chapter viii

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No final das contas, eu possuía todos os motivos para me preocupar. O assunto que Thor queria tratar comigo na verdade era apenas um comunicado: iríamos fazer uma viagem a Vanaheim com finalidades diplomáticas. A novidade, no entanto, era que iríamos apenas os dois para evitar “imprevistos” de uma caravana maior. Porque, claro... A corte fazendo seu papel burocrático de firmar laços com os reinos vizinhos, aos olhos do novo rei, era um perigo.

— Temo que esteja confundindo os papéis do conselho, Thor. Sou um mero orientador, não seu diplomata particular. — digo entredentes, profundamente incomodado com o fato de que Thor sequer pedira minha opinião sobre a tal excursão.

— Confio em você, Loki. Ainda que fosse toda a corte, você iria junto de qualquer forma. Preciso das suas habilidades comunicativas. — disse Thor, sem ao menos erguer o olhar dos papéis que lia. Bufei irritado e tomei o documento das suas mãos, fazendo com que ele finalmente me olhasse. Havia cansaço em suas orbes, mas isso era o que menos me importava no momento. — Não entendo por que está tão incomodado.

— Me conte uma novidade, seu tolo! — esbravejei, sentindo minha cabeça latejar por conta do vinho da noite anterior. Thor respirou fundo e se levantou, ficando de frente para mim. Cruzei os braços e o lancei um olhar severo: — Você deveria ter me consultado antes de organizar essa excursão.

— Então é esse o problema, você não aguenta receber ordens? — travo a mandíbula com seu tom condescendente,.

Suas, não! — respondo indignado e aponto o dedo em seu peito, a enxaqueca estava me deixando mais nervoso ainda. Solto um longo suspiro e meneio a cabeça, tentando recompor a postura. — Quer saber? Tanto faz agora, também. Vou arrumar minha bagagem e nos vemos em Vanaheim. — declarei mais calmo e não esperei resposta de Thor. Saí a passos apressados do cabinete real e bati a porta na sequência.

Era esse meu maior receio, enfim; não ser capaz de superar o fato de que Thor era o rei, no final das contas. Não eu. Eu era um mero conselheiro, uma peça insignificante e dispensável, facilmente substituível, uma vez que havia vários outros com o mesmo cargo que eu. Meu ego estava ferido pelo simples fato de não ter sido consultado antes sobre aquela maldita excursão e minha reclamação sequer era válida, pois Thor não tinha obrigação alguma de consultar ninguém antes de tomar uma decisão. Era ele a autoridade máxima. Soltei uma risada amarga, meneando a cabeça.

Ou talvez fosse mais complexo do que isso. Talvez eu estivesse mais frustrado pelo fato de que Thor estava sendo responsável e centrado na sua condução real, sem precisar da minha ajuda. No fundo queria que ele fosse o delinquente que sempre achei que fosse, porque isso me faria estar certo. Minha inveja e meus ciúmes aparentemente eram muito maiores do que qualquer amor que sentia por Asgard. Depois de descobrir que eu sequer era asgardiano, aliás, esse possível amor só fora se diluindo. Que se explodisse a cidade dourada, agora. A vida inteira me olharam torto e me preteriram a Thor, o favorito. Nunca devi nada a esse lugar. Mereciam um rei tão corrupto e sem escrúpulos quanto Odin, que roubava crianças e assassinava populações para saciar sua sede de poder.

Ordenei que a criada levasse minha bagagem para a carruagem e deparei-me com Frigga no caminho para a mesma. Ela me lançou um único olhar e suas feições rapidamente mudaram, de certo percebendo meu semblante irritado. Não tinha vontade alguma de entrar em uma discussão com ela sobre Thor, mas o que eu queria naquele momento não era tão relevante. Thor havia herdado sua maldita teimosia de alguém, afinal.

— O que houve, Loki?

— Pergunte ao rei. — disse amargurado, sentindo toda minha frustração voltar com a lembrança do loiro. Ela meneou a cabeça e tocou meu rosto levemente.

— Você aceitou a oferta de Thor ciente de que estaria servindo a ele, meu filho. — fechei os olhos, a verdade em suas palavras me acertando feito um tapa na cara. — Por que não quer fazer a viagem junto dele?

— Não é esse o problema.

— Você esquece que posso ler sua mente. — Frigga sorri convencida e suspiro, me dando por vencido.

— Ele não precisa de mim, está conduzindo tudo muito bem. — Frigga me olha descrente.

— Se ele não precisasse não teria escolhido justo você para acompanhá-lo, Loki Odinson. — sinto uma fisgada no peito ao ouvir aquele sobrenome, mas faço de tudo para disfarçar. — O reino é um exercício diário de tolerância e compreensão na corte, de ambas as partes. Essa é só a primeira de muitas frustrações.

— Quão convidativo. — ironizo e Frigga ri, me dando um beijo demorado na bochecha.

— Pare de ser tão resmungão e vá agora fazer as pazes com seu irmão, vocês não são mais crianças. A coroa não vai tolerar essa sua rixa infantil, principalmente em ocasiões importantes como essa excursão. — apenas assenti, fitando o chão. Sentia-me envergonhado como quando levava uma bronca de Frigga por ter quebrado algum objeto enquanto tentava acertar a cabeça de Thor.

— Vossa alteza. — a criada surgiu do nada, reverenciando Frigga e eu. — O rei o espera na carruagem.

— Tudo bem, obrigada. — sorri-lhe agradecido e me despedi de Frigga, saindo do palácio.

Uma vez no terraço senti a brisa gelada de fim de tarde beijar-me a face, me fazendo esquecer por alguns segundos as frustrações do dia. Ao longe avistei os cabelos loiros de Thor. Ele conversava com um dos membros do conselho em frente ao veículo. Assim que me viu, trocamos um olhar e eu fitei o chão imediatamente. Era óbvio que nos entenderíamos eventualmente, mas por hora precisava de um tempo sem ouvir sua voz sossegada e contida. Necessitava de pelo menos duas horas de silêncio absoluto para conseguir esquecer que estava saindo da minha zona de conforto contra minha vontade, pela segunda vez em um curto período de tempo.

Entrei na carruagem sem cumprimentá-lo. Thor se despediu do rapaz com quem conversava e sentou-se ao meu lado, dando a ordem para que enfim partíssemos. Observei as ruas calmas de Asgard passando por mim e suspirei, sentindo que aquela viagem seria longa. Fechei os olhos e adormeci.

n/a:

eu não faço a mínima ideia de quais sãos os veículos asgardianos tirando os barcos (e a bifrost), então pfvr relevem esse rolê da carruagem pq n sei se tem msm, mas na minha fic tem kkkkk

quem amou

HEAVY CROWN | 𝐭𝐡𝐨𝐫𝐤𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora