chapter xxi

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Meu maior medo havia se concretizado. Embora eu achasse que ele poderia ter se manifestado de maneira mais poética, durante uma carícia trocada em público ou coisa parecida, seu efeito sobre mim era o mesmo: desesperador. Meu primeiro instinto fora olhar para Thor, numa busca silenciosa pelas suas malditas palavras reconfortantes que sempre tanto me irritaram. Em vez disso, ele se levantou do trono e apontou com o cetro na direção de Njord, enfurecimento espalhado em suas feições.

— Desafio você a referir-se novamente dessa forma a Loki. — Thor proclamou em tom ameaçador e automaticamente baixei a cabeça, já esperando o pior dos desfechos àquela resposta.

Njord não se abalou e deu outra gargalhada histérica:

— Então é mesmo verdade! Pelas barbas de Odin, Thor, não há mulheres aesires o bastante que lhe satisfaçam? Você se contenta até com criaturas repulsivas como esse jotun?

Tão pouco as palavras de Njord deixaram sua boca, Thor desferiu-lhe um soco no queixo que o fez cambalear para o lado. Em outros tempos eu tentaria conter o impulso violento do mais velho, mas naquela ocasião, sua atitude fez meu corpo aquecer com satisfação. Observei em silêncio e de camarote quando Njord tentou revidar o golpe, apenas para ser impedido pelos guardas que me escoltaram até o salão. Um sorriso involuntário escapou-me os lábios.

— Tirem-no daqui. — foi tudo que Thor disse, olhando-me de esguelha antes de virar as costas para deixar o local.

— Thor. — chamei seu nome num impulso e ele parou no primeiro passo que deu, voltando a me encarar. Prendi a respiração por um breve momento, contemplando o que eu de fato diria. Talvez não houvesse mais nada a dizer que poderia fazê-lo mudar de ideia quanto à minha inocência, contudo confiava no ódio mútuo que sentíamos por Njord naquele instante para me tirar daquela conjuntura indecorosa. Aproveitei a distração dos guardas que ainda seguravam o vanir e caminhei até o loiro. Eles logo viram meu movimento e um deles veio até mim, mas fora obrigado a parar onde estava por um gesto singelo de Thor me permitindo aproximar-se de si. O barulho das correntes se arrastando no chão quase foi o suficiente para me fazer acordar do transe em que aqueles olhos azuis vibrantes me deixavam. Quase. — Você não pode realmente acreditar nele. — insisti, permitindo por um segundo que meu coração tomasse as rédeas da situação.

— Não importa o que acredito. — Thor responde, fazendo-me menear a cabeça.

—  Isso tudo é uma grande farsa para que ele consiga o que quer: Asgard aos seus pés. — o mais velho ouvia-me atentamente. A relutância em seu semblante se esvaía aos poucos, dando-me uma certa esperança de que eu poderia de fato revogar minha sentença.

— Ele já sabe disso, meu filho. — a voz de Frigga se fez presente, acordando-me dos meus devaneios. Ela caminhou até nós e pousou uma mão em minha bochecha. Fechei os olhos brevemente com o toque. — Eu disse o mesmo para seu irmão, mas Thor é tão teimoso quanto Odin.

— Estou apenas seguindo as nossas leis. — Thor confessou num suspiro cansado. Voltei a olhá-lo e meu reflexo de tocar-lhe o ombro como um ato de apoio foi rudemente impedido pelas algemas pesadas. Ao longe ouvia os resmungos de Njord sendo levado para fora do salão, então Thor me fitou decidido: — Vamos para um lugar mais reservado e você me conta suas teorias.

Senti meu rosto esquentar, surpreendido por aquele convite com diversas conotações despudoradas na presença de Frigga, porém limitei-me a segui-lo para aonde quer que o rei quisesse ir. Olhei de relance para minha mãe e ela me deu um beijo no rosto antes que eu saísse de sua vista, em suas orbes azuladas um carinho materno que já me era costumeiro.

Acompanhei os passos pesados de Thor até os aposentos reais e ele fechou a porta, nos deixando a sós. A tensão que havia entre nós era tão proeminente quanto sua postura ligeiramente indiferente. Estudei meus arredores com curiosidade uma vez que ainda não havia estado no quarto do rei desde a sua coroação. A decoração não fazia justiça alguma à personalidade acalorada do mais velho, parecendo mais um quarto de hóspedes do que qualquer outra coisa.

HEAVY CROWN | 𝐭𝐡𝐨𝐫𝐤𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora