— O quê?! — exclamo incrédulo, sentindo as malditas lágrimas lutando para encharcar meu rosto.
— Você foi roubado, Loki. É um jotun, meu filho. — Laufey afirma talvez pela milésima vez, mas é como se as suas palavras não fizessem sentido algum na minha cabeça.
Não faz sentido, nada faz sentido. Eu sou asgardiano, filho de Odin!
— Você está brincando comigo. Não está falando sério. — disparo atordoado, o nó em minha garganta cada vez maior.
Olho para os lados numa tentativa em vão de encontrar uma saída desse pesadelo. Minhas mãos suam frio e a pancada na nuca parece estar mais latente, me fazendo querer gritar. Dou um passo vacilante para trás e sem querer encosto no gigante que havia me trazido. Assustei-me com o toque, mas não senti minha pele queimar como deveria ter acontecido. Em vez disso, meu braço inteiro foi sendo engolido por uma cor azulada. Arregalei os olhos desesperado. Foi tudo muito rápido, num segundo minha pele voltara à sua palidez natural e meneei a cabeça furiosamente, tentando de alguma forma negar os fatos que discorriam diante de mim.
Um filme passou por minha mente, então a realização caiu feito uma pedra; filho de Laufey, um gigante de gelo. Jotun. Herdeiro do maior inimigo de Asgard, o reino de Jotunheim. Minhas pernas ficaram bambas e estava quase desmaiando, minha estrutura sobrecarregada com tantas revelações. Balancei a cabeça rapidamente, tentando me recompor.
— Está convencido agora, meu filho? — Laufey questiona, há um quê de sarcasmo em seu tom que me faz perder todo equilíbrio que mantive até então.
— Eu não sou seu filho! — grito transtornado, as lágrimas finalmente molhando minhas bochechas. Não consigo pensar direito, sinto meu seiðr desorientado demais para usá-lo a meu favor.
Antes que Laufey pudesse me responder, um estrondo longínquo chamou sua atenção e ele trocou um olhar com a criatura que estava atrás de mim, como se indagasse o que foi aquilo. De repente um baque forte acometeu as enormes paredes de gelo do palácio e todos nós viramos para a direção do barulho, assustados com o mesmo. Em meio aos escombros surgira Thor, voando majestoso com o martelo em punho. Sua capa vermelha era apenas um vulto enquanto ele lutava contra alguns gigantes que o seguiram até ali.
Eu assistia à cena completamente atônito, incapaz de reagir mediante às informações que me foram passadas. Felizmente Thor era um exímio guerreiro e conseguira se desvencilhar de seus atacantes em alguns minutos de batalha. Com um golpe certeiro, o gigante que me vigiava fora arremessado para longe com a força de Mjonir e observei em silêncio seu corpo se chocando contra uma parede, a destruindo por completo. O loiro correu ao meu encontro no mesmo instante e me chacoalhou pelos ombros, me fazendo acordar do meu transe.
— Loki! Eles fizeram algo com você?! — ele indaga, esbaforido diante da minha figura paralisada.
Suas orbes azuis me encaravam em uma busca suplicante por uma resposta, a qual infelizmente não conseguia deixar meus lábios. Tentei falar algo, qualquer coisa que pudesse tranquilizar meu irmão, mas nada saía. Era como se as palavras estivessem trancafiadas em minha garganta, o terror da iminente rejeição tomando conta do meu ser. Qualquer carinho ou preocupação que Thor poderia ter por mim naquele momento de desespero se tornaria desprezo logo mais, quando ele soubesse da minha real origem. Toda a vida que crescemos juntos perdera a cor a partir do momento em que minha derme fora de branca para azul. Éramos não mais irmãos, mas inimigos declarados desde o meu nascimento dentre os campos congelantes de Jotunheim.
Meus olhos se encheram de lágrimas novamente, mas tão logo Thor abriu a boca para questionar o motivo de minha tristeza, fomos interrompidos pelo som de passos pesados se aproximando.
— Filho de Odin, é um prazer conhecê-lo!