Thor e eu nos entreolhamos antes de seguir Frigga até os aposentos de Odin. A festa continuava nos andares de baixo, deixando-me mais intrigado ainda a respeito do que de fato havia acontecido. Njord teria mesmo sido tão burro a ponto de envenenar Odin sendo um convidado em Asgard? Tinha minhas dúvidas, mas não as expressei no momento. A situação era crítica demais para entreter minhas paranoias.
— Como ele está? — Thor praticamente correu até Odin, tomado pela aflição. Por mais que quisesse nutrir desprezo pelo mais velho, uma parte de mim estava tão desolada quanto Thor.
— Nunca vi esse tipo de substância antes, é como se fosse criada especialmente para seu organismo. — Frigga murmurou chorosa. Abracei-a de lado, tentando consolá-la.
— Teria de ser algo artesanal para conseguir ferir um aesir. Faz sentido. — Thor encarou-me e pude ver lágrimas em seus olhos. Ele ainda velava a figura inconsciente de Odin, como se pudesse acordá-lo apenas com seu olhar. Toquei seu braço discretamente em sinal de apoio.
— Quem mais sabe? — o loiro indagou.
— Somente nós e a criada que o viu desmaiar. — Frigga balbuciou, então pousou os olhos em mim. — Aila disse que antes de desfalecer, Odin ordenou que não acusassem os vanires. — olhei para Thor e ele se aproximou de nós, respirando fundo.
— Eles vão pagar por isso.
— Tudo ao seu tempo, meu filho. — Frigga o abraçou, segurando o rosto dos mais velho em suas mãos. — Seu pai pediu para mantermos segredo por um motivo. Agora você precisa voltar à festa antes que Njord dê por sua falta. Loki e eu estaremos com Odin. — Thor oscilou o olhar entre Frigga e eu, relutante.
— Se acontecer algo vou comunicá-lo imediatamente. — assegurei e ele enfim assentiu, saindo de cabeça baixa. Uma vez a sós, voltei minha atenção para Frigga. — Havia magia no veneno?
— Sim.
Caminhei em direção ao pai de todos, observando seu rosto adormecido. Estava num conflito interno sobre meus sentimentos, mas fui incapaz de segurar as lágrimas que me acometeram feito ondas furiosas. Apertei os olhos para conter meu choro, inutilmente. O toque suave de Frigga fez-se presente num conforto silencioso, amenizando meu pranto.
— Quando descobriu? — veio a pergunta inevitável, fazendo-me virar o rosto para não encará-la.
— Não vem ao caso. Há assuntos mais importantes no momento.
— Você é importante, meu filho. — as lágrimas me atacaram novamente, dessa vez com mais violência. Minha mãe abraçou-me com força, alisando meus cabelos num gesto terno. Solucei como uma criança em seus braços, de certa forma sentindo-me um impostor naquela posição. — Não se sinta assim, Loki. Você é meu filho desde que pus meus olhos em você.
— Como pôde criar um monstro como seu filho? — indaguei choroso, afastando-me para olhá-la nos olhos. Ela meneou a cabeça e sorriu, acariciando minha bochecha.
— Nunca diga isso. Você é o bem mais precioso da minha vida, juntamente ao seu irmão. — um aperto no peito me invadiu com suas palavras e rapidamente baixei o olhar, envergonhado pelos atos pecaminosos que Thor e eu andávamos cometendo juntos. Frigga encarou-me impassível, então sussurrou: — Quantas vezes tenho que dizer que sei ler mentes, meu filho? — arregalei os olhos e saí do seu aperto, tentando de alguma forma escapar daquela situação indecorosa. Ela me seguiu sem pressa, pousando uma mão em meu ombro como que para me dar apoio.
— Ainda não acha que sou um monstro, então? — inquiri amargurado, fitando a parede à minha frente como se ela pudesse me salvar da inevitabilidade do desprezo de minha mãe.
— Não é a situação ideal em que gostaria de encontrar meus filhos, mas não é o Ragnarok. — ela responde cuidadosa, deixando-me incrédulo com suas palavras.
— Como pode ser tão compreensiva? É um ato repugnante. — cuspi, embora meu ultraje não parecesse fazer diferença aos olhos da rainha. Ela simplesmente deu de ombros, como se falássemos de amenidades.
— Nunca vi nada de repugnante no amor. — Frigga então fitou Odin, um sorriso triste pintando seus lábios. — Nós já sabíamos, mas fizemos um pacto de que esperaríamos o seu tempo. Infelizmente nossos planos foram frustrados por esse atentado.
— Como ele pôde aceitar isso? — estava tão descrente quanto antes. Seria possível que eu havia julgado tão mal literalmente todos os membros da minha família, esperando sempre a pior reação deles?
— Apesar de não demonstrar, Loki, seu pai sempre teve um imenso respeito por você. Ele o quis quando Laufey o abandonou em uma geleira, largado à própria sorte. Em meio à batalha, Odin viu nos seus olhos alaranjados a esperança de que poderíamos conviver em paz com os outros reinos. Ele costumava dizer que as Nornas o trouxeram à nossa vida, um milagre em forma de uma simples criatura. — balancei a cabeça, incapaz de acreditar no que ela dizia.
— Contaram-me uma versão bem diferente dos fatos, então.
— É a verdade, meu filho. Amamos você com todo nosso coração.
— Perdoe-me se eu ainda não estiver morrendo de amores pelo homem que me desprezou a vida inteira, apesar de ter um imenso respeito por mim. — proferi com raiva, não conseguindo esconder o cinismo em minha voz. Porém ela não se ofendeu, meramente assentindo com a cabeça.
— Você ainda está magoado, entendo sua reação...
Thor a interrompeu em sua fala, adentrando o cômodo com um semblante tão miserável que pensei ter acontecido mais uma desgraça durante minha conversa com Frigga. Ele então lançou-me um olhar duro, magoado, como se eu houvesse feito algo terrível. Enruguei a testa em confusão, mas antes que pudesse questioná-lo a respeito, dois guardas entraram logo atrás de Thor. Eles vieram em minha direção e olhei para minha mãe, seu rosto tão desnorteado quanto o meu.
— Descobrimos de onde veio o veneno que causou o sono de Odin, mãe. — Thor declarou pesaroso, enquanto os guardas me algemavam. O loiro então me encarou, aproximando-se a passos lentos. Havia a mesma mágoa em seus olhos azuis agora banhados num misto de raiva: — Jotunheim.
Njord não havia sido tão burro, então.
n/a:
como vocês estão, meus amores?
disclaimer: eu absolutamente DETESTO o odin e a sua "paternidade", mas por motivos de drama e tb pq n quero fzr o loki sofrer mais ainda na minha fic, aqui ele é um pai decente que só não sabe lidar com os filhos. dito isso,
*assine aqui a petição pra dar uma bicuda no thor*
obrigada por ler,
lay.