Coração

220 30 8
                                    

"This world can hurt you, it cuts you deep and leaves a scar...Things fall apart, but nothing breaks like a heart..."

"Esse mundo pode te machucar, te cortar profundamente e deixar uma cicatriz... as coisas desmoronam, mas nada quebra como um coração..."

Beijar ele... Dizer que eu havia esquecido a sensação seria mentira, mas a lembrança não fazia jus a sensação real de estar envolvida por seu corpo mais uma vez, e ter seus lábios nos meus, os clamando como dele, como se esse fosse o lugar certo para estarmos e todo o resto do mundo não importasse e nem fizesse diferença.

Foi naquele beijo que eu percebi, mesmo estando claro para todos e até para uma certa parte da minha mente que eu não dava ouvidos, que estava completa e irredutivelmente apaixonada por Henry.

Ao abrir os olhos e me afastar do beijo em busca de ar, vi que seus olhos ainda estavam fechados e sua respiração acelerada. Encostei minha testa na sua, até que seu olhar finalmente fixou no meu, sua iris estava escura, totalmente tomada pelo desejo e pela situação que estávamos.

- Agnes... você sente isso? - ele perguntou com a voz baixa, distribuindo arrepios por toda minha pele, e eu desconfiada que minha voz me trairia, apenas assenti.

Ele passou sua mão por meu rosto como se estivesse memorizando minha face e nesse simples gesto eu percebi que ele se sentia da mesma forma que eu. Subi minha mão por seu braço até chegar em seu ombro e quando iríamos começar mais um beijo senti seu celular vibrar no bolso da calça, por conta da proximidade dos nossos corpos.

- Não vai atender? - perguntei, e seu olhar por alguns segundos se desviou do meu enquanto buscava o aparelho em seu bolso.

- É a Cindy. - ele disse e eu franzi a testa. Mas logo a realização se fez na minha cabeça: eles haviam ficado juntos na festa e agora ele havia trazido ela pro hotel. - Não se afasta não. - ele disse me puxando pelo braço, e eu nem havia percebido que automaticamente afastei meu corpo do seu.

- Você vai ficar com ela essa noite? - perguntei com a voz afetada, e nem tentei disfarçar.

- Eu não vou mentir, eu trouxe ela pro meu quarto sim. Mas isso foi antes de tudo, antes de você e da gente resolver isso.

- Na verdade, não resolvemos nada ainda.

- Eu quero resolver. Muito, Agnes. E sei que você também quer. É só você me dá o sinal, e ficamos juntos essa noite.

- Acho melhor você resolver a situação com ela primeiro. Ela deve ta confusa, te esperando no quarto. - disse enquanto me afastava mais um pouco dele, mas ainda segurando sua mão com a ponta dos meus dedos. Tentei demonstrar que estava tudo bem ele voltar pro quarto com uma outra mulher, com a sua ex que claramente ainda tem sentimentos por ele.

- Eu não quero ir. - disse ele contrariado, como um garotinho.

- Sério Henry. A gente tem muito o que conversar, muitas pontas soltas e eu acho que agora não é o momento exato.

- Sempre que eu viro as costas, acontece alguma coisa ou algum mal entendido e a gente se separa de alguma forma.

Eu sabia ao que ele se referia, e sabia também que parte desses desencontros foram culpa minha e de minhas ações precipitadas. Mas essa noite realmente parecia estar durando umas 70 horas, pareciam décadas desde que eu e Blake estávamos no quarto nos arrumando para a festa da DC. Se eu e Henry tivéssemos continuado nos beijando, com certeza iríamos para a cama por conta da saudade do contato mútuo, mas é melhor antes de qualquer passo que se tenha a conversa. 

- Eu sei, mas você não pode simplesmente deixar a Cindy lá - mesmo que seja exatamente o que eu quero que você faça, me esforcei para não falar, continuei - e eu tenho que ir pro quarto ver como as meninas estão, já que agora elas também foram arrastadas pro meio dessa confusão.

Ele assentiu e se aproximou novamente de mim, segurando meu rosto com suas duas mãos. Em outra situação eu riria do tamanho delas contrastadas com minhas bochechas, mas seu olhar não me dava margens para brincadeiras.

- Amanhã eu passo aqui, no seu quarto e a gente toma café da manhã juntos. Se a conversa tiver que se estender até o almoço, por mim tudo bem. Mas de amanhã essas pendências não passam, ok? - apenas assenti e ele balançou a cabeça - preciso te ouvir dizer.

- Ok Henry. - ele assentiu e deu um beijo em minha testa e se demorou por ali. Pus minhas mãos em seus braços e depois os levei onde suas mãos estavam, no meu rosto.

Puxei seus dedos da minha face, e beijei as duas palmas de suas mãos, e depois as abaixei mas ele tinha suas proprias ideias, já que passou um de seus braços por minha cintura e sua mão direita subiu novamente e se entrelaçou em meus cabelos. Nesse momento, meus olhos ja estavam automaticamente fechados esperando o que estava por vir, e não demorei a sentir seus lábios nos meus novamente.

Cada hora era diferente, cada vez era especial. Estávamos novamente nos beijando como dois adolescentes famintos e foi preciso muita força de vontade pra me afastar dele. Henry também não facilitava, e no final do beijo puxou meu labio inferior com seus lábios. Abri os olhos, ainda atordoada com o beijo e com sua presença e sorri, e ele me sorriu de volta.

- Até amanhã. - eu disse enquanto caminhava de costas olhando para o homem à minha frente, e com passos lentos em direção ao quarto. Ele ainda tinha o sorriso no rosto quando suspirou e passou a mão em seus cabelos.

- Até, Agnes. - e foi quando entrei no quarto.

Alex e Blake estavam na cama, encostadas na cabeceira, como se estivessem me esperando.

- Não falei que essa boba ia voltar?. - disse Alex. Blake revirando os olhos para a amiga, se virou pra mim.

- Posso saber o por quê de você não estar com o Henry agora mesmo?

- Porque acabou de acontecer uma cena digna de novela mexicana, com ex bêbado e alterado brigando com o possível novo envolvimento amoroso da mocinha.

- Você é a mocinha é? - perguntou Alex rindo e eu levantei o dedo do meio pra ela. - Não esquece da parte que o vilão e o mocinho já se conheciam e ja haviam se estranhado.

- Como eu disse, digna de telenovela. - disse me jogando na cama no meio delas, que se ajeitaram para eu me acomodar melhor. - Eu precisava descansar, precisava pensar. A gente vai conversar amanhã, botar todas as cartas na mesa.

- Essa é a hora que as amigas falam "eu te avisei,  Agnes, tudo poderia ter sido explicado há mto tempo" ou ainda ta cedo demais? - Blake me perguntou sarcástica enquanto me encarava.

- Eu surtei, eu sei. Mas também não é pra menos. Vocês viram o louco do Antony e o que ele pode fazer, ele não tem problema nenhum em causar cenas. Mimado do jeito que sempre foi, quando as coisas não acontecem do jeito dele ele vira um bicho.

- Eu ainda estou querendo saber como ele entrou aqui, se pra me deixarem entrar sem cartão de hóspede foi uma burocracia enorme. - Alex disse enquanto Blake murmurava uma concordância.

- Eu não sei. E são esses impulsos dele que me dão  medo. Mas amanhã eu vou na recepção e vou ver quem foi que autorizou a entrada dele. Meu Deus, se a Carlie souber disso tudo... ela mesma mata o Antony.

As meninas riram e ja estava quase amanhecendo quando pegamos no sono. E pela primeira vez em meses posso dizer com toda certeza que dormi esperançosa de que no dia seguinte daria tudo certo.

Tinha que dar.

Colleagues.Where stories live. Discover now