Bomba relógio.

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Isso não podia estar acontecendo, eu me via agora como se fosse espectadora de uma cena de novela. Eu não sabia como contornar aquela situação, já que Antony era instável como o timing de uma bomba relógio, que se apertasse o botão incorreto ou cortasse o fio errado, iria explodir.

- Antony. - disse com voz baixa enquanto ele ainda encarava o telefone quebrado ao chão. - Antony, olha pra mim.

Ele levantou os olhos e repetiu a única frase que ele parecia lembrar de existir.

- Me dá seu celular.

- Deixa minha mãe sair, ela não tá entendendo nada e deve ta assustada com o barulho de você quebrando o telefone. Isso é um problema nosso, pra gente resolver.

Ele veio andando com o andar apressado e os olhos fixos em mim, chegou até a pisar nos destroços do aparelho, mas pareceu não ligar pra isso.

- Agora isso é problema nosso, né Agnes? Quantas vezes eu quis resolver isso com uma conversa com você?

- Muitas, muitas vezes. - tentei entrar no jogo dele, e continuei - eu sei que eu sou toda errada, mas sério, vamos conversar só nós dois.

- Eu fiquei esperando durante semanas... dias, até você ficar sozinha pra eu poder subir aqui. Mas na sua nova vida aparentemente você não fica mais sozinha; sempre tem amigas, grupos de pessoas subindo aqui. Sempre tinha ele...

Tentei me segurar para não demonstrar a repulsa que eu estava sentindo com relação as atitudes e palavras dele. Ele havia literalmente chegado ao fundo do poço, já não tinha mais noção do que fazia, ou pior, e o que me dava mais medo, era saber que talvez ele tivesse sim noção da dimensão dos seus atos.

Ele sabia muito bem o que estava fazendo, me mantendo refém nas ideias que existiam exclusivamente na sua cabeça. Antony sempre achava que tudo e todos eram contra o nosso relacionamento. Qualquer amizade que eu criava, era logo bombardeada de ataques da parte dele. Ele nunca entendeu que quem me afastou dele, foi ele mesmo.

E ver agora ele usando a palavra "ele" para se referir a Henry me irritava demais, quase mais do que eu conseguia disfarçar. Henry era um homem que agia como um, e Antony apenas poderia sonhar em ser pelo menos metade do que ele era. 

- Não vai falar nada? - ele perguntou me desafiando. Minha vontade era de socar, estapear, cuspir na cara dele.

- Não sei o que te dizer.

- Diz que volta pra mim. - o riso de deboche que eu soltei foi involuntário, e quando dei por mim ele já havia percebido e seu rosto era ainda mais raivoso do que antes.

- Você precisa de ajuda. - eu respondi, ele bufou e se virou de costas. Ele tinha ajeitado a blusa e agora eu não via mais a arma. - Vamos sair daqui, pra conversar.

- Não Agnes. Porque eu tentei várias vezes conversar com você em outros lugares, mas você sempre me ignorava ou não falava comigo. Hoje a conversa é definitiva.

- Eu não sei mais o que precisa ser dito Antony, de verdade. A gente já não dava mais certo desde muito antes de terminarmos.

- Eu sempre tentei dar certo. - ele disse gritando, me fazendo dar um passo pra trás.

- Agindo dessa forma? Gritando comigo? - ele passou a mão no rosto diversas vezes. - Me batendo?

- Isso só foi uma vez.

- Isso não devia ter acontecido nenhuma vez! - dessa vez quem gritou fui eu.

- Eu já me desculpei, eu quero ser melhor.

- É? Então por que você está com uma arma na cintura? - perguntei olhando pra ele fixamente, buscando coragem não sei de onde. Ele também não piscava, e um indício de sorriso começou a aparecer em seu rosto quando ele respondeu baixo:

- Eu disse que hoje era definitivo.

Um barulho atrás de mim chamou minha atenção, e pude ver que era minha mãe apareceu na sala, acanhada, e eu percebi que ela deveria estar escutando tudo.

- Mãe, o Antony vai deixar a senhora sair. - disse segurando minhas lágrimas, não havia a menor possibilidade de eu levar minha mãe pra baixo junto comigo e eu não queria que ela visse algo de ruim que pudesse acontecer ali.

- Não vou te deixar sozinha. - ela disse e me abraçou de lado, e colocou algo no meu bolso da calça. Eu olhei pra ela intrigada.

- Ninguém vai sair, e ninguém vai ficar sozinha até que a gente resolva isso da melhor forma. - Antony disse.

Enquanto isso, minha mãe pegava o meu celular que estava no meu outro bolso e colocava dentro da minha calça, na parte de trás pelo cós. Eu ficava olhando para Antony pra que ele não focasse na movimentação dos braços dela.

- E como a gente resolve isso?

- Você termina com aquele cara, corta relação com as suas novas amizades e volta pra mim. Você só precisa de um tempo a mais comigo pra relembrar como nós somos bons juntos. Não lembra como seus pais fazem gosto da nossa relação? - ele disse passando a mão no braço da minha mãe. Eu a puxei pra trás de mim.

- Não encosta nela! - eu disse e minha mãe aproveitou a posição pra esconder mais o celular com a blusa.

- Chega Agnes, chega! Me dá seu celular.

- Não vou te dar nada até minha mãe ter saído daqui.

Ele caminhou até minha bolsa que estava no balcão da cozinha americana, e virou tudo o que estava dentro no batente.

- Para com isso Antony.

- Onde é que tá? Tá com você? - ele veio caminhando até mim e minha mãe pegou o item que ela havia colocado no meu bolso. E agora eu via que era um celular, mas não o meu.

- É melhor dar logo Agnes. - minha mãe me encarou e eu assenti. Antony pegou o celular da mão dela.

- Ainda com papéis de parede de estrelas e constelações? - ele disse bufando depois de apertar o botão inicial. - Você deveria ensinar essa proatividade pra sua filha, Susie. As vezes tudo que a gente precisa fazer pra evitar um desastre de acontecer, é obedecer.

- Tá, ela já te deu o celular, e o meu tá lá dentro carregando. O que você vai fazer agora? - minha mãe perguntou, e eu podia ver que ela estava muito nervosa mas estava conseguindo se controlar bem.

Que nada aconteça com ela... que nada aconteça com ela... esse era o meu mantra.

- Agora Susie - Antony começou depois de colocar o celular no bolso da frente da calça - eu vou levar você pro quarto, pegar o seu celular porque não queremos que você mande nenhuma mensagem e que tenhamos alguma interrupção, certo? - nós não demos resposta e ele também não esperou por uma pra continuar - e você vai ficar lá quietinha esperando o momento que eu e sua filha vamos bater lá anunciando que está tudo bem.

Minha mãe se virou pra mim, como se perguntasse se eu estava de acordo com aquilo e eu só assenti tentando tranquilizá-la. Ela me abraçou e eu a abracei de volta, as lágrimas caíram sem minha permissão.

- Vamos, não é uma despedida. É só um "até logo", tudo depende da Ag. - ele disse enquanto andava até a porta e a trancava, depois chamou minha mãe com o dedo pra acompanhar ele até o corredor dos quartos.

- Deixa ela lá e volta aqui, tá me ouvindo? - eu disse.

- Calma amor, já volto. Não faça nada de estúpido. - ele disse e encaminhou minha mãe na reta dos outros cômodos.

Quando eu já não podia ver mais ele, levei minha mão até a parte de trás da minha calça e peguei meu celular que minha mãe, brilhantemente, havia escondido ali antes de fazer a troca.

Com os dedos trêmulos mandei mensagem pra única pessoa que eu queria naquele momento, que eu ansiava que me salvasse e que acabasse com aquela aflição.

"Me ajuda"

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