chapter xvi

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A vida continuou, apesar das mudanças significativas que ocorreram depois de Vanaheim. Njord enfim havia concordado com os novos termos em relação à parceria comercial com Asgard, o que era menos uma dor de cabeça que Thor levaria para o travesseiro. Aos poucos ele pegava o ritmo da coroa, não tendo acanho algum em pedir meus conselhos quando não estava certo de algo.

Hoje mesmo estaríamos pondo em prática uma ideia minha para fortalecer nossos laços diplomáticos com os vanir. Propus uma festa de boas vindas para o velhote irritante, já que era motivo de celebração nossos reinos não entrarem em outro conflito sangrento que duraria pelos próximos séculos.

Quão empolgante.

Particularmente detestava a simples menção de festanças e quanto mais políticas, menos me apeteciam. Como sentia saudade da calmaria imperturbável da biblioteca do palácio desde que virei parte do conselho! Mas se fosse sincero, a companhia arrebatadora de Thor fazia valer a pena quaisquer dissabores como aquele.

Pensando nisso, procurei-o com os olhos em meio à multidão. Avistei uma cabeleira loira de costas, dando atenção a um dos membros da corte de Njord. Estava indo a seu encontro quando fui interrompido pela presença de Odin ao meu lado.

Engoli em seco e esperei que ele se pronunciasse, incapaz de formular qualquer frase que não fosse expressando toda raiva adormecida dentro de mim desde que descobri mais uma de suas perversidades enquanto rei. Mas ainda não havíamos nos visto desde a viagem à Vanaheim, então presumi que Odin queria tratar de amenidades do reino. Estávamos num evento de desenfado, afinal.

— Receio que estejamos sendo enganados. — disse Odin, no mesmo tom solene que proferia qualquer coisa. Lancei-o um olhar inquisitivo e ele tornou: — Acredito que Thor está ciente disso há muito tempo. E quanto a você? — a calma em sua voz me dava nos nervos, mas fiz de tudo para não transparecer minha inquietude.

— Ele mencionou algo sobre, porém nunca chegamos a tratar do assunto. — considerei, recordando ligeiramente de Thor dizendo que tinha algo que não havia me contado sobre a viagem na noite do nosso beijo. Pouparia Odin dos detalhes sórdidos, entretanto.

— Questione-o a respeito. — foi tudo que disse e com isso, o velho sumiu novamente entre as pessoas.

Olhei para Thor mais uma vez e ele estava me observando. Fiz um gesto com a cabeça para que fôssemos a um lugar mais reservado e ele me seguiu prontamente. Estávamos numa parte mais afastada de festa, onde a iluminação era demasiado escassa.

Aguardei o mais velho por alguns segundos e franzi o cenho ao não encontrar ninguém no meu encalço. Dei um passo para voltar à festa para ver se ele havia se perdido ou algo parecido, então fui surpreendido por braços fortes me agarrando por trás.

Arregalei os olhos e afastei-me rapidamente, repreendendo o loiro:

— Às vezes penso que você quer ser pego de propósito. — Thor revirou os olhos, embora houvesse um sorriso descontraído em seus lábios. Respirei fundo e analisei suas feições. — Você está bêbado? Thor. — ele continuou com a mesma expressão imbecil, fazendo-me questionar às Nornas por que diabos eu sequer tentava.

— É uma festa, Loki. As pessoas bebem.

— As pessoas, sim. Não o rei, sobretudo quando é uma comemoração inteiramente diplomática! — retruquei e olhei para os lados, averiguando o perímetro. Não havia ninguém nos espionando, todos muito entretidos com o álcool e a presença marcante dos nobres de vanir. Lancei um feitiço para que Thor ficasse sóbrio e ele me olhou feio, mas apenas o ignorei. — Lembra da noite em que revelamos tudo um ao outro, de naturalidades a sentimentos?

— Vagamente.

— Estou falando sério, seu tolo. Odin também sustenta as suas suspeitas. — Thor franziu o cenho, finalmente se interessando pelo assunto.

— O que ele o disse?

— Que estamos sendo enganados.

— Ele não foi mais específico? — lancei-o um olhar pontual.

— Tão específico quanto Odin consegue ser. — suspirei e procurei seus olhos azuis, em busca de uma resposta. — Vai me dizer o que está acontecendo ou preciso ir perguntar a Njord pessoalmente? — Thor contemplou minha face por um bom tempo antes de acenar com a cabeça, pousando uma mão em meu ombro.

— O motivo maior de termos ido a Vanaheim foi em busca de informações. Minhas suspeitas não são de hoje, mas precisava ter certeza antes de compartilhá-las com alguém.

— E quais são elas?

— Que estamos sendo enganados, essencialmente. — encarei-o irritado e ele riu, mas voltou a ficar sério. — Receio que Njord só esteja renovando nossos termos agora para mais tarde nos apunhalar pelas costas. Há rumores de que ele está fazendo negócios com Laufey. — franzi o cenho e Thor me lançou um olhar compreensivo, apertando meu ombro de leve.

— Então estamos nos preparando para uma guerra? — indaguei somente para ouvir de seus lábios, uma vez que a mera menção de meu pai biológico havia sido explicação o suficiente. Thor assentiu, observando ao longe Njord rodeado de pessoas enquanto contava uma história.

— Talvez duas. — um arrepio subiu minha espinha. Thor voltou a me encarar e sussurrou, um peso imensurável em suas palavras: — Algum conselho para esse jovem rei? — sorri triste e acariciei o rosto do mais alto, quase sentindo em minha própria pele seu afligimento.

— Infelizmente não, majestade.

Olhei para Njord e um ódio tomou conta de mim. Por um segundo pensei em esfaquear aquele velho traiçoeiro ali mesmo, acabando assim com pelo menos metade de nossos problemas. O toque de Thor me trouxe de volta a lucidez, contudo, e tornei a questionar-me em silêncio sobre o que os leões faziam uma vez que alcançavam sua presa. Em se tratando de guerras, duvidava que a imagem fosse de fato agradável.

Venci meus medos por um lapso de segundo e deixei um beijo casto nos lábios de Thor, de alguma forma tentando confortá-lo. Outro arrepio envolveu meu corpo, mas dessa vez não fora o êxtase proporcionado pelas carícias do mais velho. Não. Era um sentimento estrangeiro, uma antecipação pelo que inevitavelmente estava por acontecer. Como os instantes antes de o leão alcançar a sua caça.

A emoção da batalha. A arte da guerra.

Quão empolgante.

HEAVY CROWN | 𝐭𝐡𝐨𝐫𝐤𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora