Apesar de meu estado crítico, pude observar com toda calma do mundo a cena se desenrolar diante dos meus olhos. Minhas costelas estavam me matando, porém tive certeza de que minha dor nem se compararia à do vanir uma vez que Odin realizasse seu golpe com o cajado. Uma leve tontura acometeu-me quando Njord deu um passo para trás, embasbacado com o pai de todos à sua frente. Ele piscou três vezes, completamente confuso. Teria rido da sua cara de tacho não fosse o fato de meu maxilar estar fora do lugar.
— Como... — Njord tentou questionar, não tendo tempo de completar a pergunta ao ser atingindo pelo cetro de Odin.
Com o impacto, o vanir soltou meu corpo reflexivamente e voou para longe, o que fez com que eu caísse no chão feito um saco de batatas. Minha cabeça ainda girava e com a visão embaçada, enxerguei um braço estendido em minha direção novamente. Dessa vez não havia sarcasmo na postura do dono, porém, meramente um desejo sincero de me ajudar.
— Meu filho. — Odin disse, tão acometido por emoções como nunca antes o havia visto. Foi difícil lidar com a dor que atravessou meu queixo quando quis sorrir com aquele pensamento. — Deixe-me ajudá-lo.
Incapaz de responder com palavras, apenas estendi minha mão a ele e deixei que Odin me puxasse para cima. No processo trocamos um olhar silencioso que me disse muitas coisas, porém preferi relevá-las no momento. Enquanto me reerguia fui recebido pelos braços maternais de Frigga e ela levou-me até a cama, seu rosto contorcido em uma preocupação latente. Aquela reação fez-me ter certeza de que eu parecia pior do que como me sentia.
Fechei os olhos com a tontura que me acometeu quando fiquei inteiramente em pé. Minhas forças se esvaíam novamente e pude notar de rabo de olho a silhueta de Thor surgindo na porta, correndo até mim. A dor aguda em meu maxilar não fora capaz de impedir meu sorriso quando suas orbes encontraram as minhas e tentei abrir a boca para proferir algo, mas tão logo meu corpo recebeu o comando de meu cérebro, tudo ficou escuro.
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Acordei com uma enxaqueca terrível. Abri os olhos lentamente e fiz uma careta quando senti uma pontada em minhas têmporas, as massageando com cuidado para me dar algum alívio. Meu maxilar parecia estar curado, contudo, provavelmente por algum encanto de Frigga. Estudei os arredores e percebi que estava em meus aposentos. Os primeiros raios de sol já surgiam pelas frestas da cortina, entrando em contraste com a escuridão de dentro do quarto. Tentei levantar-me para ir até o banheiro, todavia fui parado por um braço gigantesco e familiar que sequer notei estar me rodeando.
Olhei para o lado e deparei-me com Thor escorado sobre meu corpo, sentado em uma cadeira próxima à minha cama. Ele dormia profundamente e não pareceu notar minha menção para sair de seu aperto. Sorri minimamente com a cena, imaginando pela expressão serena em seu rosto adormecido que havíamos ganhado a batalha e expulsado os gigantes de Asgard. Recordei-me dos eventos do dia anterior vagamente e suspirei, ainda cismado com os detalhes de minha participação no seu tal plano.
Minhas costas ainda doíam um pouco e ajeitei-me numa posição mais confortável, fazendo com que Thor acordasse dessa vez com o movimento. Praguejei em silêncio, sentindo-me culpado por ter interrompido seu descanso merecido. Não tive tempo de remoer aquele sentimento, contudo, pois meu interior esquentara de imediato quando suas orbes cor de mar pousaram em mim. Lembrei-me de nossa discussão acalorada no mesmo instante e baixei o olhar, o peso de suas palavras parecendo me esmagar mesmo no formato de meras recordações.
O loiro analisou-me calado por alguns segundos, mas eventualmente abriu o sorriso que costumava me tirar o fôlego. Ele ficou ereto na cadeira, saindo de cima de mim: