Dias turbulentos.

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Eu não podia acreditar em tamanha cara de pau de Antony. Quantas vezes meu Deus, eu ja havia dito pra ele que não estávamos mais juntos, mas ele persistia nessa ideia de que eu só precisava de um tempo pra pensar, quando o que eu realmente precisava era de um tempo longe dele, um tempo permanente.

- O que você ta fazendo na casa da minha mãe?

- Eu tive que mandar mensagem pra ela perguntando se a filha dela estava bem, já que eu não tinha nenhuma resposta dela propriamente dita. E a incrível Dona Martha me convidou pra almoçar - podia ouvir o sorriso em sua voz enquanto ele falava provavelmente olhando pra minha mãe.

- E a não resposta, o não contato, ja não é explicação suficiente de que eu não quero ter mais relação nenhuma com você? - eu estava começando a ficar realmente irritada, ele não tinha a menor noção ou senso de como ele parecia um maluco fazendo isso.

- Você sabe como eu gosto das coisas ditas cara a cara Agnes. - ele disse baixo, sua voz ecoando lembranças desagradáveis em mim.

Conheci Antony quando eu era uma menina de 23 anos e me encantei com o fato de que um cara mais velho, na época ele tinha 28, tivesse se interessado por mim. Mesmo com os alertas de amigos, nem tanto sobre a diferença de idade, mas sobre a diferença de ideias e mentalidade, decidi tentar ter um relacionamento com ele.

No início foram flores, como sempre. Na época ja estava engajada em pequenos papeis em peças de teatro e participações em episódios de séries na TV. Antony trabalhava na empresa de segurança do pai e era o grande prometido a herdar a companhia, "a segunda maior do mercado, com filiais em 9 estados", ele repetia essa frase a exaustão...

A princípio fingia não notar seu desinteresse e até certo desdém sempre que eu falava sobre meus trabalhos artísticos. Antony fazia questão de exibir uma cara fechada quando me buscava na faculdade ou no cursinho, dizia que eu sempre vivia rodeada de muitos homens e que não gostava disso. Hoje tenho consciência que deveria ter cortado esse tipo de pensamento e de liberdade que ele achava que tinha com relação ao meu trabalho, mas na época apenas ouvia e preferia não responder. Se isso tivesse ficado apenas nesses comentários...

Dois anos de relacionamento e eu consegui meu primeiro papel em um filme, Carlie que começara a trabalhar comigo no ano anterior organizou uma festa surpresa pra mim na minha casa, mas parece que ela tinha esquecido de convidar Antony já que quando chegamos na residência ele adotou a sua usual cara de poucos amigos e foi direto pra varanda. Naquele dia eu estava tão feliz que pela primeira vez eu não quis ir atrás dele e saber se ele estava bem ou o que poderia ter acontecido que tivesse desencadeado aquela reação nele. Era o meu momento, poxa! Se ele não estava feliz, sinto informar que eu estava me sentindo a mulher mais realizada do mundo. Carlie chamou alguns colegas de faculdade, a qual eu já estava no último periodo, e do meu curso de teatro; éramos entre 20 e 30 pessoas mais ou menos.

Ja havíamos adentrado a madrugada e em determinado momento vi pelo canto do olho Antony saindo da varanda e me encarando enquanto eu conversava com um grupo de amigos, que estavam também animados por terem conseguido uma campanha de TV, era realmente um dia abençoado pra nossa turma. Fingi que não reparei o jeito estranho com que ele ficou parado durante alguns minutos, e depois foi em direção ao meu quarto. Me desculpei com os meninos e fui atrás dele, porque eu realmente queria que ele fizesse parte daquele momento comigo. Abri a porta e ele estava sentado na minha cama, mas se levantou quando me viu entrar e eu não soube decifrar o seu olhar.

- Antony, por que não esta aproveitando comigo? - perguntei e ele soltou uma risada, apertando a ponta de seu nariz com os dedos.

- Parece que não precisa de mim, já tem amigos e companhia o suficiente.

Colleagues.Where stories live. Discover now