— Filho de Odin, é um prazer conhecê-lo! — Laufey ironiza, fazendo com que Thor lhe lance um olhar cheio de ira.
— Não posso dizer o mesmo. — o loiro praticamente cospe as palavras. Laufey solta uma risada desdenhosa e abre os braços num gesto teatral.
— Bem... — ele começa ainda com o mesmo sorriso irônico, então sua face endurece. — É uma pena. — Laufey conclui e em seguida ataca Thor, lhe dando um soco que imediatamente o faz voar para longe por conta do susto.
Os dois travam uma luta acirrada e me sinto inútil com as malditas algemas me impedindo de ajudar Thor, mas eventualmente ele consegue imobilizar o gigante de gelo sem muito esforço. Com Laufey derrotado, o mais velho volta aonde estou e enfim me liberta das correntes, parecendo ter lido minha mente. Sinto um calafrio percorrer minha espinha ao ver minhas mãos pálidas como sempre, tremendo apenas pelo nervosismo e não pelo frio congelante, diferentemente das do loiro.
Trocamos um olhar rápido e Thor abre um sorriso convencido, possivelmente na vã tentativa de me distrair daquela situação desagradável. Ao ver que não esboço reação com sua brincadeira, ele suspira. Seus olhos sustentam a mesma preocupação de mais cedo e ele pigarreia, segurando meus ombros novamente para chamar minha atenção.
— Vamos embora, está tudo bem. — ele assegura e toca meu pescoço com cuidado, analisando minhas feições.
Apenas aceno com a cabeça e baixo o olhar depois de um tempo, sentindo uma vergonha absoluta tomar conta de mim. Enquanto caminhamos para fora do palácio às ruínas, vejo Laufey jogado no chão em estado crítico. Observo-o por um tempo até que um sorriso maldoso surge em seus lábios azulados, fazendo meu estômago revirar com a cena. Viro o rosto e apresso o passo para alcançar Thor, saindo de perto daquela criatura o mais rápido possível.
Uma vez distantes do castelo, percebo que seus amigos o acompanharam em meu resgate. Cumprimento-os rapidamente e volto a fitar meus pés, ainda assimilando em silêncio tudo que aconteceu.
— Tudo certo por aqui, majestade. — a guerreira morena, Sif, reverencia Thor e aponta com o queixo para os gigantes de gelo mortos atrás de si.
Thor apenas assente e lhe oferece um sorriso agradecido, enfim chamando Heimdall para que abra a ponte e voltemos a Asgard. Assim que chego ao palácio dourado, sou recebido pelos braços afoitos de Frigga. Retribuo seu abraço na mesma intensidade. Por um minuto, as palavras de Laufey nunca existiram e continuo sendo filho de Frigga. Meus olhos lacrimejam e faço de tudo para segurar as lágrimas, escondendo meu rosto em seus cabelos de ouro.
— Meu filho, nós ficamos tão preocupados! — ela murmurou contra meu peito, sua voz embargada.
— Está tudo bem, mãe, estou aqui agora. — beijei sua testa e lhe sorri reconfortante, ainda que fosse um ato vazio da minha parte.
Meu coração parecia estar em pedaços e a vida que antes costumava ser minha agora me fazia sentir sobrando, como uma roupa velha que não servia mais, ou que de fato pertencia a outra pessoa. Pedi licença com a desculpa de que precisava me trocar e me dirigi a meus aposentos de cabeça baixa. Fechei a porta e suspirei alto, encostando a testa contra a madeira gelada e fechando os olhos. Olhei para minha mão e cerrei-a em punho, lembrando da forma que ela tomou quando encostei naquele jotun.
Laufey repetiu diversas vezes que eu havia sido roubado, pelo que entendi em meio a uma das batalhas que Odin travou para conquistar os nove reinos. Mas por que, por que Odin sequestraria o herdeiro do seu inimigo declarado? Não fazia sentido. Era sobre poder? Ele queria mostrar que podia fazer o que quisesse como rei de Asgard? Era uma ameaça, uma forma de intimidar os outros sete reinos? Se sim, então por que me criar como se fosse um Odinson? Por que guardar aquele segredo durante todo esse tempo?
Por quê?!
— Laufeyson. — afirmei em voz alta, pronunciando cada sílaba como se tivesse um gosto ruim.
Mais uma vez estava prestes a chorar, até que ouvi batidas singelas na porta me despertando do meu transe. Rapidamente me recompus e enxuguei o rosto, encarando meu reflexo no espelho da parede ao lado. Ajeitei minha roupa e meu cabelo, dando um sorriso forçado para apaziguar minhas feições.
Abri a porta e me deparei com Thor, vestindo trajes casuais sem a sua armadura. Seus cabelos loiros estavam presos pela metade num trançado fino, realçando as curvas másculas de seu rosto. Cada detalhe na sua figura denunciava que ele estava mais calmo, no seu usual semblante sossegado. Não sei por quanto tempo estive ali em pé o estudando, mas o bastante para que ele se sentisse na obrigação de pigarrear. Pisquei mais uma vez sendo arrancado dos meus devaneios e Thor arqueou as sobrancelhas, seu olhar viajando para dentro do quarto.
— Não vou ser convidado a entrar? — indaga em tom brincalhão, me fazendo revirar os olhos.
— O rei não espera convites, vossa majestade. — ironizo e dou passagem para que ele entre, fechando a porta logo em seguida. Thor caminha até o centro do quarto e se vira para me encarar, entrelaçando as mãos atrás do seu corpo.
— Sabe que não precisa se referir a mim dessa forma, Loki. — comenta casualmente, olhando para nada em particular. Solto uma risada sem humor e ele fixa o olhar sobre mim, franzindo o cenho e ficando sério de repente. — Fiquei preocupado com você.
— Foi perceptível. — murmurei, recordando seu semblante exasperado na hora do meu resgate.
— Tive vontade de matar aquele crápula, só não o fiz por um pedido de Odin. — havia certa frustração em sua voz, como se estivesse arrependido de obedecer às ordens do antigo rei. Meneei a cabeça e me aproximei de si, pousando uma mão em seu ombro no intuito de amenizar sua visível insatisfação.
— Se me permite dizer, meu rei, como seu conselheiro real... Começar o governo travando uma guerra com os gigantes de gelo, depois de tantos séculos de paz selada, não seria muito diplomático da sua parte. — ofereci mansamente, na esperança de fazê-lo ver razão.
Devo ter sido bem sucedido na minha proposta, pois Thor me lançou um sorriso sincero que fez meu coração apertar. Desviei o olhar tentando maquiar minha mudança de humor, mas ele percebeu, astuto que era:
— O que fizeram com você? Está estranho desde que nos falamos mais cedo.
— Deve ser o cansaço. — balbuciei ainda fugindo dos seus olhares inquisitivos, mas Thor não desistia tão fácil. Ele tocou meu ombro levemente e me fez encará-lo uma vez mais, suas írises oceânicas a ponto de despir minha alma.
— Quando quiser me falar, estarei aqui para ouvi-lo. — ele afirma convicto. Mordi o interior da bochecha para reprimir um sorriso com seu cavalheirismo barato, que me tocava o coração contra minha vontade.
— É o contrário, Thor. O rei tem que ouvir o conselho. — mudo de assunto e se ele percebe novamente, apenas releva e me acompanha na brincadeira.
— Já estou me arrependendo dessa maldita oferta.
— Achei que se arrependeu tarde, até. — Thor soltou uma risada baixa, mas logo voltou a ficar sério, me fitando em silêncio. — O que o incomoda?
— Nada. — ele murmura, porém não me convence. Então, sem aviso prévio, Thor me dá um abraço apertado. Apesar de ser pego de surpresa, retribuo o aperto e uma onda de conforto percorre minha espinha, fazendo-me relaxar em seus braços. Escondo o rosto em seu pescoço e fecho os olhos, inalando seu cheiro familiar. Mais uma vez é como se as palavras de Laufey houvessem sido um mero pesadelo e eu ainda estivesse ligado a Thor por um laço tanto biológico, quanto emocional. Suas mãos afagam minhas costas e suspiro contente com o contato. Ficamos naquela posição até que ele se afasta e trocamos um olhar demorado, intenso. — Obrigado, Loki. — Thor toca minha nuca para que minha atenção seja toda sua e franzo o cenho.
— Pelo quê? — questiono confuso e ele apenas sorri, deixando um beijo singelo em minha testa.
— Por estar aqui.
Meu coração aperta novamente.
n/a:
amaram?