Capítulo 2

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Quando vi os corpos das pessoas que mais amo queimando tudo que pude fazer foi gritar. Meu coração batia tão forte que parecia que a qualquer momento ia atravessar meu peito. Eu não sei quanto tempo fiquei no meio das chamas, segundos ou minutos, eu não faço ideia.

Por conta dos vários botijões de gás que haviam no restaurante ocorreram mais explosões então ninguém me viu saindo pela porta da frente por entre as chamas já que ninguém queria ser atingido pelo fogo. Nunca entendi o porque das minhas roupas sempre ficarem intactas quando meu corpo entrava em contato com o fogo. Isso não faz o menor sentido mas não importa. Nada na minha vida faz sentido.

Eu não sabia o que fazer, nunca me senti tão perdida em toda a vida, ficava andando de um lado pro outro gritando por ajuda, foi quando os bombeiros apareceram. Segundos depois vários carros da polícia surgiram e um homem me guiou até um deles.

- Eu não consigo nem imaginar o que você está passando, mas eu preciso que você fale comigo. Preciso saber o que aconteceu. Você sabe o que aconteceu Jennie?

Fazia quase três horas desde que tudo aconteceu e até agora não consegui falar uma palavra.

- Eu... - Fui eu. Eu matei meus pais e meu namorado. A culpa é toda minha. 
- Eu não sei o que aconteceu.

- Certo. O que você estava fazendo na hora da explosão?

- Eu tinha ido colocar o lixo pra fora.

- Você tem algum parente aqui? Alguém pra ligarmos?

Eu estava cansada e ele não parava de fazer perguntas, tudo que eu queria era ficar sozinha.

- Meus avós morreram. Minha mãe é filha única. Meu pai tem um irmão, Kim Jong-suk, ele mora em Juneau, é a capital do Alasca mas eu não decorei o número dele.

O policial finalmente me deixou em paz, ele disse que ia tentar achar o número do meu tio mas percebi que ficar sozinha não foi uma ideia tão boa assim já que sozinha e sem o policial me fazendo um monte de perguntas minha cabeça começou a trabalhar sem descanso.

Meus pais estão mortos e a culpa é minha. Eles disseram que eu não consigo me controlar, disseram que era perigoso mas eu não ouvi. Eu sabia que estava pondo Taeyang em perigo e mesmo assim não o afastei como devia ter feito. Meus pais morreram por minha culpa. Uma família teria que enterrar um jovem de apenas 18 anos por minha culpa.

Quando percebi minhas mãos estavam em chamas de novo. Respirei fundo tentando me acalmar mas a crise de choro voltou. Olhei em pânico para porta quando ouvi passos pelo corredor mas por sorte ninguém entrou. Quanto mais tentava me acalmar mais o fogo se espalhava. Foi quando a manchete que passava na pequena tv que tinha no canto da sala me chamou a atenção.

Passava uma reportagem sobre o restaurante dos meus pais, mostrava a destruição que eu tinha provocado. Meu cérebro congelou na hora que alguns homens saíram das ruínas que antes eu costumava chamar de lar com três sacos onde estavam os corpos.

Pela primeira vez naquela noite eu não senti nada. O fogo tinha se apagado, mas com ele minha consciência também se foi.

- Senhorita Kim? Está me ouvindo?

Parecia que alguém tinha dado uma paulada na minha cabeça.

- Que bom que acordou. Se lembra do que aconteceu? Você desmaiou.

Era o mesmo polícia. Ele estava acompanhando de uma mulher que parecia ter por volta de cinquenta anos. Olhei em volta e percebi que estávamos em um quarto de hospital.

- Eu consegui entrar em contato com o seu tio, pedi para que ele viesse imediatamente pra cá mas infelizmente os portos e aeroportos só serão aberto no dia 23 que é quando o inverno de lá acaba, então você vai ficar em um abrigo. Essa é Oh Min-ji, ela trabalha pro conselho tutelar e vai cuidar de você essa semana até seu tio chegar.

A história que saiu em quase todos os jornais da Coreia foi que uma mangueira furada acabou fazendo vazar gás e no momento em que o fogão foi ligado um restaurante explodiu matando três pessoas e deixando uma jovem órfã.

Os dias que se passaram foi um verdadeiro inferno. Jornalistas de toda parte queriam uma entrevista então o telefone do abrigo onde eu estava não parava de tocar. Alguns até apareceram aqui tentando falar comigo e até me ofereceram dinheiro por um depoimento.
Os únicos telefonemas que eu atendia eram os do meu tio. A última vez que tinha o visto foi nove anos atrás quando fui com meus pais no aeroporto pra nós despedirmos dele a da sua esposa mas mesmo longe por tanto tempo ele nunca deixou de ligar pra casa. As vezes eu dava um oi ou algo assim pra ele.

Nesse tempo a conselheira tutelar cuidou de todos os papéis para a adoção e também me arrumou um advogado para cuidar de todos os detalhes em relação ao seguro e a herança. Não era muito coisa mas o suficiente para pagar a faculdade.
Eu passei a maior parte do tempo dormindo por causa dos calmantes que eu comprei escondida. Eu não sabia como lidar com o que aconteceu então me desligar parecia ser a melhor opção.

Finalmente a semana tinha acabado, meu tio já tinha ligado avisando que já estava a caminho então fiquei sentada na recepção esperando.

- Jennie?

Quando vi meu tio soltei um suspiro de alívio que não tinha percebido que estava segurando, mesmo que tenha se passado nove anos ele não mudou muita coisa e ver um rosto conhecido pela primeira vez na semana foi um conforto, tanto que quando percebi, já tinha me levantado da cadeira e isso correndo até ele. Um abraço era tudo que eu precisava agora.

- Vai dar tudo certo. Eu estou aqui agora. - Essas palavras me trouxeram uma calma que pensei que nunca mais fosse sentir.

Ele me levou para o hotel onde estava hospedado, foi ótimo poder tomar um banho sem ter que dividir o banheiro com mais cinco ou seis garotas.
Ficamos na Coreia por mais uma semana. Mesmo tendo adiantado muita coisa ainda faltava muitos documentos para serem finalizados sem contar no enterro.

Essa foi a pior parte, ver todos os amigos dos meus pais e a família do Taeyang chorando dez eu me sentir um monstro.

Em uma reunião que tivemos com o advogado que arrumaram pra mim, foi decidido que eu pegaria o dinheiro da herança quando fizesse 18 anos. O dinheiro do seguro já tinha sido liberado então decidi dar uma parte pro meu tio mesmo com seus protestos, com o resto eu compraria roupas e outras coisas já que perdi tudo o que tinha no incêndio. Também decidi comprar um carro quando chegassimos no Alasca. Aqui na Coreia só é permitido dirigir com no mínimo 21 anos mas meu pai já tinha me ensinado a dirigir um ano atrás.

- Então, como está o seu inglês? - Perguntou meu tio conferindo os passaportes.

- Muito bom.

- Pronta?

- Sim.

- Então vamos.

Assim que o avião decolou me senti estranha. Estava indo embora do meu lugar onde vivi toda a minha vida, não sabia bem como reagir.

- O que foi?

- Nada tio. - Disse tentando forçar um sorriso. Eu nunca poderia retribuir o que ele está fazendo por mim.

- É bom desabafar. Fala comigo.

- É só... É estranho ir embora.

- Foi exatamente o que senti nove anos atrás, mas essa foi a melhor decisão que já tomei na vida. Se você ficar aqui nunca vai conseguir seguir em frente.

- É, eu sei.

- Ei, olha pra mim. - Tentei segurar as lágrimas. Me sentia péssima em ir embora, em simplesmente seguir em frente depois de ter provocado as mortes dos meus pais e do Taeyang.

- Eu sou o seu tio. Sei que não é a mesma coisa mas eu ainda estou aqui. Você ainda tem uma família.

Ele me deu um abraço meio desengonçado e virou pra frente. Olhei pela janela, e sussurrei um pedido de desculpa enquanto apertava o colar em formato de coração que não tirei desde o acidente.

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Girl on Fire • Jasper HaleOnde histórias criam vida. Descubra agora