia avançar, Darkness apareceu do nada e encostou o cano da arma na têmpora dele.
"Mãos na cabeça. E saiba que não me importa sua cara, nem de quem você seja filho, uma gracinha e estouro seus miolos."
Ele levantou as mãos e Harley mais do que depressa as algemou. Era estranho olhar para ele, tocar nele, então...
"Vengeance, você sabia?" Harley perguntou.
Ele deu de ombros. Se havia um cara péssimo para ser a porra de um vidente, esse era Vengeance.
James apareceu e dando uma boa olhada em Amy, sorriu para ela como um conquistador barato. A transformação de gêmeo do mal em Dom Juan foi tão ridícula que Harley riu.
Na mesma hora ele fechou a carranca, e a imagem dele arrancando a cabeça de Harley lhe veio a mente. Era uma possibilidade. Esse filhote não aceitava bem brincadeiras.

HarleyOnde histórias criam vida. Descubra agora