— Ele já está quase pronto, Thor, paciência! — Frigga esbravejou na porta, impedindo Thor de entrar em meus aposentos pela milésima vez.
Aparentemente iríamos nos casar, então.
Encarei minha figura no reflexo do espelho e analisei-a minuciosamente, atento a qualquer detalhe que pudesse estar fora do lugar. Minhas vestes costumeiras em tons de dourado e verde agora se alinhavam num casaco grande com ombreiras de aço, como era a vestimenta tradicional dos noivos asgardianos. Minhas botas pretas chegavam à metade de minhas pernas e revestiam o fim das minhas calças pretas de pano, ajustadas perfeitamente ao meu corpo. Meus cabelos negros estavam penteados para trás e decidi por não usar meu capacete, ainda encarando com estranheza o fato de que logo mais estaria atendendo ao meu casamento com o rei de Asgard.
Senti um frio na barriga, o nervosismo consumindo-me de tal forma que quase pensei em conjurar um feitiço de teletransporte e simplesmente sumir para todo sempre da vida de Thor, deixando-o sem dizer adeus. Mas não o fiz, claro; em parte porque eu queria casar com o mais velho na mesma medida em que nunca o admitira em voz alta a ninguém — apesar da minha reação um tanto... Emocionada, por assim dizer, ao seu pedido — e em parte porque inexplicavelmente meus pés pareciam grudados no chão, impossibilitando-me de dar qualquer passo para executar uma possível fuga.
Minhas angústias não se resumiam à ideia inicial do matrimônio, contudo. Havia questões complexas demais envolvendo aquela situação, a primeira delas sendo que para todos os efeitos, Thor e eu éramos irmãos unidos por sangue. Não seria muito inteligente revelar minha natureza jotun logo após uma invasão dos gigantes que ameaçou nosso reino como um todo, politicamente falando, portanto seria apenas mais um segredo sórdido da casa de Odin. Ademais, asgardianos não viam problemas consideráveis na união de dois homens — principalmente se da realeza, para minha surpresa — então naquele âmbito estávamos ligeiramente seguros, o que deixava somente o aspecto incestuoso que rodeava minha relação com o rei como um fator potencialmente negativo.
O que não significava dizer que por conta disso minha aflição diminuiria, claro. O medo inconsciente de esbarrar em outro Njord ao longo do reinado de Thor no futuro corroía-me de dentro para fora, tornando impossível que eu me acalmasse diante das milhares de possibilidades do que poderia dar errado entre nós dois, a começar por aquele bendito casório. Bufei e chacoalhei a cabeça com aqueles pensamentos, estressado ao ponto de querer me esconder no meu armário e não sair de lá nunca mais.
— Sinto que vou desmaiar a qualquer momento. — resmungo irritado, ainda fitando o espelho como se de alguma forma meu reflexo pudesse me tirar daquela infame situação. Frigga sorriu para mim, compreensiva como sempre, pousando suas mãos em meu rosto.
— É normal estar nervoso, meu filho. Quando me casei com seu pai fiquei pálida como uma pomba até o fim da cerimônia. — ela então voltou a ajustar minhas vestes, o sorriso singelo ainda em seus lábios. — Se lhe serve de consolo, Thor também está subindo pelas paredes. Tive que ameaçá-lo com um encanto para que não tentasse entrar aqui novamente.
— Quão reconfortante. — suspirei ainda angustiado, enxugando o suor frio em minhas palmas na calça. Virei-me de costas e contemplei a parte de trás da roupa, arqueando as sobrancelhas com os detalhes em prata que não havia percebido antes. — Quando você adicionou isso?
— Enquanto você estava distraído mais cedo, provavelmente maquinando todas as coisas que podem dar errado, mas não vão. — Frigga então finalizou seus ajustes, distanciando-se de mim para ter uma visão mais ampla do seu trabalho. Ela abriu um sorriso com dentes, satisfação em suas feições. — Você está magnífico, Loki. Thor não conseguirá tirar os olhos de você.
