Escolhas

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Era tarde! O céu estava escuro e livre de estrelas, mas a lua brilhava grande e exuberante, eu podia ver através da janela a intensidade da sua luz. Minha mão segurava meu violão e o som baixo que vem dele era envolvente e sem sentido, eram só notas musicais e acabo por me deixar levar.

Era impossível não sorrir, Ana estava feliz e quando a vi voltar do quanto sua irmã ela irradiava luz. Ao nos despedimos dos Urquizas pude notar o olhar carinhoso da Alice, mas também pude ver como o Mariano se sentia deslocado. Tudo nele emanava um amor poderoso, mas em seus olhos havia culpa e medo. Como se ele temesse perder algo importante.

Quando chegamos em casa mamãe preparava o jantar, ela estava animada e o restante da noite escutamos Ana contar como fora sua breve conversa com a Bia e enquanto mamãe fazia seus divertidos e embaraçosos comentários eu observava como Ana estava linda.

Os cabelos agora não era curto como quando a conheci, as mechas agora era de um vermelho vivo pois ela gostava da cor, o aparelho dental se fora. Mas seu olhar ainda preservava sua força e mistério.

Força era um dos muitos adjetivos que descreviam a garota por quem sempre fui apaixonado. Misteriosa, engraçada, calmaria e ao mesmo tempo tempestade. Determinada, ela me inspirava todos os dias.

Lembro de quando perdi a Fazenda e mesmo depois de uma bela e emocionante despedida, eu não me sentia nada bem. Em minha cabeça eu pensava, porque continuar? Eu não tinha mais ânimo pra nada.

Não ia para a faculdade mesmo faltando pouco para termina-la, não jogava mais basquete e também não corria mais. Eu vivia no automático.

Ana e eu sempre tivemos uma conexão peculiar, como se de alguma forma soubéssemos exatamente do que o outro precisa. As vezes esperar é o certo a se fazer e Ana esperou, palavras de incentivo são necessárias, mas tem horas que um olhar tranquilizador basta. Uma mão entendida, um sorriso gentil e principalmente não subjugar o que o outro sente. Respeitar é imprescindível, cada um tem os seus tremores e suas pedras no caminho. Todos passamos por provações e as vezes o que precisamos é de tempo pra pensar. Ana me deu esse tempo.

Mas como eu já havia mencionado, de alguma forma sabíamos do que o outro precisa. 

Meu sorriso se amplia quando recordo daquela manhã onde ela simplesmente invadiu o meu quarto dizendo que eu estava atrasado para a faculdade, seu olhar era mandão e ela mordia os lábios, foi uma cena divertida.

O som do violão vai ficando cada vez mais baixo até que finalmente deixo de tocar, bato meus dedos involuntariamente na madeira do violão produzindo assim um som engraçado e ao deixar ele ao lado do sofá noto sua presença, ela estava encostada no batente da porta e mexia no seu lenço dourado e o olhar era meio aerio. Ana mordia levemente sua boca e vê-la caminhar até mim faz com meu coração bata no mesmo ritmo dos seus passos.

Ana: Estava tão concentrado – sentou ao meu lado – Não quis atrapalhar, no que pensava?

Thiago: Em você entrando no meu quarto e mandando eu ir estudar – ela levou a mão até a boca para abafar sua risada – Foi uma cena meio......

Ela dá um leve sorriso como se lembrasse desse dia, Ana estava brava naquela manhã e dizia que se eu não levantasse me daria um banho de água fria. Tão linda e nervosa.

Ana: Sua mãe adorou – reviro os olhos é claro que ela gostou – E no final deu certo, você foi estudar.

Thiago: Era isso ou tomar um banho indesejado né.

Rimos e involuntariamente minha mão foi até seu cabelo onde comecei a mexer nas pontas, o silêncio se fez presente e seus olhos fazia uma pergunta muda. A intensidade de seu olhar mostrava que não havia represália e sim curiosidade, não escondíamos nada um do outro. Até eu esconder meus sentimentos, algo me dizia que ela sabia a resposta para essa pergunta. Mas ela queria que eu falasse. 

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