No dia seguinte, enfim iríamos embora daquele maldito reino. Minha cabeça rodava pelo vinho da noite passada somado às duas noites mal dormidas. Encarei meu reflexo no espelho e senti pena do meu semblante, lançando um rápido feitiço para parecer mais apresentável. Satisfeito com meu trabalho, deixei meus aposentos indo até a carruagem que já estava pronta.
Duvidava que àquela altura Thor precisasse das minhas qualidades diplomáticas, já que na noite anterior ele praticamente firmou os laços com o rei de Vanaheim sem ajuda alguma da minha parte. Por isso, preferi poupar-me o estresse de ter que ouvir as baboseiras do velho espalhafatoso logo de manhã, sobretudo com aquela enxaqueca dos infernos.
O cocheiro fechou a porta da carruagem e avisou que Thor já estava descendo, apenas terminava de tratar algumas burocracias com o rei. Assenti em silêncio, estudando seu semblante. Recordei-me da cena de ontem em que o mesmo recebia moedas suspeitas de Njord. Não fazia a mínima ideia de por que o rei precisaria subordiná-lo, especialmente na nossa presença; no entanto deixaria aqueles tópicos governamentais para Thor.
Ele era o rei, afinal. Meu trabalho era meramente aconselhá-lo a não pôr os nove reinos em maus lençóis. Estava longe do meu alcance ser seu espião particular.
— Que demora... — resmunguei impaciente, cerrando os olhos com a luz do sol em meu rosto.
Olhei para o castelo e ao longe avistei Njord descendo as escadas com Thor. Os dois conversavam e riam como se fossem amigos de longa data, fazendo-me revirar os olhos. O vanir notou que eu os observava e acenou para mim. Retribuí o cumprimento com um sorriso forçado e inevitavelmente encontrei as írises azuladas de Thor. Meu coração errou uma batida e ele me lançou um meio sorriso que eu não teria visto se não estivesse prestando muita atenção.
Ajeitei-me no banco da carruagem e eventualmente o loiro entrou, sentando ao meu lado. A viagem de volta para Asgard fora tranquila e sem demais acontecimentos. Assim que cheguei ao palácio, subi direto para meu quarto. Tranquei a porta apenas para me certificar de que não seria perturbado e soltei um longo suspiro, relembrando tudo que havia acontecido naquela bendita excursão.
Um rubor se espalhou por meu rosto ao recordar do beijo e chacoalhei a cabeça, voltando à realidade. Ainda que não estivéssemos comprometidos por um laço sanguíneo, aquilo era errado. O rei de Asgard se deitando com um homem, seu irmão adotivo, um jotun? Era um escândalo sem precedentes, uma afronta à casa de Odin! Nem imaginava qual seria sua reação se ao menos sonhasse que o favorito praticava tais atos. E Frigga, o que diria? As perguntas me assombravam como fantasmas e decidi ir tomar um banho para amenizar minhas angústias.
Pedi que uma criada preparasse a banheira e uma vez sozinho, despi-me e entrei na mesma. Soltei um gemido de prazer ao sentir a água morna relaxando meus músculos há muito tensos. A noite já caía e o frio beijava-me a face, tornando o contraste com o banho quente ainda mais satisfatório.
Olhei para minhas mãos pálidas e meus olhos se encheram de lágrimas involuntariamente, as palavras de Laufey ainda me atormentando. Fui arrancado da minha crise patética de choro com duas mãos grandes envolvendo as minhas.
Dei um salto com o susto e lancei um olhar mortal a Thor, que me observava com uma expressão sapeca:
— Pretende tornar um hábito seu quase me matar do coração, seu tolo? — reclamei aborrecido, levantando da banheira e me cobrindo com uma toalha. O loiro continuou em pé assistindo a cada movimento meu em silêncio. Virei-me para olhá-lo e ergui o queixo em questionamento. — Veio com outra garrafa de vinho para me embriagar e abusar do meu corpo? — Thor arqueou as sobrancelhas imediatamente, abrindo um sorriso perverso.
— Foi assim que se sentiu ontem, irmão? — ele deu um passo à frente e travei a mandíbula, indo até meu armário para me afastar de Thor.
— Foi o que aconteceu, majestade. — disse, apenas para provocá-lo.
Peguei meu traje de dormir em um dos cabides e tão logo fechei as portas do armário, deparei-me com a figura corpulenta de Thor me cercando. Ele tinha os braços apoiados em volta da minha cabeça impedindo que eu fugisse novamente. Não me deixei intimidar, contudo, encarando-o com ar de superioridade.
— Você e eu sabemos que isso não é verdade, príncipe Loki. — Thor murmurou, aproximando seu rosto do meu. Seus lábios estavam perigosamente perto e entreabertos, como um convite implícito para que eu os agraciasse com outro beijo. Recuperei meus sentidos e soltei uma risada debochada, procurando os olhos azuis que me assombravam constantemente. Thor todavia notou meu pequeno vacilo e sorriu de canto: — Gosta do que vê?
— Oh, não se iluda a esse ponto.
Ele ignorou minha provocação e enfim cortou a distância entre nós, empurrando meu corpo contra o armário enquanto devorava meus lábios. Abracei-o sem pestanejos, cansado de resistir à tentação. Lancei um feitiço na porta a trancando pela segunda vez, tão anestesiado pelas sensações que sequer pensei em questionar como o loiro havia entrado sem ter arrombado a mesma. Nossa respiração ofegante e os barulhos abafados de bocas se chocando eram os únicos sons do ambiente, uma doce melodia acariciando meus ouvidos.
— Dessa vez nem precisei embriagá-lo, podemos contar isso como um avanço? — Thor indagou entre o beijo e dei um tapa em seu ombro, mas não consegui esconder meu sorriso.
Ele me pegou em seu colo e nos guiou até a cama, deitando por cima de mim enquanto removia minha toalha. Soltei um gemido baixo ao sentir seus lábios descendo por meu torso, sua barba arranhando a pele sensível do meu baixo ventre. Thor voltou a me beijar propriamente e aproveitei para despi-lo, arremessando seus trajes no chão do quarto sem cuidado algum.
Ele me olhou surpreso com minha urgência e apenas o puxei para outro beijo, agarrando suas madeixas loiras com força no processo. Ele gemeu rouco em meu ouvido e finalmente me invadiu, deixando-me incapaz de emitir qualquer som que não fosse um grito de prazer. Thor tapou minha boca por instinto, mas havia um sorriso pilantra em seus lábios. Mordi sua palma como retalhação e ele estocou mais forte, se vingando. Cerrei os dentes e gemi outra vez, desfeito em seus braços.
As investidas foram aumentando o ritmo e em alguns segundos éramos uma bagunça intensa de grunhidos. Nossa preocupação em fazer silêncio havia ido para os ares uma vez que a cama rangia furiosamente, batendo na parede como se não houvesse amanhã. Antes que eu pudesse pedir para o loiro fazer menos barulho, ele inverteu nossas posições me colocando por cima.
Uma onda de êxtase acometeu minha espinha quando vi Thor sob meu corpo, à mercê do meu controle. Cavalguei-o como se estivesse domando um cavalo selvagem, apertando os olhos ao sentir o nó em meu estômago se desmanchar. Thor logo me acompanhou chegando ao próprio limite, um último gemido rouco rasgando sua garganta.
Seu rosto estava ensopado pelo suor e inclinei-me para deixar um beijo casto em seus lábios. Admirei sua beleza extraordinária, ignorando o líquido grudento entre nossos abdomens. Removi alguns fios grudados em sua testa e Thor possuía uma expressão indecifrável, mas me abraçara com força. Franzi o cenho e deitei ao seu lado, enfim tirando-o de dentro de mim.
— No que está pensando? — Thor fitou-me de relance, então se apoiou sobre o cotovelo para encarar-me propriamente.
— Estou pensando em como você ficaria usando uma coroa, minha rainha. — revirei os olhos e tentei lhe dar outro tapa no braço, porém dessa vez ele foi mais rápido e segurou minhas mãos contra o colchão. Mordi os lábios quando seus quadris investiram contra os meus e percebi que ele já estava pronto para uma segunda rodada. Ri sozinho ao lembrar-me das minhas considerações de outrora e o loiro cerrou os olhos suspeitosamente: — Qual é a graça?
— Nada de mais, seu tolo. — roubei-lhe um selinho, fazendo-o sorrir afetuoso com o ato. Meu peito parecia entrar em combustão com aquele maldito sorriso, era irritante.
— Se não é nada de mais, então seja um bom súdito e venha satisfazer seu rei. — Thor murmurou entre beijos molhados, roçando nossas intimidades. Obedeci-o como o súdito devoto que era, prendendo outra risada.
O apetite do leão era insaciável.