Vermelho

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Henry POV

Decidi voltar caminhando do ponto onde havia deixado Agnes entrar no carro, até o meu apartamento. Não era muito longe e eu queria um tempo na brisa fresca daquela noite pra pensar um pouco sobre tudo. Pensar um pouco sobre ela

Nunca era demais e fazia tempo que eu não me sentia assim. Pra falar a verdade, eu nem lembro da última vez que uma mulher tinha virado a minha cabeça da forma que Agnes havia conseguido. Talvez no ensino médio na minha cidade no interior de Londres...

Rio ao lembrar da garota que encontrei na sala da comic con meses atrás, assustada com a quantidade imensa de possibilidades que um passo tão grande como o de fazer parte de um filme da DC Comics poderia acarretar na vida. Mas ao mesmo tempo, ela foi tão segura de si no palco enquanto eu moderava o painel dela e das outras meninas, tinha a resposta pra cada pergunta na ponta da língua, e deixou não só a mim mas a todo o Hall H enfeitiçados e na palma da sua mão.

Deus, parecia uma eternidade lembrar desse dia, mas me fazia ter recordações muito boas!

E agora saber que já estávamos resolvidos, que ela havia me contado sobre seu passado e que não tinha mais nenhum tipo de segredo entre nós dava uma sensação de... liberdade. Me pego nervoso, pensando no dia em que ela vai me levar pra conhecer seus pais e eu a levo pra conhecer os meus. Minha mãe pode criar algum tipo de problema ou ciúme no início por eu ter escolhido uma americana... britânicos e suas manias.

Chego na entrada de meu condomínio por volta de 20 minutos de caminhada depois. Checo meu celular mais uma vez, e ainda não havia nenhuma mensagem de Agnes avisando que chegara. Luto com o impulso de ligar ou mandar mensagem, tenho medo de depois do que ela passou com o babaca do ex, eu possa parecer estar podando sua liberdade ou a estar sufocando. Então suprimo essa vontade de saber dela, pelo menos por enquanto, e guardo o celular em meu bolso de novo ao cumprimentar o porteiro.

- Boa noite Senhor Cavill - ele me cumprimenta - tem uma moça esperando o senhor há algumas horas no saguão.

- Boa noite Albert. Ela se identificou? - pergunto curioso, e ele nega com a cabeça.

- Só perguntou se o senhor estava e eu disse que não. Me fez interfonar pro seu apartamento na frente dela e tudo, pra comprovar. Não sabia o que fazer.

Enquanto ele falava eu passei por seu posto que ficava a esquerda de quem entrava na portaria e virei o pescoço na direção do corredor, a direita, até que suspirei e vi quem estava me aguardando.

- Tudo bem Albert. Eu lido com ela a partir daqui. - agradeci e fui sério na direção dela.

- Henry, tenho que falar com você. - ela disse levantando no momento que me viu aparecer em seu campo de visão.

- Achei que a gente já tinha conversado tudo. Inclusive lembro que suas últimas palavras direcionadas pra mim foram "foda-se". - falei cruzando os braços na sua frente e ela bufou.

- Você tá sozinho? - ela disse olhando pra trás de mim como se estivesse procurando alguém.

- Cindy, por favor vamos terminar logo com isso. Não faz bem pra mim, e muito menos pra você.

- Eu sei Henry, você já deixou claro de várias maneiras que quer ficar com sua nova garotinha.

- Cindy... - passei a mão por meu rosto, cansado da mesma discussão todas as vezes - eu não quero ser indelicado com você em respeito a tudo que vivemos, então por favor...

- Henry, me escuta! Eu não vou falar como eu sei disso... porra, eu nem sei explicar a razão de eu estar falando isso pra você, te alertando... - ela começou e parecia nervosa. Parando pra reparar agora desde que começamos a nossa conversa, pude ver como ela estava trêmula e mexendo no cabelo a todo tempo.

- O que houve? Você tá precisando de alguma coisa? - perguntei preocupado, e ela soltou um riso nervoso.

- Não, mas talvez a Agnes precise. - ela respondeu e eu fiquei surpreso porque pelo que eu me lembre, essa era a primeira vez que ela se referia a Agnes pelo real nome.

- O que você tá falando? - perguntei e cheguei mais perto, fazendo com que seus olhos focassem em mim. - Cindy, foca em mim. O que você quer dizer com isso?

- Saiu de controle... ele saiu de controle, Henry. - ela disse e tentou dar a volta por mim pra poder sair do prédio e eu tampei o seu corpo com o meu, não dando espaço para que ela saísse.

- Cindy, por Deus me fal... - comecei a dizer até que senti meu celular tremer em meu bolso. Peguei e vi na tela do dispositivo que era uma mensagem de Agnes. O alívio que percorreu o meu corpo ao ver que ela estava me mandando mensagem e que isso significava que ela estava bem, não pode ser descrito aqui.

Mas ao abrir a mensagem, fiquei nervoso novamente... na verdade, o nervosismo cresceu abruptamente dentro de mim. Percebendo minha inércia, Cindy me empurrou e correu para a saída do prédio. Em uma atitude instintiva me virei para tentar segurá-la, mas ela já havia saído. Nem se eu quisesse eu conseguiria correr atrás dela, minhas pernas congelaram no lugar.

Me ajuda.

Duas palavras que ficaram repetindo na minha mente. Pedi para que Agnes me mandasse mensagem ao chegar em casa, e o que ela me manda é um pedido de ajuda...

Como se tivessem vida própria, meus pés começaram a se mexer em direção a garagem. Passei batido pela portaria, e ouvi Albert me chamar mas não respondi.

Coisa que também acontecia quando eu tentava ligar para o número de Agnes: sem resposta. Entrei no carro e joguei o celular no banco do carona, depois de ter ligado mais de 3 vezes pra ela, enquanto dava partida no veículo e ia em direção ao apartamento de Agnes.

Cruzava as ruas sem prestar atenção, só queria chegar até ela e me certificar de que ela estava bem, de que a mensagem e as palavras de Cindy não passavam de uma grande confusão e coincidências horríveis.

"Ele saiu de controle..." ela falou. Por 'ele' eu só poderia imaginar que ela estivesse se referindo a Antony. Esse filho da puta... ainda perseguindo ela e só de imaginar ele fazendo alguma coisa pra machucar, só de imaginar ele encostando um dedo nela sequer... fazia minha visão ficar turva.

Eu podia ver o prédio de Agnes que ficava na esquina da próxima rua, mais alguns metros e eu iria ajudar a minha Agnes e resolver de uma vez por todas essa situação com Antony.

Mas não vi o sinal ficar vermelho no cruzamento a minha frente e avancei o carro, só senti o impacto na lateral do veículo e a última coisa que vi foi o vermelho do sangue que sentia jorrar do meu supercílio, passei os dedos por cima do meu olho e senti uma dor absurda. A última coisa que pensei foi nela...

Agnes.

Colleagues.Where stories live. Discover now