Refúgio

Permitir

Me limito a olhar a movimentação da rua, o vai e vem das pessoas, os carros fazendo o seu trajeto. As luzes das lojas que estão nas redondezas. Thiago e eu costumávamos vim aqui, sentar em uma das mesas que ficam na calçada, pedíamos algo gostoso e passávamos horas conversando. Qualquer lugar em sua companhia se tornava especial. 

A audiência não foi fácil, mas estávamos todos aliviados por encerrar esse passado doloroso. A nuvem escura que provocava várias tempestades havia evaporado. 

Sinto sua mão percorrer meu braço deixando um rastro de calor, o miro e me perco em seu olhar poderoso e arrebatador, sua boca se curva em um sorriso sedutor e meu coração palpita freneticamente. Sustento o seu olhar e vejo como agora ele não esconde seus sentimentos, ele trás minha mão para perto de sua boca e deposita um beijo sem desviar seus olhos dos meus.

Thiago: Eu gosto da forma como você me olha – seu sorriso se ampliou – Posso ver tudo que à dentro do seu coração.

Eu sabia que sim, Thiago conseguia ver o que mais ninguém via e estar assim tão visível a ele não me deixava vulnerável, ao contrário. Eu me sentia forte e feliz.

Ana: E o que vê? – perguntei baixo.

Thiago: Vejo o lugar mais lindo do mundo – engulo em seco – Vejo tanto sentimentos misturado, seus olhos não mentem, eu vejo o que te provoco.

Ana: Não devia falar assim – eu estava ficando vermelha – Mas sabe eu também consigo ver o seu coração.

Thiago: A é? – ele riu, era bom vê-lo tranquilo – E o que vê?

Ele me fitou e eu pude ver o que ele a muito tempo escondeu, mas que agora ele deixava a mostra. Era tão forte, era tão real.

Ana: Você está me deixando vermelha Thiago – ele riu.

Thiago: Eu adoro te deixar vermelha – ele olhou pra rua – Lembra quando inventávamos histórias para cada pessoa que passava na rua?

Esse era um dos vários motivos de eu gostar de vim aqui, criávamos inúmeras histórias para as pessoas que passavam por aqui perto. Era uma mais mirabolante que a outra e o Thiago quem começou com isso. 

Ana: Lembro – encaro as pessoas na rua – Sempre tão especial, você fazia isso para o desastre que é minha história perdesse um pouco da dor. 

Sempre cuidando de mim.

Thiago: Tenho uma história incrível – ele chamou o garçom e pediu a conta – Quer escutar enquanto vamos para casa?
Concordei e depois de pagarmos saímos do restaurante. Ao princípio ele ficou em silêncio enquanto observava todos ao nosso redor. O olhei com expectativa.

Thiago: Existia uma garota curiosa mas cheia de lacunas em sua mente – ele olhava o céu – Ela sempre quis saber quem era, mas o medo de descobrir que poderia ser alguém ruim que fez algum mal sempre a assombrou – era verdade eu sempre tive esse medo – Mas coragem é seu nome também.

Ana: Tá mais para medo isso sim – intervi e ele fez uma careta.

Thiago: Como eu estava dizendo, ela agora está se descobrindo e na verdade se encontra um pouco perdida no meio disso tudo – ele me abraçou de lado – Mas logo ela irá se encontrar. 

Ana: Como?
 
Era uma pergunta válida, a cada dia que se passava eu mal sabia quem era. Ter conversado e deixado claro que eu não era mais a mesma ajudou, mas a verdade era que ainda existia resquícios de medo.

Thiago: Se permitindo sabe? – paramos no meio do caminho – Já contou como se sente, já ouviu também Ana. Mas ainda se mantém travada, isso faz com que não veja o que precisa ver – o olhei sem entender – Só quando você fazer o que quer sem pensar tanto, vai descobrir o que tanto te pedem.