Queria ter mais tempo.

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Henry POV

O meu mundo pareceu desmoronar bem em frente a mim, e literalmente estava acontecendo isso, já que eu assisti Agnes ser alvejada diante de meus olhos. Sua feição ao receber o tiro, e a luz indo embora de seu rosto enquanto ela caía no chão são imagens que nunca poderei esquecer.

Mal tive tempo para processar o que tinha acabado de acontecer, Antony virou sua arma para mim desta vez, e eu aceitei o meu destino já que não havia nada mais o que fazer naquela situação, mas fiz isso enquanto o encarava, enquanto não desviava o meu olhar do dele, para que soubesse que em momento algum eu havia baixado a guarda ou me arrependido do que fiz, não me arrependia de ter me envolvido com Agnes.

Agnes.

Que seguia deitada no chão, parecendo lutar com o corpo para que não ficasse inconsciente. Tudo isso se passou em questão de segundos, até que ouvi um segundo disparo e fechei os olhos.

Porém não senti dor alguma, talvez por causa da adrenalina.

Só realizei o que aconteceu quando o homem na minha frente caiu de joelhos, com os olhos vidrados em mim, e não pensei duas vezes, nem queria saber de onde havia saído o tiro, mesmo que com minha visão periférica pudesse ver a movimentação dos policiais. O meu objetivo era só um: chegar até Agnes.

Quando peguei seu rosto em minhas mãos, seus olhos estavam fechados, mas ela parecia lutar para abri-los, lutava para falar algo.

- Ag... - eu chamei, sacudindo um pouco o seu rosto - fala comigo, amor.

Ela balbuciava alguma coisa enquanto a confusão se instalou ao meu redor e eu só ouvi o grunhido de Antony a alguns passos de distância de mim, rodeado por policiais enquanto o ferimento em seu abdômen, talvez na mesma altura do que ele deu em Agnes, sangrava.

Mesmo naquela situação, o seu olhar era de ódio. Se ele pudesse se levantar e me matar eu tinha certeza que ele o faria. A bagunça ao meu redor só aumentava a medida que o caos de curiosos se instalava para ver o fim daquela situação trágica.

- Você está sob custódia da polícia, seus crimes serão recitados para você a partir de agora - disse o policial para um Antony que continuava grunhindo, não sei se de dor, ou de ódio. 

- Ambulância, precisamos de uma ambulância. - eu gritei. O policial se virou e com um tom mais brando falou:

- Nós já solicitamos com urgência e ela está a caminho.

- Não vai dar tempo - eu disse, eu já nem lembrava mais do acidente que eu havia sofrido mais cedo, dor nenhuma se comparava a ver a mulher que eu amava desacordada bem a minha frente.

E naquele momento me arrependi de nunca ter dito à ela o quanto eu a amava e o quão importante ela se tornou pra mim em um curto espaço de tempo. Não queria pensar no pior. Não me atrevia a pensar no pior, mas eu queria que tivesse tempo, queria voltar alguns segundos, dias, meses e olhar nos olhos daquela mulher e dizer o quanto eu a admirava, o quanto ela era única e especial.

Ouvi ao fundo o barulho da ambulância que tentava abrir caminho por entre a multidão, já via alguns celulares e câmeras apontadas para toda a situação. Aquilo já devia estar sendo televisionado e já deveria ser assunto mundial. Comecei a me preocupar com os pais de Agnes sabendo pela mídia o que estava acontecendo com sua filha, e reuni toda a força que ainda sobrava em meu corpo para tirar a minha jaqueta, mesmo que estivesse em parte rasgada, e colocar ao redor de Agnes.

Uma enfermeira saltou do carro antes mesmo da ambulância parar e veio prestar os socorros. Ela veio até mim.

- O senhor precisa de pontos na cabeça e no braço. - Ela gritou para alguém dentro da ambulância: - temos um caso de "primeiro socorros" aqui.

- Agnes.. - foi o que disse apontando para ela.

A enfermeira tirou sua atenção de mim e se virou para Agnes que estava começando a perder a cor.

- Vou precisar que o senhor se afaste - ela disse e eu comecei a relutar, mas ela falou mais firme ainda sem me olhar, concentra em socorrer Agnes - eu preciso de espaço para saber o que fazer aqui.

Levantei do chão sentindo meu corpo dolorido em todas as partes, tudo doía. Mas se eu tivesse que trocar de dor, com certeza eu trocaria de situação com a minha menina que não merecia o que tinha acontecido com ela.

Mais médicos desceram da ambulância, um deles veio até mim e me inspecionava para ver onde foram os meus danos, e outros dois desceram com uma maca e se movimentaram para a imobilização de Agnes em cima dela. 

- Eu vou junto. - disse enquanto eles colocavam Agnes na ambulância, o mesmo ambulante me parou. - Nem adianta tentar me impedir.

- O senhor ainda precisa de cuidados.

- Então me leve pro hospital junto com ela, eu sou o único acompanhante dela aqui.

O paramédico olhou para a médica, que parecia ser a chefe da equipe e havia terminado de colocar Agnes para dentro da ambulância, como se pedindo permissão.

- A gente pode te levar junto conosco, mas chegando lá, a moça vai ser levada direto pra mesa de cirurgia e nenhum acompanhante será permitido. Entendido? - ela respondeu, sem nem me olhar e arrumando o resto dos utensílios e aparelhos dentro da ambulância.

Apenas acenei com a cabeça e entrei. Grunhi com a dor que senti na perna pelo esforço de subir o degrau, mas sentei o mais perto possível de Agnes. Devido ao fato de eles terem colocado alguns eletrodos e aparelhos em seu peito, uma agulha em sua veia e um aparelho nebulizador em seu rosto, a  única parte do corpo que eu conseguia alcançar era sua mão, e eu me agarrei a ela e apertei. 

Ouvimos uma batida na divisória de vidro que separa a parte de trás da ambulância da parte da frente que fica o motorista, e era ele quem havia batido.

- Acabaram de confirmar que o outro rapaz faleceu na viatura. Vão levar ele para o hospital para fazerem a balística. Devem chegar quase junto com a gente.

- Nossa prioridade deve ser essa moça. - A médica disse sem nem passar um segundo, e eu passei a respeitar ela ainda mais.

Antony depois de ter causado isso tudo, toda a bagunça na vida de Agnes, na da família dela e na minha, agora não está mais entre nós em virtude de uma atitude dele mesmo.

Não vou fingir empatia ou dizer que sinto muito pela morte desse homem, não quando ele feriu uma das pessoas que mais aprecio na vida. Me recuso a pensar que Agnes vai ter o mesmo caminho que ele, então aperto mais ainda a sua mão, como se por meio desse aperto ela entendesse o meu pedido, a minha súplica...

Fica aqui comigo, Agnes.

Colleagues.Where stories live. Discover now