" parece que também não te conheço." As palavras de Harley ressoavam pela cabeça de Amy sem parar.
Tudo tinha perdido a importância. Não ligava se o tio em pessoa viesse buscá-la e ainda lhe desse umas palmadas no traseiro. Nada importava.
O olhar decepcionado dele a marcou, cavou um buraco no peito dela. Ela iria embora e nunca mais o veria. Por causa de uma bobeira.
A médica, uma bonita mulher loira de olhos azuis bondosos, a examinou rapida e eficientemente.
Agora, ela esperava por Justice, num escritório no mesmo prédio, porém numa ala oposta.
Era uma sala grande para um escritório. Se a mãe estivesse viva, iria pirar em saber que Amy estava num escritório do Nova Espécie responsável pela Reserva. Slade era o nome dele. A mesa estava abarrotada de papéis, e ele devia fumar, pois haviam alguns cigarros pela metade descartados no cinzeiro.
Mas o que chamou a atenção de Amy foram os desenhos num quadro de avisos.
O primeiro que ela viu foi Harley, claro. Todo vestido de Bad Boy, com botas e tudo. Sorridente, com a moto do lado. Amy sentiu um aperto no coração tão doído que ela perdeu a vontade de olhar os outros. Harley a mandou embora. Por causa de uma coisa mínima. Ela devia estar com raiva dele. Ele não entendeu, ela não queria ser localizada pelo tio, só isso. Ele era apenas um estranho que comeu a omelete dela. E agora, o que ele quisesse saber ela diria. Ela não tinha uma vida misteriosa mesmo. Na verdade, o sequestro foi a experiência mais alucinante da vida dela. Ela sentiria muito não vê-lo mais. Era uma dor forte, que cortava como uma faca afiada fazendo seu coração em fatias. Ela tinha de falar com ele. Eles poderiam se conhecer. Ela não sairia dali sem falar com Harley.
O tal Slade estava demorando. E por mais que seus olhos sempre voltavam para o desenho de Harley, ela tentou prestar atenção nos outros. Ela catalogava artes afinal.
Havia um da médica loira, com um enorme sorriso no rosto entre dois Novas Espécies. Eles eram iguais, só o cabelo de um deles era mais loiro. Era um desenho com tinta acrilica muito bom. As cores eram fortes, o artista com certeza amava muito o casal e o irmão do Nova Espécie.
O outro desenho também representava um casal. Era um Nova Espécie lindo, com uma cabeleira cheia negra, mas curiosamente seus olhos eram vermelhos. Ele devia ser primata, pois tinha as feições fortes, mas delicadas, não tão marcadas como as dos outros. A mulher era linda com cabelos castanhos e olhos esverdeados. Os detalhes das pinturas eram impressionantes. E o último de tinta representavam o Nova Espécie que a trouxe até o hospital, Brass, e uma mulher negra linda. Eles sorriam sorrisos felizes e apaixonados. A semelhança de Brass com Harley fez o coração dela apertar de novo.
Os outros desenhos eram a lápis, mas nem por isso deixavam de ser impressionantes. Havia um de Vingeance, ele sorria e estava com os cabelos na altura dos ombros. Ele era muito bonito, pena que cortou o cabelo e sorria muito pouco.
Havia um de uma mulher ruiva com olhos verdes de gato, e uma loira de olhos azuis e feições miúdas, esse feito com lápis de cor. Ela poderia ficar o dia todo ali, só admirando os belos traços do artista, mas um limpar de garganta a fez dar de cara com um dos retratados.
Era o que estava com a mulher loira, a médica, e o outro que parecia muito com ele, provavelmente seu irmão.
"São lindos, o artista é muito bom." Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça.
"Sim, ele é bom, mas da última vez que veio aqui trazer um desenho, me jogou o cinzeiro na cabeça, pois inventou que eu estava molestando Trisha."
"A doutora é sua esposa? E esse do lado dela é seu irmão?"
"Sim, eu e a doutora somos casados a muito tempo já. Nós ficamos juntos logo após minha libertação." Era muito tempo então. Quinze anos se ela não estava enganada. Ele não falou nada sobre o irmão.
"O artista e temperamental?" Ela sorriu imaginando a cena que Slade descreveu.
"Não, ele tem ou tinha Alzheimer, não entendo muito disso. Ele tem surtos. E vê as fêmeas da Reserva como mocinhas inocentes, e nós os machos estamos sempre querendo nos aproveitar da inocência delas."
Era muito engraçado, então, ela riu. Ajudou a ter coragem de correr até a cabana de Harley. Mas tinha de falar com Slade.
"Esses são diferentes. Parecem feitos por crianças." E eram mesmo desenhos infantis. Bons, mas os traços eram realmente infantis, com alguns melhores que outros.
"Esse foi feito por quem? Há crianças na Reserva?" Ela e a mãe sempre acharam muito triste que Novas Espécies não pudessem se reproduzir.
"Não, claro que não, esse filhote, quer dizer, menino, é de um dos nossos trabalhadores humanos."
Ela admirou os Novas Espécies ainda mais. Eles eram pessoas maravilhosas. Ela imaginou se o tio penduraria num quadro um desenho do filho de algum dos funcionários. Ela achava que não.
Havia alguma coisa escrita no desenho que os traços estavam melhor trabalhados. Era um desenho infantil, mas se via nitidamente que eram Slade, um outro que ela não conhecia, de cabelos e olhos negros, e Harley. Embaixo dos bustos estava escrito:
EU AMO MEUS TIOS BUNDÕES! ASS. JOHN.
"John? É o nome do filho do seu funcionário?"
Slade sorriu, ele como todos os outros era muito bonito, com olhos azuis e cabelo listrado com mechas loiras.
"Sim, ele está aprendendo a escrever."
Ela riu.
"Você não se importa por ele ter escrito tio bundão?" Ela riu um pouco mais.
"O quê?" Slade disse e se aproximou.
"Não tinha nada escrito nesse desenho. Deve ter sido Br..., o pai do filhote, quer dizer, do menino, ah deixa pra lá. Eu vou acabar com a raça daquele..."
Nesse momento Harley entrou correndo no escritório. Estava com jeans rasgado, camiseta e botas, lindo de morrer.
"Justice já chegou?"
Slade tinha tirado o desenho do quadro e estava rasgando a parte de baixo, a com a dedicatória.
"Não, mas não deve demorar. Você viu o que escreveram nesse desenho de John?"
"Não tenho tempo pra isso, Slade. Preciso conversar com Amy. Vou levá-la para minha cabana, mande alguém levar Justice lá, quando ele chegar."
"É melhor não, Harley. Tenho ordens para ficar aqui com ela até Justice chegar." Slade esticou a coluna ficando mais alto, o que não adiantou, pois Harley era alguns centímetros mais alto.
"Você me deve, Slade." Harley falou num tom bravo. Amy torceu para que slade se sentisse ameaçado."
"Você está cobrando?" O tom de Slade era frio. Ele parecia tão simpático a poucos minutos atrás. Devia ser uma coisa Nova Espécie, essa mudança brusca de humor.
"Sim. Por tudo o que me deve."
" Tudo?" Slade sorriu. Devia ser muito então.
"Sim. Agora saia da minha frente." Harley a segurou pela mão e com a mão livre deu um soco potente bem no olho direito de Slade. "Assim você pode dizer que tentou me impedir." Disse enquanto saía do escritório andando rápido, quase a puxando.
"Porra!" Foi a última coisa que ela ouviu, antes de montar na moto dele e ele arrancar numa chuva de cascalhos.
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Harley
FanficTudo o que Harley queria era continuar sua vida errante em paz, voando pelas estradas em sua moto. Mas bastou um par de tímidos olhos verdes para fazê-lo descobrir que mesmo enraizado num único lugar, ele poderia desbravar as estrelas. Quarta histór...