O Acaso II - Leozin Mc

Capítulo 2

(mais um pra vocês hoje)

Maju 🦋

Gosto de falar que a 3 anos atrás eu renasci.

Mesmo que muitos achem minha história inacreditável, ela é real. É como se eu tivesse nascido a 3 anos atrás, nada antes disso eu me lembro e não tenho nada para recordação. A não ser minhas tatuagens e meu nome na ficha mal escrita do hospital.

Maria Júlia Fernandes.

Desde que tudo aconteceu, vivo com Cláudia, uma mulher que me acolheu de coração aberto sabendo de tudo que me aconteceu. Ela trabalhava no necrotério desse hospital e desde então, nós tentamos descobrir quem eu sou, mesmo que sejam tentativas sem sucesso.

Pelo que ela me disse, eu entrei às pressas no hospital, por isso a ficha mal escrita. Quando eu consegui parir meu bebê, eu tive 3 paradas cardiorrespiratórias. Nessa terceira, acharam que eu não sobrevivi, que eu poderia ter tido uma possível morte cerebral.

Fui dada morta por negligência médica quando de fato aconteceu, e se não fosse Cláudia eu talvez estivesse morta realmente.

Nós tentamos procurar família pelo pouco que tínhamos, procurar meu nome em redes sociais mas não tinha nada. Eu não sabia quem eu era.

Desde então, vivo com Cláudia e sua filha Rafaella em sua casa. As duas viraram família pra mim mesmo que eu saiba que eu tenho uma em algum lugar.

Eu já fui em várias consultas, em todas eu escuto que preciso de algo pra ajudar minha memória. Cheiro, fotos, pessoas. Mas eu não sei de nada, eu não me lembro de nada.

As vezes eu sonho. Sonhos desconexos, com frases desconexas, como se fosse visões passadas, eu me lembrando aos poucos. Por conta disso, comecei a escrever em um diário. Sempre que algo vem em minha mente eu anoto, na esperança de um dia eu juntar tudo e conseguir me lembrar de algo.

Única coisa que me remete a alguém é um nome. Thiago. Eu sempre o chamo nos meus sonhos, sejam eles ruins ou bons. Só eu falando e nunca o rosto da pessoa. Como se fosse um irmão que tá sempre ali presente nas situações que me ocorriam.

Desde que tudo aconteceu, minha única amiga era Rafaella. Até ela me apresentar seus amigos e eu conhecer Matheus, o meu namorado. No começo era tudo mil maravilhas, era incrível. Ele foi se tornando agressivo aos poucos mas eu sei que ele me ama, nós estamos a quase dois anos juntos, ele não estaria comigo por nada.

“Anda rápido Maria Júlia, se você demorar eu vou ir sem você.” escutei Matheus gritando enquanto batia na porta.

Suspirei e sai do banho que eu havia acabado de entrar. Me sequei vestindo uma blusa de manga longa pra tampar alguns roxos feito por ele e um short jeans claro.

“Só vou me maquiar.”

“Vai lá ficar igual uma prostituta.” ele disse e saiu do quarto me deixando sozinha.

Me olhei no espelho por alguns minutos. Eu sinto que eu era tão feliz antigamente, hoje me sinto tão sozinha.

Comecei a me maquiar aos poucos, não fiz nada exagerado e passei um batom claro. Matheus não gostava que eu passasse batom vermelho, mesmo sendo meu preferido.

Desci encontrando ele impaciente na porta. Beijei a cabeça de Cláudia e dei um abraço rápido em Rafaella que não iria hoje.

“Se acontecer algo me liga.” ela sussurrou em meu ouvido. Sorri pra mesma e entrei no carro de Matheus.

“Sem ficar contando sua vida pessoal pra qualquer pessoa. Você não tem amigos, tem conhecidos, seu amigo sou eu. Escutou?” eu assenti rápido e ele sorriu pegando na minha mão e indo em direção a festa que já estava bastante agitada.

Entramos cumprimentando a maioria que ali estava. Todos elogiando a gente, eles realmente acreditam que somos o casal perfeito.

Senti um olhar me acompanhando a cada passo. Varri o local com os olhos até encontrar um garoto com boné azul e algumas jóias, nossos olhares se cruzaram e meu corpo travou.

Eu não sei o que me aconteceu mas pela primeira vez, eu senti algo que eu jamais havia sentido ou pelo menos, não lembrava de um dia ter sentido.

Senti frio na barriga, vontade de chorar, felicidade, tudo junto, por causa de um olhar.

Eu evitava o olhar porque se Matheus percebesse iria acabar ficando com raiva e descontando em mim mas o que eu sentia o olhando era algo indescritível. Mesmo tentando disfarçar, eu sempre acabava olhando pro mesmo.

Tentei aproveitar a festa enquanto bebia acompanhada de Michele, uma amiga de Rafaella. Eu estava sentada no colo do Matheus enquanto observava o local.

O tal garoto se levantou despedindo. Novamente nossos olhares se encontraram e eu senti uma vontade absurda de ir nele e perguntar seu nome mesmo sabendo que eu jamais faria isso.