Sentindo tudo.

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Os flashs estão tão fortes mesmo antes de abrirmos a porta do carro, que já fazem minha cabeça doer levemente e eu ter que fechar os olhos com força para evitar a luminosidade que chega brilhante através do vidro escuro do carro. Sinto minha mão ser levemente apertada e olho em direção ao dono da mão que segura a minha, e está sentado do meu lado.

- Está pronta? - pergunta Henry. Antes de responder a ele dou mais uma checada no homem ao meu lado. Ou melhor dizendo: olho para o MEU  homem.

Ele está usando um conjunto de terno e calça preto, juntamente com uma camisa preta onde os três primeiros botões estão abertos, já que ele nunca foi muito fã de gravatas mesmo.

Um barulho, como se fosse "pi pi pi" chama a minha atenção e eu olho para trás pensando ser da buzina do carro que está atrás de nós na chegada da premiere em que estamos. Henry puxa meu queixo, como se pra chamar minha atenção de volta a ele, e meu olhar está novamente em sua direção, sorrio em resposta.

- Pronta - aperto sua mão na minha também em sinal de afirmação.

Estamos na premiere de um novo filme do Henry, mais um blockbuster super aguardado pela mídia e aclamado pela crítica. Mesmo tentando manter nosso relacionamento fora dos holofotes, ele sempre faz questão de me trazer nas suas estreias. Ele diz que sou seu talismã. "Você me dá sorte" ele repete sempre antes de um grande evento assim. E eu fico me sentindo como a grande adolescente que ele me faz sentir todas as vezes.

Vejo Henry  sair do carro e dar a volta no mesmo em direção a minha porta para que eu também saia, mas vejo a chuva de flashs ficar ainda mais intensa. Fecho os olhos de novo e coloco minha cabeça no encosto do banco, e só os abro novamente ao sentir a mão de Henry pegando na minha.

- Você está bem? - ele pergunta, assinto com a cabeça e ele me dá um sorriso - vamos?

Eu pego sua mão e saio do carro, me acostumando ainda com o salto mais alto que teimei em usar para tentar ficar um pouco mais na altura de Henry, mas sem sucesso. Ele ainda tem que se abaixar por uns bons centímetros para me beijar, como ele faz assim que fecho a porta do carro atrás de mim.

Pi, Pi, Pi...

O barulho soa de novo e me desvencilho do beijo, olhando para trás tentando disfarçar minha cara feia, enquanto forçava os olhos para enxergar o motorista do carro atrás, e sussurro um "ele não tá vendo que o carro já vai sair? Passa por cima..." o qual Henry responde com um sorrisinho, me puxando em direção ao tapete vermelho.

Posamos juntos para algumas fotos no início, e depois para algumas individuais. A premiere está sendo feita no fim da tarde bem perto da baía de Los Angeles, logo, além da claridade dos flashs estou tendo que lidar com o sol se pondo bem radiante e brilhante atrás da fila de fotógrafos que estão bem na minha frente. Tento por mais alguns minutos sorrir para as fotos até que a dor de cabeça realmente me afeta e olho para Henry, sinalizando que o esperaria na lateral.

Ele faz uma cara de preocupado, mas forço mais um sorriso para demonstrar que estava tudo bem. Esse era o dia dele, e eu não ia estragar por causa de um mal estar corriqueiro.

Enquanto me afastava, me arrependendo de ter tomado as 3 taças de Martini no lobby do hotel enquanto esperava o carro que nos traria para cá. Ouço um repórter me chamar:

- Agnes... Agnes Alden. Uma palavrinha para gente.

E em um instante, como uma inflamação, todos os outros repórteres ao redor dele também estão olhando para mim e me apontando câmeras, celulares e microfones, esperando alguma declaração. Forço os meus pés em direção a eles e enxurrada de perguntas começa.

O que eu esperava do filme? Como foi o processo de Henry durante as filmagens para poder viver esse grande vilão? Como era fazer parte de um dos casais mais comentados e rentáveis de Hollywood?

Tentava responder cada pergunta com as minhas melhores palavras, como Carlie sempre me ensinou e treinou. Olho ao redor a procura dela, mas lembro que ela não pôde comparecer a essa premiere. É estranho não ter ela aqui, sou sempre tão acostumada a olhar para a minha lateral e ter ela sinalizando as perguntas que eu poderia responder e as que eu deveria desviar.

Sinto uma saudade da Carlie como se não a visse há anos sendo que a vi dois dias atrás, que estranho! Rio com o pensamento e reparo que os repórteres agora me encaram sérios.

Ai meu Deus... Será que eles fizeram alguma pergunta e eu não ouvi enquanto pensava em Carlie? Me questionaram algo sério e eu ri do assunto?

- Desculpa, qual foi a pergunta? - Tento contornar a situação.

- Eu perguntei Agnes, por que você não acorda?

Minha cara de estranheza  para essa pergunta deve ter sido evidente, porque o repórter do lado faz a mesma pergunta, colocando mais ainda o celular perto do meu rosto e isso me pertuba.

- Por que você não acorda Agnes?

Olho ao meu redor e toda a equipe e pessoal que estavam no tapete vermelho sumiram, existe apenas Henry com um olhar perdido direcionado a mim, mas era como se não chegasse até a mim, como se não me visse.

Pi, pi, pi.

Ouço a buzina de novo do carro e me viro em direção ao som mas não acho o carro a minha esquerda, como ele estava anteriormente. 

Aliás nada está mais no seu devido lugar, não enxergo mais o sol, ao invés dele só vejo uma luz que me força cada vez mais a fechar e apertar meus olhos. Coloco a mão na frente do meu rosto e me viro de novo para Henry em busca de algum apoio, mas ele já não está mais lá no tapete.

- Por que você não acorda Agnes? - ouço a pergunta de novo e me viro assustada para o repórter mas sua boca não se mexe, mesmo que eu continue ouvindo a pergunta ressoar em minha mente.

Fecho os olhos ainda assustada e sem entender tudo o que está acontecendo, pois nada faz sentido. 

Quando abro meus olhos de novo não vejo nada, só escuridão. 

Percebo que na verdade não consigo abrir meus olhos, mesmo que eu esteja os forçando com toda vontade que tenho dentro de mim.

Pi pi pi... ao longe o barulho, que eu acreditava ser da buzina de um carro continua, mas dessa vez contínuo e mais agudo, sem parar e sem parar...

Sinto uma mão na minha, me agito e tento me mexer em resposta como um pedido de ajuda, mas meu corpo parece ter vontade própria e se recusa a obedecer aos meus estímulos.

O barulho do que julgo agora ser uma máquina ao meu lado esquerdo começa a apitar mais rápido quando eu ouço a voz dele, do meu Henry.

"Por que você não acorda, Agnes?".

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⏰ Last updated: Mar 07, 2021 ⏰

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