Encaro a garotinha de cabelos longos e escuro à minha frente, Bia aperta o embrulho em sua mão e eu estava estética no mesmo lugar. Alice confiara em mim, mesmo não sendo a garota de antes ela tinha deixado o seu pequeno tesouro aos meus cuidados. As palavras fugiam e eu não conseguia formular uma frase sequer.
Bia estava um pouco retraída e eu não sabia se era vergonha ou se ela se arrependeu de vir aqui. Eu chutaria a segunda opção, seus olhos percorriam cada cômodo visível e o silêncio que se instalou era incômodo.
Thiago: Bom! Que tal um tour antes de vocês começarem com a decoração? – sua voz transmitia calmaria, Thiago tinha o dom de suavizar qualquer situação complicada.
Bia: Eu adoraria – escondo um sorriso, acho que o Thiago tinha ganhado uma pequena admiradora.
Thiago: Então senhorita Urquiza vou te mostrar o meu humilde e colorido lar.
Começamos a pequena tour e subimos para o andar superior onde mostramos todos os quartos e outros cômodos, Bia ficou encantada com a vista de uma das sacadas e também se mostrou indignada ao saber que não usávamos o elevador que tinha na casa.
Bia: Mas nenhum pouquinho? – ela gesticulava com as mãos.
Thiago: É de serviço, mas eu acho que pode ser assombrado também – fez uma cara misteriosa – Gosta de histórias de terror?
Ela fez uma careta que dizia claramente um não e ambos passaram a conversar sobre histórias e Thiago contava sobre uma história que ele leu recentemente, onde um homem e uma mulher eram agentes secretos e tinham que trabalhar juntos. Eu acompanhava em silêncio a interação dos dois, era uma linda amizade nascendo.
A pequena excursão acabou onde se iniciou, na sala e nesse meio tempo o Thiago trouxe uma caixa de tamanho médio e cor azul. Ele a deixou sobre a mesa e logo inventou uma desculpa, usou o fato de ter que resolver umas pendências com aqueles papéis e sumiu para o seu quarto. Maria não estava e restou só nós duas e eu não sabia se era isso que era realmente queria.
Seu olhar parecia querer investigar minha alma, ele estava em busca de algo importante. Sua irmã e ser sua irmã era o que eu mais queria. Eu só não sabia se ela estava disposta a aceitar quem eu era agora.
Eu nem sabia quem eu era.....
Tento domar essa mistura louca de emoções e pergunto se ela está com fome, ela responde que não e aponta a caixa. Nos minutos que se seguiu ela se concentrou no que tinha dentro, livros e vários enfeites. Era a caixa mágica da Maria, ela guardava seus tesouros como ela mesma dizia. Tava mais para as suas bugigangas. Mas Maria adorava os enfeites assim como eu.
Bia era cuidadosa, ela espalhou alguns quadros pela sala, regou as plantas no gavetão e vez ou outra eu a pegava olhando o grande piano de cauda, mas ela mal falava e quando falava respondia minhas perguntas de modo vago. Ela contou um pouco sobre as amigas e disse que uma era italiana, falou sobre a escola mas não se demorou muito nesse assunto. Contou sobre como ama desenhar, conheci um pouco dela e quando eu fazia uma pergunta que ela considerava invasiva ela optava por não responder.
Eu tinha a sensação de que ela não queria ficar mais aqui, que era um esforço e que a machucava de alguma forma. Me senti tão mal, tão mesquinha, meus olhos enchem de lágrimas. O que eu estava fazendo?
Ana: Quer que eu ligue para os seus pais e peça para eles virem te buscar?
Seus pais que também eram os meus pais, vejo os seus olhos se encheram de lágrimas e me recrimino por minhas palavras. Eu era uma idiota.Bia: Não quer que eu fique? – sua voz soou tão baixa que quase não pude ouvir.
Deixo os livros que estava guardado na estante de qualquer jeito e vou para o sofá, encaro seus olhos que estão avermelhados.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Refúgio
RomanceAna e Thiago se conheceram em um momento de dor e a conexão foi tão grande, que ambos se tornaram muito mais que amigos. Se tornaram o refúgio um do outro. O que aconteceria se nessa história um ponto importante fosse mudado? O que nossa querida An...