chapter xiii

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Sempre classifiquei meu relacionamento com Thor como estritamente cordial, embora no fundo eu soubesse que aquela era uma inverdade. Quando crianças sempre fomos muito unidos e ainda que o tempo e circunstâncias externas nos houvessem afastado no plano físico, como seus deveres como guerreiro e futuro rei, nosso laço emocional jamais deixou de existir. Então não poderia ser uma surpresa que Thor, de todas as pessoas, fosse capaz de ler-me como um livro aberto, apesar dos meus esforços para manter-me fechado às sete chaves.

Seus oceanos oculares sobre mim queimavam-me a pele, ironicamente. O silêncio que pairou sobre nós quando minha verdadeira identidade deixou seus lábios era ensurdecedor e me recordava dos dias em que tão dolorosamente ele me tratou com indiferença. As lágrimas insistiam em banhar meus olhos, mas mantive-me forte o bastante para não deixar que caíssem até o momento. Não na presença de Thor.

Não na presença do rei.

— Loki... — Thor enfim deu um passo à frente, mas virei as costas no mesmo instante. Ainda estava em estado de choque e cerrei os punhos, tentando recuperar o controle sobre meu corpo.

— Como descobriu? — indaguei num sussurro, a vergonha e a raiva aprisionadas em minha voz. Ouvi seus passos se aproximando e fechei os olhos, finalmente permitindo que as lágrimas lavassem-me a face. Talvez fosse culpa do álcool, mas o cansaço deixava a tarefa de parecer forte diante dos olhos alheios deveras dificultosa.

— Quando fui resgatá-lo. — Thor tocou meu braço com delicadeza, descendo até minha mão e a entrelaçando novamente. — Vi seu braço mudar de cor quando um dos gigantes tentou atacá-lo. — voltei a encará-lo, não mais preocupado se ele me via chorar.

— Por que não me disse antes? Por que me pôs na sua corte apenas para esfregar a desonra na minha cara?! — elevei o tom de voz, a raiva agora se sobrepondo à minha tristeza. Thor meneou a cabeça rapidamente, lançando-me um olhar confuso.

— Você sabe que eu nunca faria isso. — declarou firmemente, um certo sentimento de ultraje em sua voz.

— Como não?! Eu sou um monstro! — exclamei em descontrole, então Thor segurou-me pelos ombros fazendo com que eu o olhasse. Tentei sair dos seus braços, mas ele sequer se moveu.

— Você é meu irmão, não importa se não compartilhamos do mesmo sangue. — disse o mais velho, pausadamente. Sorri irônico e enfim libertei-me do seu aperto, voltando a virar as costas para si.

— E é pelo seu irmão que nutre esses sentimentos sórdidos? — questionei, cheio de veneno.

Olhei-o por cima do ombro e pude notar sua expressão magoada, mas dessa vez a ira não dera espaço ao remorso em meu peito. Minhas palavras eram uma hipocrisia sem tamanho, é verdade, porém aquele era meu único mecanismo de defesa contra quaisquer acusações futuras que pudessem suceder a afronta de Thor. Embora não desse nada por sua inteligência, era muito suspeito que só agora ele houvesse trazido aquele assunto infeliz à tona. Não duvidava do seu apreço por mim, afinal era impossível fazê-lo mediante suas palavras amorosas de mais cedo. Contudo eu era agora mais do que seu irmão, era talvez seu inimigo. Ao menos eram essas as conexões que minha mente fazia no calor do momento.

— Você só está nervoso, sei que não é assim que pensa sobre mim. — Thor murmurou, tentando inutilmente esconder que estava abalado pelas minhas palavras insensíveis. Soltei uma gargalhada alta, mas era vazia de qualquer jocosidade. Ele baixou o olhar, possivelmente arrependido do que disse, no entanto insistiu: — Sei disso porque tenho olhos e vejo sua reação às minhas iniciativas.

— Pobre deus do trovão. — zombei, ignorando a verdade em seu argumento. Caminhei na sua direção ficando a poucos centímetros do seu rosto. Abri um sorriso maligno e disse, da maneira mais dramática que consegui executar: — Está acostumado a conseguir tudo o que quer, não é? Mas dessa vez, não. — fitei-o ainda com ar de deboche, o desafiando a me responder à altura.

— Tem razão. — concordou, fazendo-me arquear as sobrancelhas pego de surpresa. Thor então subiu o olhar novamente, mas havia algo de diferente em suas orbes. — Eu consigo tudo que quero.

Abri a boca para retrucar, mas ele me puxou para seus braços subitamente, sem delicadeza alguma. Engasguei-me com o susto, lançando-lhe um olhar aflito. Por um momento achei que Thor iria me desferir um soco, mas logo fui provado o contrário. Ele abriu um sorriso cheio, convencido e antes que pudesse me debater, Thor juntou nossos lábios com força. Fiz uma careta de dor com o impacto, contudo o prazer me venceu eventualmente e retribuí o beijo, tão necessitado quanto o mais velho. Nossos dentes se chocaram vez ou outra no processo, senti até o gosto metálico de sangue em algum momento em minha boca... Entretanto o êxtase em ter seus lábios macios contra os meus falava mais alto, clamava por mais das minhas carícias.

Sua língua inquieta fez caminhos pecaminosos por entre meus dentes, enquanto suas mãos apertavam minha cintura. Thor me trouxe para mais perto num movimento ágil, arrancando um gemido involuntário da minha garganta. Sentia minhas calças apertarem com a excitação e rocei inconscientemente meus quadris contra os seus, provocando uma risada rouca do mais velho.

Quando os sentidos já me deixavam pela falta de ar nos pulmões, ele nos separou. Olhamo-nos ofegantes e em seus lábios, agora vermelhos e inchados, havia o mesmo sorriso pilantra. Suspirei resignado e desviei o olhar, consciente de que além dos meus próprios lábios, meu rosto inteiro deveria se assemelhar a um tomate.

Sem dizer mais nada, Thor saiu do quarto e bateu a porta num baque silencioso, deixando-me mais uma vez sozinho para contemplar meu fracasso particular. Estava irritado e confuso, além de incomodado sexualmente. Fitei a porta por alguns minutos e então joguei as mãos para o alto, num sinal de frustração. Joguei-me na cama e enfiei a cara no travesseiro, soltando um grito abafado.

Lá se vai minha boa noite de sono.

HEAVY CROWN | 𝐭𝐡𝐨𝐫𝐤𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora