— Aonde pensa que vai? Por acaso esqueceu que estamos aqui a trabalho? — Thor indaga entre sussurros afobados.
— Você parecia estar dando conta da situação. — respondi sério, me virando novamente para ir até a carruagem. Dessa vez Thor agarrou meu braço, me puxando para um beco escuro. — Me solte, seu bruto!
— Eu não aguento mais essas suas infantilidades, Loki. A coroa está em jogo aqui, tenha senso! — Thor continua, seus sussurros tão exasperados que quase soam como gritos.
— Eu tenho senso, Thor. Justamente por isso estou indo embora hoje mesmo, você não precisa de mim. — digo irredutível e o mais velho me olha completamente confuso, como se eu possuísse duas cabeças. Limpo a garganta, aproveitando a deixa: — Peço perdão pelas coisas insensíveis que o disse ontem, eu estava irritado. Não foi minha intenção magoá-lo. — murmurei, tão baixo que estava surpreso das palavras terem deixado minha boca de fato. Não tive coragem de olhá-lo nos olhos. Não era do meu feitio desculpar-me, ainda mais para Thor, mas temia que o remorso me comesse vivo se não tentasse me redimir com o mais velho.
— Isso não importa agora. — ele declara, suspirando em seguida. Sinto uma pontada de frustração por ter meus esforços ignorados, mas não toco mais no assunto. Thor continua: — Temos de voltar lá e estabelecer nosso acordo com Vanaheim.
— Vá em frente. — foi tudo o que eu disse, tentando mais uma vez ir de encontro à carruagem. Para ser sincero já não me importava os tópicos do reino a essa altura, só queria deixar aquele lugar imundo e esquecer que aquele dia aconteceu. Thor, no entanto, me segurou antes que eu pudesse sair do lugar. Debati-me contra seu aperto, o que como de praxe fora apenas um esforço infrutífero diante da força bruta do mais velho. Travei o maxilar em frustração, mas tentei a todo custo manter a calma em minha voz. — Thor, você tem tudo sob controle. Esse rei é um idiota deslumbrado, qualquer coisa que você quiser ele irá... — fui interrompido pela mão do loiro tapando minha boca abruptamente, o impacto fazendo com que nos chocássemos um contra o outro. Franzi o cenho e chacoalhei a cabeça com o susto, questionando em silêncio o que diabos estava acontecendo.
— Shh... — ele sussurrou, tão perto de mim que pude sentir sua respiração contra meu rosto.
Eu estava petrificado no lugar, incapaz de me mover com seu corpo tão colado ao meu. Thor fixou o olhar atrás de mim e virei-me lentamente para ver o que ele estava apontando, saindo do meu transe momentâneo. De longe meus olhos avistaram o rei de Vanaheim. Ele conversava aos cochichos com o nosso cocheiro, lhe dando algumas moedas douradas discretamente. Voltei a encarar o loiro que agora possuía uma expressão compenetrada. Pousei uma mão sobre seu peito por instinto e lancei-o um olhar significativo, tentando entender quais eram suas suspeitas.
Boa coisa não poderia ser, cochichos e moedas vindo de um rei?
— Thor. — balbuciei abafado, as palavras saindo quase que incompreensíveis. Ele pareceu se dar conta de que ainda tapava meus lábios e baixou sua mão, mas continuou tão perto como estava. Uma pequena onda de insatisfação me acometeu quando não tive mais o calor de sua palma contra minha boca e ainda sentia meu corpo entrar em combustão com a nossa proximidade, porém ignorei aquelas sensações esquisitas. — O que está pensando?
— Em várias hipóteses. — respondeu ele, me fitando angustiado. Minha mão sobre seu peito viajou até seu ombro e o apertei levemente, pedindo uma resposta mais clara. Ele respirou fundo, então finalmente disse: — Há algo que não o contei sobre essa viagem.
— Então eu deveria me preocupar, não é? — empurrei-o de leve, fazendo-o abrir aquele sorriso idiota do qual senti tanta falta. Senti-me aquecido por dentro ao constatar que ele não estava mais me tratando com frieza. — Seu tolo. — provoquei e o loiro afastou-se de mim, mas ainda havia um pequeno sorriso em seus lábios.
— Melhor voltarmos antes que ele desconfie da nossa demora. — Thor lembra, checando os arredores.
— Diga que estou passando mal. — sugeri, inconscientemente querendo Thor bem longe daquela maldita meretriz. Ele arqueou as sobrancelhas e dei de ombros. — Vai me dizer que também não está cansado daquele palerma? — tentei enganar a ele e a mim mesmo com aquela pergunta, mas Thor não pareceu perceber a inverdade em minhas intenções. Ele apenas assentiu e envolveu minha cintura. Foi minha vez de arquear as sobrancelhas.
— O quê? Precisamos fazer uma cena bem feita. — o loiro explicou, checando mais uma vez se alguém nos observava. Apoiei-me em seu corpo atlético e ignorei a eletricidade quando nos tocamos novamente.
— Nem parece meu irmão Thor, depois que virou rei está tão inteligente... — brinquei entre uma risada baixa e Thor revirou os olhos, mas havia a sombra de um sorriso em seus lábios rosados.
Sua mão em minha cintura causa-me arrepios, mas relevo a sensação. Encontramos o rei próximo à carruagem e Thor me surpreende com sua boa atuação, inventando na hora uma história de que machuquei o pé em um degrau qualquer e precisava de repouso urgentemente. O rei pareceu acreditar na mentira o bastante e nos desejou uma boa noite, voltando à taberna enquanto o loiro me ajudava a entrar na carruagem apenas para que o cocheiro visse.
A volta para o castelo fora tão silenciosa quanto a ida, contudo menos desconfortável. Thor me olhava vez por outra e seu sorriso cintilante estava quase me deixando sem ar, tamanha era a dificuldade para lembrar-me de como se respirava quando seus dentes perfeitamente alinhados me diziam olá. Não sabia o que estava acontecendo comigo, nunca fui de reparar no sorriso de ninguém. Especialmente no sorriso de Thor.
Meneei a cabeça e desfiz-me daqueles pensamentos inconcebíveis. A noite lá fora estava linda, apesar dos pequenos contratempos de mais cedo. O remorso já não mais me atormentava como no dia anterior e sorri pequeno, pois hoje haveria de dormir bem. Perdi-me nas estrelas enfim, para evitar perder-me em certos olhos azuis que me cercavam como um predador a sua presa.
Parecia até uma justiça poética, pois o leão era o rei. Seus cabelos dourados iluminavam feito luz, refletiam feito ouro. E eu era a presa; encurralada, sem ter para onde ir. Prisioneira dos milhões de sentimentos que me acometiam quando se tratava de Thor. Perguntava-me o que os leões faziam uma vez que alcançavam sua presa, não poderia ser nada de bom. E ainda assim, era tudo que eu almejava. As estrelas. A luz. O rei.
Thor.
n/a:
e aí camaradas, quanto tempo! passando pra avisar que não abandonei essa fic, eu só tô mt lenta pra escrever ultimamente kkk tão gostando? me falem, n sejam tímidos! obrigada por ler,
lay.