Aquele olhar

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Abro a porta do armário e pego duas xícaras e as coloco sobre a bandeja, aproveito para pegar alguns biscoitos que a Maria tinha feito, escuto o barulho da chuva que vem de fora e sinto um pouco de frio. Vou até o fogão e desligo o fogo, pego o bule e com cuidado despejo o líquido quente e de aroma delicioso. 

Quando tudo está pronto seguro a bandeja e vou para a sala que até então continua vazia, fazia mais de uma semana que estávamos em Buenos Aires e durante esses dias pedimos a uma empresa de construção que desse uma olhava em tudo, a casa estava bem cuidada, mas ainda era preciso alguns reparos na parte de fiação e uma pequena reforma na sala e em alguns cômodos na parte superior. A reforma foi rápida e agora que tudo estava nos conformes, era hora de dar a nossa cara a esse lugar incrível. 

Vejo o Thiago sentado no tapete que estava perto da janela, vou até ele colocando a bandeja em cima do tapete e me sentando a sua frente. Ele olha primeiro para o que preparei e depois para mim, vejo um sorriso surgir em seu rosto, mas o que me chama atenção é o seu olhar. 

Com o passar dos anos Thiago e eu nos conhecíamos de uma forma tão grande que bastava um olhar para saber o que se passava em nossas almas. Só de olhar em seus olhos eu sabia se ele estava com raiva, triste, com medo ou feliz, mas tinha momentos como esses que eu não conseguia saber o que seu olhar significava, eu conseguia ver como o brilho era intenso e toda vez que ele olhava assim para mim, era como se uma descarga elétrica passasse por todo o meu corpo provocando um formigamento em minhas mãos e acelerando as batidas do meu coração.

Eu sentia uma necessidade tão grande de descobrir o porquê que ele me olhava assim as vezes, mas eu havia percebido que ele costumava esconder esse olhar, como se tivesse medo de me contar. Um dia eu descobria e quando isso acontecesse talvez eu entendesse o porquê do meu coração bater tão forte.

Thiago: Ana – pisquei me situando – Fez chocolate quente?

Ana: Claro que não – olhei para minha xícara – Sua mãe fez antes de ir dormir.

Thiago: Só faltou a fogueira e as histórias de terror – fiz uma careta, enquanto ele citava o que costumávamos fazer nas noites frias da Fazenda.

Ana: Eu dispenso as histórias de terror – peguei um biscoito – Esse lugar vai ficar impressionante.

Thiago: Vai sim – bebeu um pouco do seu chocolate quente – Mas antes precisamos de um sofá – ri divertida – E de muitas outras coisas.

Concordei, durante esses dias passamos a ver tudo que iríamos precisar, Maria disse que queria várias plantas na sala e Thiago e eu achamos engraçado, quero ver só quem vai cuidar delas.
 
Ana: E aqui na sala o que vai fazer? – ele me olhou pensativo.

Thiago: Ainda não sei – sorriu misterioso – Mas já falei para mamãe que aqui – ele apontou onde estávamos – Vai ficar algo que eu já providencie.

Ana: E o que é? – perguntei curiosa.

Thiago: Não seja curiosa – ele riu – Logo você vai ver.

Desisti de saber e passei a tomar meu chocolate, vez ou outra eu me pegava pensando no meu passado esquecido e me perguntava se deveria pesquisar mais sobre mim na internet.

Thiago: Está tudo bem? – voltei meu olhar para ele – Ficou pensativa de repente.

Ana: Eu estava pensando se devia ou não pesquisar mais – ele pareceu entender.

Thiago: Quer fazer isso? – fiz um sinal positivo com a cabeça – Vem cá.

Thiago pegou a bandeja a deixando em um lado oposto fazendo com que o tapete ficasse livre, me aproximei dele enquanto ele mexia em seu celular. Em uns minutos algumas tínhamos na tela do celular, vários sites. 

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