Chegando ao castelo, Thor e eu subimos em silêncio a nossos devidos aposentos. Estava me preparando para ir deitar quando batidas singelas na porta me chamaram a atenção. Pedi que a pessoa entrasse e mais uma vez naquela noite fui surpreendido pelo mais velho, dessa vez com uma garrafa de vinho e duas taças em punho. Ele ergueu os objetos num convite silencioso e com um suspiro ponderativo, acenei com a cabeça. Sentamos na cama um de frente para o outro, eu encostado na cabeceira e Thor na outra ponta do colchão.
Ele nos serviu e sentindo que não estava nas suas intenções começar a conversa, pigarreei:
— A que devo as honras, majestade? — questionei casual, enquanto observava o vinho ser despejado em minha taça. Tomei um gole farto e fechei os olhos brevemente, saboreando a doçura da bebida. Thor me fitou com desapreço.
— Já disse que não precisa se dirigir a mim dessa forma.
— Sou simplesmente reverente aos títulos, irmão. — expliquei com certa desanimação, já exausto daquele assunto. Era como se déssemos voltas e voltas apenas para chegar ao ponto de partida. Thor meneou a cabeça e bebericou o vinho.
— Então ordeno que pare, como seu rei. — ele me lançou um de seus sorrisos pilantras e lhe fechei a cara, o repreendendo. — Rei de Asgard ou não, continuo sendo seu irmão. Somos iguais, nós sempre fomos.
— Aos seus olhos, talvez.
— E somente como o vejo por meus olhos deveria interessá-lo. — Thor disse sério, de repente seu tom brincalhão havia sumido e ele me olhava sem piscar. Rodeei a borda da taça de vidro com o indicador, evitando sustentar aquele seu olhar intenso. Vendo que não receberia uma resposta, Thor reiterou: — Em se tratando de nós dois, Loki, nunca espere de mim um tratamento subalterno. Eu o amo com todo meu coração. Você é meu melhor amigo.
— Pelas Nornas, o que tem nesse seu vinho? — desviei o assunto, tentando de alguma forma esconder o rubor em minhas bochechas. Thor tocou meu ombro e deixou a taça na pequena estante do lado da cama, me encarando na mesma intensidade de antes. — Oh, por favor, mais declarações de amor? — desconversei mais uma vez e ele sorriu de lado, ainda com a mão sobre meu ombro.
— Entendo que não seja um homem de muitas palavras, irmão, mas mais uma vez o peço que pare com esse comportamento errático. Eu confio em você. Se não o fizesse, pode estar certo de que nunca o haveria chamado para fazer parte do meu conselho. — franzi a testa com suas palavras, finalmente compreendendo o porquê de toda aquela meiguice exacerbada.
— Isso ainda é sobre ontem? Thor, quem estava errado era eu e já o pedi perdão. Esqueça isso! — deixei minha taça de lado também, virando o rosto para fitá-lo melhor. O loiro me ouvia atencioso.
— Só estou tentando selar a paz entre nós.
— É impossível, Thor. Nós somos diferentes demais, sempre entraremos em conflito.
— Só se quisermos. — balbuciou Thor, me lançando mais um de seus olhares desconcertantes.
Num impulso eu removi sua mão de meu ombro e entrelacei nossos dedos. Sentia o efeito do álcool relaxando meu corpo e suspirei inaudível, considerando suas palavras. Olhei para nossas mãos unidas por alguns segundos, até que o mais velho me puxou com cuidado para um abraço. Retribuí o gesto prontamente, sem espernear como sempre fazia. Fechei os olhos ao sentir seu perfume inebriante, cujo impacto era semelhante ao de um psicotrópico em meu sistema nervoso.
— Às vezes eu o detesto a ponto de querer matá-lo. — murmurei contra seu peito e Thor soltou uma risada baixa, reverberando contra meu rosto. Ergui os olhos para encontrar os seus e acariciei sua barba levemente, a leve tontura fazendo-me questionar se era de fato o álcool ou seu cheiro delicioso. — E apesar disso, sinto que não conseguiria viver sem sua estúpida presença. — as palavras deslizaram dos meus lábios com facilidade e conforme a embriaguez tomava conta do meu corpo, a preocupação com as consequências daquela confissão se esvaía.
Thor abriu um sorriso lindo, visivelmente feliz com o que acabara de ouvir. Nunca expressei-lhe nenhum afeto a mais do que o estritamente necessário como irmão, afinal, então aquele era um grande evento. Trocamos um olhar demorado até que ele me trouxe para mais perto, não me deixando outra escolha a não ser sentar em seu colo para ficar mais confortável. Embora a posição fosse inesperada, estava longe de ser desagradável. Abracei-o mais uma vez e meu interior pareceu entrar em chamas quando suas mãos grandes viajaram até minha cintura.
— Thor. — proferi sério, num aviso silente de que aquele tipo de carícia era astronomicamente inapropriado entre dois irmãos. Nós não éramos unidos por sangue, lógico, mas o loiro não sabia desse fato. E ainda assim, suas orbes oceânicas me fitavam com um desejo que nunca antes havia visto em Thor, sobretudo direcionado a mim.
— Se não está gostando, posso parar. — ele murmurou rouco, me fazendo morder os lábios na tentativa de manter algum controle sobre meu corpo.
— O problema é maior do que esse e você bem sabe.
— Eu sou o rei, não me são asseguradas algumas regalias? — sua respiração quente beijava meu rosto e cerrei os olhos em êxtase.
— Acredito que incesto não seja uma delas, majestade. — expliquei da maneira mais convincente que podia, mas meu corpo me traía com os arrepios constantes. Thor percebeu meu estado deplorável e me sorriu argamandel, encostando os lábios em meu pescoço.
— Mas nós não somos irmãos, somos? — franzi o cenho e desvencilhei-me de seus braços de súbito, ficando em pé. Olhei incrédulo para Thor e ele possuía uma expressão severa, como se houvesse pego uma criança na mentira. Ele se levantou e seu corpo gigantesco em contraste com o meu fez-me sentir minúsculo, seus olhos reprovadores nunca deixando os meus. — Loki Laufeyson.
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postando dois dias seguidos, notas?